1- Quando tudo já parecia tremendamente negro, dois magníficos cabeceamentos de Cristiano Ronaldo, seguidos da execução feliz de um livre, recolocaram Portugal na rota do Mundial do Brasil. Felizmente que os jogadores — alguns deles — não levaram à letra as afirmações do seu seleccionador, Paulo Bento, quando, nas vésperas dos jogos contra o Azerbaijão, a Rússia e a Irlanda do Norte, resolveu declarar que nenhum deles era decisivo. Eram-no todos: e foram as três vitórias arrancadas a ferros nesses três jogos que nos reabriram uma porta que parecia já fechada. Ainda não estamos lá, mas o segundo lugar e o play-off já dependem só de nós e o primeiro lugar e consequente apuramento directo estão ao alcance de uma pequena escorregadela dos russos - desde que não falhemos a parte que nos toca, nos dois derradeiros desafios.
Poder-se-á dizer que, mais uma vez, andámos sobre o fio da navalha, correndo riscos que eram desnecessários. Não estou inteiramente de acordo: considero que a Selecção não é tão boa como se pretende fazer crer e que não seria previsível uma campanha tranquila. Aliás, estou de acordo com Vítor Serpa, que escreveu que, em especial no meio-campo, nota-se, nos indiscutíveis de Paulo Bento, um desgaste futebolístico, que se traduz num sistemático jogo defensivo de lateralização e lentidão, sem risco e sem rasgo.
(Achei engraçado que, dias antes, Vítor Serpa tivesse contestado a minha ideia de que os treinadores portugueses, como Jesus e Paulo Fonseca, gostam de fazer esperar os talentos emergentes, como Markovic e Quintero, à porta da entrada das suas equipas para assim afirmarem o valor das suas ideias próprias, sempre a favor dos eleitos por antiguidade. Mas, numa situação semelhante na Selecção, é o próprio Vítor Serpa que, afinal, acaba a criticar o «conservadorismo» de Paulo Bento).
De facto, também aqui penso que está na hora de Paulo Bento se atrever a rever algumas ideias e nomes feitos. Eu sei, porém, que isso será tão menos provável quanto mais os resultados o não exigirem. Mas, como em tudo o resto, na vida, deve mudar-se antes e não depois de as coisas se tornarem evidentes e irremediáveis — «quem sabe, faz a hora; não espera acontecer.»
É verdade que estamos já quase com um pé no Mundial, e isso era o principal. Mas não vi, ao longo da qualificação, um só jogo em que a Selecção, já não digo entusiasmasse com o seu futebol, mas desse, ao menos, sinais claros de uma confiança e saber fazer que a todos convencesse.
Para além de todos os inconvenientes que o jogo de hoje à noite, em Boston, contra o Brasil, acarreta para os nossos clubes com compromissos internacionais já no fim-de-semana {uma velha história que um dia acabará em conflito sério entre Selecções e clubes), o jogo vai ser uma boa ocasião para ver como se poria a Selecção portuguesa face a um adversário do pote dos favoritos. Esperemos que o Neymar que jogou contra a Austrália nos dê uma folga...
2- Segunda-feira passada, estava a escrever o meu texto para enviar para A BOLA e ia seguindo na net os últimos desenvolvimentos do último dia da época de transferências na Europa. No que aos portistas diz respeito, este último dia tinha-se revelado fatídico em anos anteriores. Ainda na época passada foi assim que, até contra a vontade do próprio e contra as declarações de Pinto da Costa, Hulk acabou vendido ao Zenit de S. Petersburgo, nos últimos minutos do prazo e por 40% da sua cláusula de rescisão. Pois, segunda-feira à tarde, dia 2, os sites desportivos noticiavam a possível saída de Varela para Inglaterra e a iminente venda de Fernando ao Everton por 18 milhões de euros. Eram especulações que já vinham de trás, mas agora com um tom de desfecho iminente. Ao ouvi-las pela primeira vez, eu apostara aqui que nenhuma delas se concretizaria. E porquê? Porque estava e estou seguro que não é a minha visão que está deturpada e que ninguém mais me acompanha, quando sustento que Fernando, Varela e Defour são os três elementos mais fracos do plantel portista e que nenhum deles, em minha opinião, tem lugar no onze titular. E, como estou certo de não ser o único que assim vê, também estava certo que, independentemente das notícias que fossem saindo em contrário (algumas delas, obviamente, colocadas), na hora da verdade, ninguém se chegaria à frente pelo menos, com números minimamente aceitáveis. Pensar que algum clube estivesse disposto a dar 18 milhões pelo Fernando e mantivesse a oferta depois das suas últimas exibições era verdadeiramente confiar na taluda.
