NÃO HÁ QUEM SAIBA MARCAR UM PENALTY? ~ Porto Total, capital do dragão... summary_noimg = 550; summary_img = 450; img_thumb_height = 200; img_thumb_width = 200;

6 de agosto de 2013

NÃO HÁ QUEM SAIBA MARCAR UM PENALTY?

1- Os ingleses, que inventaram o futebol, continuam a acreditar que o principal objectivo do jogo é chegar ao golo. Por isso, em Inglaterra, as equipes jogam abertas e a procura do golo é constante. E, por isso, os estádios ingleses estão sempre cheios e as transmissões televisivas dos seus jogos são vistas no mundo inteiro. O FC Horto tem, sobre isso, uma lição recente, nos dois anos de Vítor Pereira à frente da equipa: ganhou, sim, dois campeonatos, mas o Dragão perdeu 20% dos seus espectadores habituais, entediados com aquele jogo de grande segurança defensiva e posse e mais posse de bola, sem o golo no horizonte. Sem dúvida que eu, e todos os portistas, esperamos que a lição tenha sido aprendida.

Porém, convidado para a prestigiada Emirates Cup, em Londres - onde as regras, atribuindo 3 pontos por vitória, mais 1 por golo marcado, foram desenhadas exactamente para promover o futebol de ataque, os golos e o espectáculo -, o FC Porto, de Paulo Fonseca, abriu a sua participação no torneio como se nada tivesse aprendido. Bem pode o novo treinador portista louvar-se da solidez defensiva (que foi um facto) e lamentar-se com os penalties falhados para justificar a derrota inaugural contra o Galatasaray. Mas o que mais fica é isto: em 90 minutos, a equipa criou apenas três oportunidades de golo, duas das quais de penalty. E, numa primeira parte em que esteve quase sempre por cima e dispôs da tal posse de bola tão louvada, não teve atitude para ir logo ali em busca do resultado, resguardando-se para o resto do jogo.

Não quero ser demasiado crítico com a equipa, numa fase que ainda é de experiências e em que os fracassos têm de ser perdoados. Mas fiquei apreensivo com aquele tipo de jogo, aparentemente voltando a desmentir, como já sucedera contra o Celta de Vigo, as excelentes indicações deixadas na digressão sul-americana. E fiquei apreensivo por desconfiar que, depois do grande e necessário reforço operado no meio-campo — em especial,com as aquisições de Herrera, Quintero e Josué —, se esteja a preparar um miolo em que tudo ficaria igual, para pior: Lucho com lugar cativo, mesmo quando totalmente desinspirado; Fernando também com lugar cativo mesmo continuando a abusar de faltas desnecessárias que resultam em livres e penalties que custam golos; e Defour na impossível tarefa de fingir que é Moutinho. Seria um desperdício e um desastre. E o mesmo se, depois de ter reintegrado e bem o Iturbe, de ter reforçado e bem a aposta no Kelvin, e de ter descartado, sem proveito algum, o Atsu, tivéssemos de levar com nova época do Varela, a arrastar os pés, num flanco sempre reservado para si. Seria um absurdo incompreensível que, seguindo a política habituai de vender dois jogadores determinantes por época, indo comprar uma dúzia em troca, se chegasse ainda à conclusão que todos os doze só servem para suplentes. O que eu temo exactamente não é que Paulo Fonseca leve uma época inteira a apostar em alguns jogadores só porque vêm de trás e eram os habituais, não dando verdadeiras hipóteses aos novos de se mostrarem. Mas temo que alguma juventude e falta de curriculum a este nível o levem a uma reverência desse tipo inicialmente e até que os resultados o obriguem a mudar de
apostas. Espero que os meus temores não tenham razão de ser e que Paulo Fonseca tenha a coragem de apostar de entrada naqueles que acha melhores para os seus objectivos, sem nenhuma concessão a nomes e antiguidades.

