Um empatezinho em Alvalade ~ Porto Total, capital do dragão... summary_noimg = 550; summary_img = 450; img_thumb_height = 200; img_thumb_width = 200;

2 de janeiro de 2014

Um empatezinho em Alvalade

1- Leonardo Jardim tem razão: em Alvalade, anteontem, viu-se uma coisa raramente vista nos últimos anos, a nível nacional: um FC Porto recolhido, à defesa e dominado - não em todo o jogo, como disse o treinador do Sporting, mas em grande parte dele: dos 20 aos 35 minutos da primeira parte e dos 20 até final da segunda parte. O FC Porto teve uma oportunidade real de golo, logo a abrir, o Sporting teve quatro ou cinco, todas paradas por Fabiano Freitas. Não direi que o Sporting mereceu ganhar porque Fabiano não mereceu perder e o guarda-redes também faz parte da equipa. Mas, como costuma dizer-se, a haver um vencedor, só podia ser o Sporting. Houve até momentos do jogo em que me senti transportado às funestas décadas de 60 e 70, quando o FC Porto vinha a Lisboa servir de bombo da festa. E claro que não fiquei mais descansado ao ouvir o treinador do meu clube afirmar que um empate em Alvalade é um bom resultado. Até pode selo, mas não com o espírito e o futebol dos anos sessenta do século XX. Espero bem que não tenhamos de nos habituar a regressar ao passado.

Isto, porém, não tira o mérito a Leonardo Jardim, que, com um elenco de jogadores bem mais fraco, mostrou ter uma equipa bem mais preparada, inteligente e combativa. O Sporting fez o melhor jogo que lhe vi fazer esta época e, por mais que me custe reconhecê-lo, encostou o Porto às cordas em longos períodos do jogo. É certo que ainda não foi à quarta tentativa que conseguiu derrotar um dos seus outros dois rivais e que, numa poule em que o sorteio o beneficiou largamente, não tirou partido da vantagem de jogar em casa com o rival directo, nem tirou partido do menor cansaço acumulado pelos seus jogadores. Mas fez o que se lhe exigia: tirando a entra da inicial em cada uma das metades do jogo, jogou para ganhar e não teve medo de o fazer.

Já Paulo Fonseca, satisfeito com o resultado, reconheceu as «cautelas» que tinha lido e a «inoperância ofensiva» de que a sua equipa deu mostras todo o tempo. De facto, não há como desmentir o que todos viram: as «cautelas» manifestaram-se no regresso ao tal de triângulo invertido, com o qual Paulo Fonseca espera importar com sucesso para o bicampeão nacional a escola Paços de Ferreira. E só não resultaram em pleno porque Herrera — a carta surpresa que ele trazia preparada - se revelou um permanente susto a errar passes na zona proibida do terreno, assistindo persistentemente o contra-ataque do Sporting. Quanto à «inoperância ofensiva», outra coisa não era de esperar quando se insiste em franqueadores tão inoperantes, tão irrelevantes, como Licá e Varela. Espero que o Pai Natal tenha dado dois sistemas de DVD à equipa do FC Porto: um, para Paulo Fonseca, para ele poder rever a fantástica inutilidade de Varela (caramba, até na ajuda à defesa ele só atrapalhou e assustou!); e outro para Defour, para que ele, depois de se rever em jogo, diga que atributos é que acha que o qualificam para ser titular e quem, em sua opinião, deveria sair para dar lugar ao seu ofuscante brilho.