E é claro que a taluda não aconteceu. Fernando, Varela, Kleber, Izmailov, enfim, todos os jogadores que eu não me importaria de ver partir, ficaram, por falta de ofertas. Já alguns dos bons — Moutinho, James, Atsu, esses, foram vendidos - muito bem nos dois primeiros casos, desastrosamente no caso de Atsu. Por acréscimo, tivemos também a triste notícia de novo empréstimo de Iturbe, a quem, mais uma vez, um treinador portista não se dispõe a acreditar, dando-lhe oportunidades sérias de mostrar o que vale. É, sem dúvida, um mistério, quando tanta e tanta gente, incluindo companheiros de treino, juram que ele é um talento pronto a explodir. Parece-lhe reservado o mesmo destino de Atsu: sair por tuta e meia, depois de desaproveitado pelo clube.
Mistério ainda é que Paulo Fonseca tenha acrescentado também Kelvin à lista dos descartáveis, excluído da Champions e remetido ao estatuto de jogador da equipa B. Vai ser um 4x3x3 reduzido a três extremos de raiz: Licá (esse, sim, aproveitando bem as oportunidades que lhe têm sido concedidas), Ricardo (que apenas se mostrou em 20 bons minutos do último jogo) e o incontornável Silvestre Varela, que eu desespero a ver jogar.
Em boa verdade, e mais uma vez, bem teria eu passado sem o último dia de transferências. Sem nenhuma venda de última hora, não deixou de ser um dia em que, por via dos empréstimos e das exclusões, considero que a equipa ficou mais fraca.
3- Em contrapartida, e contra todos os anúncios feitos ao longo de meses, o Benfica acabou por não vender ninguém. Podem vir agora os defensores habituais da linha oficial do Benfica dizer que Vieira resistiu a todas as ofertas para não enfraquecer a equipa — e, dessa forma pouco subtil, atirarem toda a responsabilidade daquilo que de mal possa vir a acontecer para os ombros de Jorge Jesus. Se Jesus perder, a culpa será só sua, que não soube aproveitar um plantel de luxo; se ganhar, o mérito é de Vieira, que não deixou sair ninguém é ainda o reforçou muito. A verdade, porém, é que Vieira precisava, e muito, de ter vendido. Não o tendo feito, vai ter uma gestão de risco ao longo de toda a época. Quanto a Jorge Jesus, e também ao contrário de apressadas afirmações de que estaria em causa o seu orgulho, a sua autoridade e até a dignidade do clube, ele até engoliu a continuidade de Cardozo — que de renegado passa agora a naturalmente reintegrado, por mérito próprio. E lá estava a camisola número 7 à espera dele...
abola
Poder-se-á dizer que, mais uma vez, andámos sobre o fio da navalha, correndo riscos que eram desnecessários. Não estou inteiramente de acordo: considero que a Selecção não é tão boa como se pretende fazer crer e que não seria previsível uma campanha tranquila. Aliás, estou de acordo com Vítor Serpa, que escreveu que, em especial no meio-campo, nota-se, nos indiscutíveis de Paulo Bento, um desgaste futebolístico, que se traduz num sistemático jogo defensivo de lateralização e lentidão, sem risco e sem rasgo.
(Achei engraçado que, dias antes, Vítor Serpa tivesse contestado a minha ideia de que os treinadores portugueses, como Jesus e Paulo Fonseca, gostam de fazer esperar os talentos emergentes, como Markovic e Quintero, à porta da entrada das suas equipas para assim afirmarem o valor das suas ideias próprias, sempre a favor dos eleitos por antiguidade. Mas, numa situação semelhante na Selecção, é o próprio Vítor Serpa que, afinal, acaba a criticar o «conservadorismo» de Paulo Bento).
De facto, também aqui penso que está na hora de Paulo Bento se atrever a rever algumas ideias e nomes feitos. Eu sei, porém, que isso será tão menos provável quanto mais os resultados o não exigirem. Mas, como em tudo o resto, na vida, deve mudar-se antes e não depois de as coisas se tornarem evidentes e irremediáveis — «quem sabe, faz a hora; não espera acontecer.»
É verdade que estamos já quase com um pé no Mundial, e isso era o principal. Mas não vi, ao longo da qualificação, um só jogo em que a Selecção, já não digo entusiasmasse com o seu futebol, mas desse, ao menos, sinais claros de uma confiança e saber fazer que a todos convencesse.