2- E isto vale, por exemplo e desde logo, para a inacreditável história dos penalties. Paulo Fonseca sabe que equipas como o FC Porto e o Benfica, que são quem mais ataca e mais golos marca, são também, e em consequência, aquelas que de mais penalties dispõem ao longo de uma época — entre 8 a 12, no campeonato. Sabe igualmente que muitas vezes, contra equipas completamente fechadas, o penalty acaba por ser a chave do jogo. E sabe ainda que, enquanto que o Benfica apenas desperdiçou um penalty no campeonato anterior, o FC Porto desperdiçou cinco em oito de que dispôs e ia perdendo o título exactamente por isso. Reincidir na escolha de jogadores que já demonstraram exuberantemente não terem características para marcadores de penalties, apenas porque eles se chamam Lucho ou Jackson Martinez, é pôr os jogadores à frente do interesse da equipa, arriscar desfechos como o de Londres e minar a própria autoridade do treinador junto da equipa. Para já, foi (quase) a feijões, mas como seria se tem acontecido num Benfica-Porto ou num jogo, da Champions?

Quando se sabe, marcar penalties é o gesto técnico mais fácil do futebol. Simplesmente, há jogadores que , ou não sabem ou não tem a concentração e calma suficientes na hora de rematar. Isso nada retira à sua qualidade como jogadores: grandes nomes do futebol não cobram penalties, porque há quem o faça melhor do que eles na equipa - e a equipa deve estar sempre em primeiro lugar. Insistir para que Lucho ou Jackson cobrem penalties, só porque são quem são na equipa, ou insistir para que o Defour cobre livres ou cantos (que, manifestamente, não sabe), só para fingir que ele consegue substituir o Moutinho, não é apenas um erro de casting: é um suicídio a prazo.

3- 0 futebol dura dez ou onze meses e as férias duram duas ou três semanas. Perder um dia de praia para ver um jogo de futebol foi uma decisão difícil, que fiz por dever de ofício. Mas, depois de ter visto o jogo contra o Galatasaray e de ter acordado na manhã seguinte com vento sul, deixando antever um grande dia de praia, já não fiquei em casa para ver o Porto contra o Nápoles. Afinal, ganhámos 3-1 e, não fosse a forma displicente como Lucho cobrou aquele penalty contra os turcos, teríamos acabado por ganhar o torneio! Remetido assim às crónicas do jogo, fiquei a saber que o Fernando ofereceu mais um penalty que deu em golo, que o Varela fez mais uma exibição à Varela e que o Quintero e o Herrera, tendo confirmado as suspeitas de que são dois grandes jogadores em potência, terão, segundo os cronistas, o seu futuro próximo assegurado: um, como suplente do Defour; o outro, talvez saindo da sua posição natural para ir jogar a extremo, destronando o Kelvin e o Iturbe. Assim se respeitará o quarteto intocável: Lucho, Fernando, Varela e Defour. Será mesmo assim? Não, não acredito. Acredito sim que Paulo Fonseca veio para triunfar.

4- O Real Madrid quer à viva força roubar o Bale ao Tottenham e o Nápoles quer roubar o Jackson ao FC Porto, para preencher o vazio da venda do Cavani ao PSG. Mas, como não querem pagar o valor das cláusulas de rescisão, seguem a estratégia mafiosa de primeiro seduzirem o jogador e o seu agente, a quem oferecem contratos milionários, e depois esperar que eles façam o resto do trabalho: começarem a dizer que se querem ir embora e tornarem-se elementos de destabilização dentro da equipa, com o objectivo final de levar os seus clubes à decisão do mal menor, vendendo pelo preço que os tubarões querem. O Real Madrid já é useiro e vezeiro nestas práticas, convencido como está de que é um clube imperial, a quem tudo é permitido. E pode fazê-lo porque a UEFA, que este ano introduziu uma coisa chamada fair-play desportivo, assiste a estas manobras assobiando para o ar.

5- Fiquei deveras impressionado com a quantidade de sportinguistas e benfiquistas que se indignaram porque o golo do FC Porto ao Celta de Vigo, no jogo de apresentação da equipa, foi obtido em fora-de-jogo e porque o Kelvin, segundo eles, devia ter sido expulso e não foi. Nem em férias eles se esquecem dos velhos hábitos, não percebendo que assim demonstram a importância que nos dão e o temor que nos têm! A mim, jamais me passaria pela cabeça gastar duas linhas com os erros de arbitragem dos jogos de preparação deles. Aliás, devo até confessar que não me dei sequer ao incómodo de ver algum, do Benfica ou do Sporting. Li que ambos têm uma grande equipa e folgo em sabê-lo. Quando começar a sério, logo me incomodarei a verificá-lo.

a bola