Mas nem tudo foi negro para o azul e branco. Confirmámos que está mais do que na hora de Fabiano substituir Helton na baliza: por muito menos do que se vê agora, Helton substituiu Vítor Baía, no reinado de um holandês louco. Mas, ao escrever isto, sei muito bem que isso não vai acontecer com Paulo Fonseca: jogador suplente que desafia um titular, apenas confirma um lugar no banco de suplentes. Foge dos esquemas, das escolhas e das estratégias do treinador e, portanto, está condenado ao degredo. Também a defesa e Fernando estiveram muito bem, aguentando sozinhos o peso de uma equipa que mudou toda a sua maneira de ser, deixando de ser uma equipa naturalmente de ataque, para passar a ser uma equipe de posse de bola essa muleta teórica e saloia que não é mais do que uma lição mal aprendida com o futebol que Pep Guardiola inventou para o FC Barcelona. Não sei se Pinto da Costa actualmente tem tempo e paciência para se ocupar destas minudências, mas, se o tem ainda, tal vez não fosse má ideia um dia destes chamar de parte Paulo Fonseca e, como quem não quer a coisa, dizer-lhe: «Ó homem, deixe lá de se louvar dos 55% de posse de bola em Alvalade! Eles tiveram cinco oportunidades de golo e nós uma: está ver a diferença?»


2- Duas notas ainda sobre o jogo de Alvalade: uma sobre a arbitragem, outra sobre os comentários na TVI. Sobre a arbitragem de um árbitro malquerido por ambos, é fatal que alguém do Sporting vai descobrir três penalties contra o Porto por assinalar e duas jogadas de golo iminente do Sporting cortadas por offsides inexistentes. Mas isso é tão banal que já ninguém liga, só eles. Olegário Benquerença teve uma arbitragem perfeita tecnicamente e sem qualquer interferência no desfecho do jogo: nos tempos de eterna desconfiança que se vivem, já é imenso. Porém, não foi equilibrado, do ponta de vista disciplinar. O cartão amarelo a Danilo aos 14 minutos, e ainda por cima por uma falta simulada, foi um erro e um exagero, mesmo que estivesse convencido da falta; o segundo amarelo e vermelho a Carlos Eduardo, sendo o primeiro por supostas palavras, foi outro exagero; em contra-partida, o amarelo a William Carvalho, ao ceifar Varela com uma entrada por trás, foi de uma enorme generosidade.

Quanto aos comentários de Dani, na TVI, recomendo-lhe um pouco mais de contenção nas suas preferências. Ele tem, obviamente, o direito de torcer pelo Sporting, mas, para fazê-lo, o seu lugar é na bancada e não no comentário. Ao ouvi-lo, parecia que, do primeiro ao último minuto, nada mais se passou do que uma equipa de sonho a esmagar um grupo de amadores. E a insistência em querer um cartão amarelo para cada falta cometida por um portista, com o argumento de que todas elas evitavam que o Sporting tirasse partido de um «desequilíbrio» nas hostes portistas, que prenunciava um contra-golpe fatal (incluindo até uma falta ofensiva dentro da área do Sporting), foi um bocado... como dizer... demasiado ostensiva. Mas a suprema ironia foi afirmar que, com menos um jogador, o FC Porto tinha mais hipóteses de criar perigo, explorando... «a velocidade de Varela»!

3- Foi um clássico anormal pela ausência de provocações prévias de parte a parte. E, até à hora a que escrevo, não tomei conhecimento de nenhum comunicado dos Calimeros a queixarem-se de forças obscuras que fizeram com que Fabiano Freitas tivesse impedido a vitória do Sporting.

Mas, de véspera, li, no Expresso, mais uma interessante entrevista do presidente sportinguista, a propósito de um qualquer plano de reestruturação do futebol português que ele terá entregue ao governo e à Assembleia da República, na esperança de que os queixumes do Sporting se possam transformar em lei, ditada pelo Sporting. Não conheço o plano salvador e portanto estou apenas a discorrer com base no que li sobre ele, na entrevista do Expresso. Sobre a necessidade de travar os lucros indecoroso dos mal-chamados empresários, tem mais do que toda a minha compreensão e aplauso, como já aqui o escrevi. Sobre o restante, concluí que ele, reiterando ter vergonha de habitar no mundo do futebol, acha, toda via, que, em consequência, a sua missão é continuar lá: Brune de Carvalho foi enviado por Deus,no ano da graça de 2013, para cumprir a sagrada missão de tornar o futebol português «transparente». Coisa que, concluí também, só acontecerá quando o Sporting for campeão vários anos de seguida: se não no terreno de jogo, ao menos por lei da Assembleia ou decreto do governo. A fidalguia é isto mesmo: um direito de berço.

abola