Para além de todos os inconvenientes que o jogo de hoje à noite, em Boston, contra o Brasil, acarreta para os nossos clubes com compromissos internacionais já no fim-de-semana {uma velha história que um dia acabará em conflito sério entre Selecções e clubes), o jogo vai ser uma boa ocasião para ver como se poria a Selecção portuguesa face a um adversário do pote dos favoritos. Esperemos que o Neymar que jogou contra a Austrália nos dê uma folga...
2- Segunda-feira passada, estava a escrever o meu texto para enviar para A BOLA e ia seguindo na net os últimos desenvolvimentos do último dia da época de transferências na Europa. No que aos portistas diz respeito, este último dia tinha-se revelado fatídico em anos anteriores. Ainda na época passada foi assim que, até contra a vontade do próprio e contra as declarações de Pinto da Costa, Hulk acabou vendido ao Zenit de S. Petersburgo, nos últimos minutos do prazo e por 40% da sua cláusula de rescisão. Pois, segunda-feira à tarde, dia 2, os sites desportivos noticiavam a possível saída de Varela para Inglaterra e a iminente venda de Fernando ao Everton por 18 milhões de euros. Eram especulações que já vinham de trás, mas agora com um tom de desfecho iminente. Ao ouvi-las pela primeira vez, eu apostara aqui que nenhuma delas se concretizaria. E porquê? Porque estava e estou seguro que não é a minha visão que está deturpada e que ninguém mais me acompanha, quando sustento que Fernando, Varela e Defour são os três elementos mais fracos do plantel portista e que nenhum deles, em minha opinião, tem lugar no onze titular. E, como estou certo de não ser o único que assim vê, também estava certo que, independentemente das notícias que fossem saindo em contrário (algumas delas, obviamente, colocadas), na hora da verdade, ninguém se chegaria à frente pelo menos, com números minimamente aceitáveis. Pensar que algum clube estivesse disposto a dar 18 milhões pelo Fernando e mantivesse a oferta depois das suas últimas exibições era verdadeiramente confiar na taluda.
E é claro que a taluda não aconteceu. Fernando, Varela, Kleber, Izmailov, enfim, todos os jogadores que eu não me importaria de ver partir, ficaram, por falta de ofertas. Já alguns dos bons — Moutinho, James, Atsu, esses, foram vendidos - muito bem nos dois primeiros casos, desastrosamente no caso de Atsu. Por acréscimo, tivemos também a triste notícia de novo empréstimo de Iturbe, a quem, mais uma vez, um treinador portista não se dispõe a acreditar, dando-lhe oportunidades sérias de mostrar o que vale. É, sem dúvida, um mistério, quando tanta e tanta gente, incluindo companheiros de treino, juram que ele é um talento pronto a explodir. Parece-lhe reservado o mesmo destino de Atsu: sair por tuta e meia, depois de desaproveitado pelo clube.
Mistério ainda é que Paulo Fonseca tenha acrescentado também Kelvin à lista dos descartáveis, excluído da Champions e remetido ao estatuto de jogador da equipa B. Vai ser um 4x3x3 reduzido a três extremos de raiz: Licá (esse, sim, aproveitando bem as oportunidades que lhe têm sido concedidas), Ricardo (que apenas se mostrou em 20 bons minutos do último jogo) e o incontornável Silvestre Varela, que eu desespero a ver jogar.
Em boa verdade, e mais uma vez, bem teria eu passado sem o último dia de transferências. Sem nenhuma venda de última hora, não deixou de ser um dia em que, por via dos empréstimos e das exclusões, considero que a equipa ficou mais fraca.
3- Em contrapartida, e contra todos os anúncios feitos ao longo de meses, o Benfica acabou por não vender ninguém. Podem vir agora os defensores habituais da linha oficial do Benfica dizer que Vieira resistiu a todas as ofertas para não enfraquecer a equipa — e, dessa forma pouco subtil, atirarem toda a responsabilidade daquilo que de mal possa vir a acontecer para os ombros de Jorge Jesus. Se Jesus perder, a culpa será só sua, que não soube aproveitar um plantel de luxo; se ganhar, o mérito é de Vieira, que não deixou sair ninguém é ainda o reforçou muito. A verdade, porém, é que Vieira precisava, e muito, de ter vendido. Não o tendo feito, vai ter uma gestão de risco ao longo de toda a época. Quanto a Jorge Jesus, e também ao contrário de apressadas afirmações de que estaria em causa o seu orgulho, a sua autoridade e até a dignidade do clube, ele até engoliu a continuidade de Cardozo — que de renegado passa agora a naturalmente reintegrado, por mérito próprio. E lá estava a camisola número 7 à espera dele...
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