Não há Milagres ... MST ~ Porto Total, capital do dragão... summary_noimg = 550; summary_img = 450; img_thumb_height = 200; img_thumb_width = 200;

3 de dezembro de 2013

Não há Milagres ... MST

1- O que tem a compra de 50% do passe de Ghilas por 3,7 milhões a ver com a situação actual do FC Porto? Aparentemente não tem nada, mas vejamos com mais cautela, pois os desastres são quase sempre anunciados. É óbvio que Ghilas não vale 7,2 milhões, como Herrera não vale 8 milhões, como Quintero não valia 10 milhões (e agora, desvalorizado e desmotivado por Paulo Fonseca, ainda vale menos). E é obvio também que o Moreirense, ou quem detivesse os direitos sobre Ghilas, não recebeu 3,7 milhões por metade do seu passe, nem nada que se pareça. Uma das principais razões da crónica falência técnica em que vivem os grandes clubes portugueses é a negociata escandalosa à roda das transacções de jogadores. O futebol é o único negócio que eu conheço em que se paga comissões quer na venda, quer na compra, e o único em que as comissões, em vez de serem de 3 a 5%, como nos outros, são normalmente de 15%, mais «despesas». Admitindo que os dirigentes dos clubes não são todos estúpidos, deve haver uma razão muito forte, e talvez inconfessável, para consentirem nisto.

Mas agora não me interessam os outros, interessa-me o meu clube. E, como sabem os meus leitores, desde sempre que denuncio uma politica de contratações que obriga a vender os melhores todos os anos (ainda que bem vendidos, a maior parte das vezes), para poder sustentar o negócio paralelo da compra anual de uma dúzia de jogadores, quase todos sem lugar na equipa e comprados a preços incompreensíveis e com intermédiações inexplicáveis. Quando vendeu, em apenas dois anos, Hulk, Moutinho e James, a SAD do FC Porto sabia muito bem os riscos em que incorria: disso, Paulo Fonseca não tem culpa. A iminente eliminação da Liga dos Campeões, em grande parte às mãos de Hulk (que nos marcou os dois golos sofridos contra o Zenit, tirando-nos 3 pontos) , foi disso um amargo exemplo.

2- Paulo Fonseca também não tem culpa da sua própria escolha, fruto de uma aposta pessoal e de um excesso de auto suficiência de Pinto da Costa. Como muitos outros, também o presidente portista quis acreditar que no FC Porto qualquer treinador pode ser campeão, pois que ali quem mais percebe de futebol é o presidente e é ele quem explica aos treinadores como se faz. Escolhendo, pela terceira vez consecutiva, um treinador sem qualquer experiência de um grande e até sem nenhuma ou quase nenhuma experiência de primeira Liga, e mesmo assim continuando a ganhar campeonatos, Pinto da Costa poupa dinheiro (no que não deve) e acrescenta a sua lenda de visionário. Porém, não há milagres que sempre durem: com Vilas Boas, saiu-lhe a sorte grande, com Vítor Pereira a terminação, e com Paulo Fonseca um bilhete em branco. De caminho, porém, vão sendo destruídas coisas que duraram muito tempo a conseguir e que se tornaram na imagem de marca de um FC Porto vencedor.

O que mais me preocupa não é a derrota contra a Académica, não são os sete pontos perdidos em três jornadas, nem a quase certa eliminação da Champions. Não, o que mais preocupa é o afastamento ou desmoralização de jovens talentos a quem treinadores como Vítor Pereira ou Paulo Fonseca, por medo ou incompetência, não são capazes de valorizar: Atsu, Iturbe, Kelvin, Quintero, etc. É a aposta num futebol de clube pequeno, cheio de cautelas defensivas, desprovido de extremos e autoregalado com números imensos de inútil posse de bola, que afasta o público dos estádios e faz do jogo da equipa um aborrecimento sem fim. E é, sobretudo, a progressiva destruição de um espírito de revolta, de conquista, de orgulho, que, mesmo nos piores momentos, fazia a diferença no FC Porto e atemorizava os adversários. E isso, que esteve notavelmente ausente no jogo de Coimbra e que é intolerável para os adeptos, foi o que desencadeou o tristíssimo episódio do ataque ao autocarro do próprio clube. O FC Porto de Paulo Fonseca, de tão evidentemente mau que é, acabou por instalar um clima de guerra civil dentro do clube: de um lado, os adeptos, que sabem o que é bom futebol e sabem que não tem nada a ver com isto; do outro, a sua SAD e o seu presidente, que não querem, ou não podem, perder a face, admitindo o óbvio.

