De longe vê- se melhor ~ Porto Total, capital do dragão... summary_noimg = 550; summary_img = 450; img_thumb_height = 200; img_thumb_width = 200;

27 de agosto de 2013

De longe vê- se melhor

                                       

1- Há muitos anos, creio que em 77 ou 78, quando da minha segunda viagem ao Brasil, estava a fazer caça submarina em Angra dos Reis, na companhia de uns amigos e num domingo decisivo para o FC Porto. Jogava-se um Benfica-Porto na Luz, e, para os portistas (orientados por José Maria Pedroto), não perder era determinante em termos de pontos, de classificação, e, sobretudo, psicológicamente - para conseguir manter-se na luta pelo título e continuar a alimentar esperanças de por fim a um longo jejum de 18 anos. Assim, eu estava dividido entre o relato do jogo, que se alcançava na onda curta da RDP, escutada no rádio de bordo do barco que nos dava apoio, e uma fantástica manhã de mergulho e pesca, em águas quentes que dispensavam o fato de borracha e onde os peixes eram tão lentos para o que eu estava habituado que, praticamente, era cada tiro, cada garoupa. Caçava uns dez minutos, sem me afastar muito do barco, e depois vinha até ele para escutar cinco minutos de relato. E, ao contrário das garoupas, golos na Luz nada. O jogo chegou ao fim com 0-0, eu suspirei de alivio, pude concentrar-me por inteiro no mergulho e, passados uns quatro meses, o FC Porto era campeão. Foi o princípio de uma linda história que dura até hoje e, por isso, também, nunca me esqueci desse jogo.

Este fim-de-semana, agradecendo aos novos horizontes de comunicação planetária, pude seguir numa pequena vilória no estado da Bahia, o jogo do FCP contra o Marítimo, em directo, com imagem e ao vivo no computador, a partir de um desses sites de futebol a que basta ligarmo-nos na net (First Row Now). Confesso que não entendo bem como: como é que posso ver o Jogo sem ser subscritor do site, sem pagar nada a ninguém e sem saber sequer a quem pertencem os direitos de transmissão? Não entendo, mas agradeço.

2- Em contrapartida, tendo de há muito esquecido a minha password para acesso à A Bola online, vi-me restringido a ler apenas as primeiras páginas de cada edição da semana passada. Mesmo assim, chegou-me para ficar a saber que:

- Contra todas as expectativas, o Sporting ganhou o processo Bruma, na Comissão Arbitral Paritária da liga. Não li o acórdão nos seus fundamentos, apenas li que a Comissão julgou que não se aplicavam ao caso nem as normas da FIFA, nem as da FPF. Temos, pois, que o Sporting e a Liga descobriram o ovo de Colombo que permite firmar contratos com jogadores juvenis para além dos 18 anos: basta fazer um aditamento ao contrato, prolongando-o. Tenho bem presente tudo o que o Eduardo Barroso escreveu sobre a ingratidão do jogador, e que subscrevo. E reafirmo que não gostava de ver o Bruma no FC Porto e não vou ver. Mas acho o golpe jurídico extraordinário de despudor mais ainda tratando-se de um jogador a quem o clube paga 13.000 euros por ano, mas a quem fez assinar uma cláusula de rescisão de 30 milhões. O que esperavam que ele fizesse?

- Bem diferente é a ambiguidade crescente de Jackson Martinez. Declarou ele a uma televisão colombiana que não sabia que mais teria a ganhar ou a jogar no FC Porto. Dá-me ideia que anda deslumbrado e também desmemoriado: já não se lembra que ainda há um ano vegetava num modesto clube mexicano de Chiapas, onde já era uma sorte conseguir chegar aos treinos sem ser morto ou raptado na rua por um dos cartéis da droga que governam o México? Não sabe o que mais ganhar? Olhe, tudo - conforme o objecto social do clube. E nao sabe que mais jogar? Olhe, mais quatro anos de contrato. Não foi isso que assinou - maior, vacinado e de livre vontade?

- Em contrapartida, li que Bruno de Carvalho afirmou ter-lhe sido oferecido o Atsu, do FC Porto, mas que ele recusou «por uma questão de carácter». De «carácter»? E qual era o salário que o Atsu pretenderia que o Sporting lhe pagasse? E estariam dispostos a começar a pagar agora, para o segurar, e esperar um ano por ele? Estou mesmo a ver... Mas quem é que o presidente do Sporting acha que vai acreditar nesse seu gesto de cavalheiro?