3- 0 óbvio consiste em várias coisas que os adeptos portistas sabem reconhecer, sem precisar que lhes expliquem. Que o célebre e funesto sistema de jogo do triângulo invertido, que pôs fim a uma cultura de jogo cimentada ao longo de mais de uma década, conduz a coisas tão absurdas como ir jogar a Coimbra - onde não se perdia há 43 anos - com quatro defesas em linha e dois médios defensivos para fazer face a um só atacante adversário - e manter o esquema mesmo depois de estar a perder. Conduz a que já ninguém, do meio-campo para a frente, saiba o que o treinador quer dele: Lucho não sabe se é segundo ponta-de-lança, médio ofensivo ou médio defensivo; Josué não sabe se é extremo, médio de ataque ou trinco, tal como Defour; Licá não sabe se é extremo ou ponta-de-lança; Quintero não sabe se deve jogar sobre o centro ou sobre os flancos, recuado ou adiantado, e etc. Ninguém sabe como e quem deve marcar os livres e os cantos - acabando estes, contra todas as regras do bom-senso, a ser marcados à direita por destros e à esquerda por canhotos. Ninguém sabe como atacar sem extremos e, em consequência, grande parte dos ataques consistem em passes longos e directos da defesa ou no clássico chuveirinho, quando já se esgotaram todas as fracas alternativas. Tendo conscientemente prescindido dc extremos, que não se encaixam no seu sistema; afirmando que Quintero precisa de se integrar num pensamento colectivo, logo descaracterizando-o e desmotivando-o; insistindo em apostas condenadas ao falhanço, como Defour e Varela, Paulo Fonseca admira-se depois que Jackson Martinez não marque tantos golos como ele esperava e afirma, com toda a ignorância do mundo, que só falta a finalização para a equipa estar «quase perfeita». É evidente que ele não sabe onde caiu e não está à altura do desafio. Basta, aliás, ver as suas expressões de total impotência no decurso dos jogos, sempre com aquele adjunto a fazer esquemas no papel e a bichanar-lhe coisas aos ouvidos, para se perceber que Paulo Fonseca é como um grumete a quem, depois de mortos todos os oficiais, coube o papel de comandante do navio. Jamais avistará terra.

4- Aqui chegados, só há uma de duas soluções: ou Pinto da Costa engole o orgulho ferido e reconhece que se enganou na escolha do treinador e assumiu demasiados riscos vendendo os jogadores que faziam a diferença, ou vai insistir na sua solução até que o próprio Paulo Fonseca lhe ofereça a demissão numa bandeja. Pode ser já no próximo jogo contra o Braga, se novo desaire acontecer, ou pode demorar ainda meses, se uma ou outra vitória servir para iludir o óbvio. O pior de tudo é chegarmos a um ponto onde os adeptos acabam a desejar que as coisas corram mal para que o treinador se vá embora.

Se eu pudesse escolher, escolhia a solução radical e já. Porque acho que tudo deve levar um abanão, não apenas a direcção técnica da equipa, mas também a cultura de gestão instalada (apesar dos 70 milhões com a venda de Moutinho e James, o FC Porto, fechou as contas da época anterior apenas com 20 milhões de lucro, e no primeiro trimestre da nova época já acumulou 10 de prejuízo: isto não é sustentável). Na parte técnica, cortava também com o passado recente e ia buscar um treinador estrangeiro, com provas dadas e não influenciável pelas capelinhas internas ou pela imprensa lisboeta, que, nada inocentemente, vive a valorizar os maus jogadores do FC Porto e a desqualificar os bons. Alguém com o perfil dos saudosos Bobby Robson ou Carlos Alberto Silva. Alguém para quem o futebol é uma ciência simples: jogam os melhores, nas suas posições naturais, e o objectivo é ganhar jogos e trazer gente ao estádio.