- Para o Benfica chegou ainda o tal de Funes Mori, o jogador mais desconsiderado da Argentina. Pode ser que, de facto, a fama não corresponda à realidade, mas não se livrou do ritual obrigatório: declarar à Benfica TV que, antes de ser resgatado pelo Benfica ao desprezo a que estava votado na Argentina, recusou um convite do FC Porto. Ó, Funes, tu, que não tinhas onde cair Mori, recusaste o FCP? Deves ser esperto, carago!

3- Sempre online, vi que o Sporting enfiou quatro à Académica, em Coimbra. Dois golos de penalty, uma expulsão e um segundo golo (sempre determinante) em jogada construída em off-side. Sou capaz de jurar que desta vez não houve comunicados oficiais contra a arbitragem e que vai uma euforia leonina lá pelo reino. Ainda bem: todos nós, portistas, esperamos que duas vitórias moralizadoras a abrir o campeonato sejam a poção mágica para vergar o Benfica, já de seguida. Sem menosprezo pelos sportinguistas e as suas esperanças, ficamos mais tranquilos se ganharem ao Benfica...

4- Online ainda, vi a segunda parte do Benfica contra o Gil e, como todos os portugueses, estive a dois minutos de ver o Benfica perder o campeonato à segunda jornada. Mas a verdade é que, com excepção da parte final da época passada, eu já conheço de cor os finais salvadores do Benfica: só me admira é que os adversários ainda não os conheçam e que não sejam capazes de manterem a concentração e a lucidez por mais cinco minutinhos! Enfim, lá se salvou o lugar e a carreira de Jorge Jesus e, quem sabe até, o destino de Luís Filipe Vieira à frente do Benfica. É que já são sintomas de desnorte a mais: a longa hesitação para renovar ou não com Jesus, terminando num contrato que não salvaguardou o interesse do clube, em caso de rescisão prematura; o imbróglio com Óscar Cardozo; a incapacidade de, até à data, vender e bem algum activo do clube, deixando-o em situação financeira preocupante; os sete sérvios contratados e o inacreditável acordo de parceria com o Vojvodina, em que, como notou o humor corrosivo do Luís Afonso, o presidente de um clube que se quer um dos grandes da Europa se desloca à sede de um clube menor da Sérvia para assinar um acordo, estabelecendo que os jovens da academia do Benfica podem ser enviados para jogar na Sérvia, em troca de os jovens do Vojvodina virem jogar para o Benfica! Não sei o que acontecerá se não ganharem em Alvalade!

5- Nem uma defesa fez Helton contra o inexistente Marítimo. Mérito do FC Porto, que não deu qualquer hipótese e só não ganhou por cinco ou seis, como merecia, por cerimónia. Mais uma grande exibição de Josué e mais uma meia hora final de luxo de Juan Quintero. Este menino, digo-vos, se não for armadilhado numa história como o túnel da Luz, como foi o Hulk, ou se não lhe partirem uma perna, como fizeram ao Anderson, vai ser o jogador deste campeonato. E, logo depois, estará a voar muito acima deste campeonato. Entretanto, por razões de balneário, ou razões de afirmação do treinador ou outras, que se aceitam sem concordar, lá vai tendo de assistir do banco às pobres prestações do Fernando e do Defour. Ambos inócuos, inexistentes a não ser pelas asneiras notórias, dois tocadores de bombo no meio da Filarmónica de Berlim. O caso do Defour, então, é notável, em termos de justiça: ele, que não passa de um jogador mediano ou menos ainda, cuja falta de discernimento e profissionalismo afastou o FC Porto da Champions, tem disposto de todas as oportunidades para mostrar o que, malgré lui, não pode mostrar; já o Kelvin, incomparavelmente melhor e mais útil, que deu o último campeonato ao FC Porto, vegeta no banco, vergado àquele estatuto impiedoso do jogador que, ou entra e resolve, ou não volta a entrar tão cedo.

N' A BOLA online, li esta semana, com um sorriso de quem já se habituou há muito a estas histórias, que o Varela estaria a caminho de Inglaterra e o Fernando ainda nos planos do Mónaco. Sim, sim, contem-me depois de acontecer. Para o ano vamos ver se os grandes da Europa vão querer o Defour ou o Quintero.