1- Provavelmente, Portugal vencerá hoje o Luxemburgo (embora já nada seja certo), provavelmente vencerá o play-off, e provavelmente estará no Mundial no Verão que vem. Mas estará lá não por ter revelado qualquer mérito particular para tal em função do valor futebolístico que lhe é atribuído, mas porque a ganância financeira da FIFA e das federações nacionais transformaram o Mundial num amontoado de 32 selecções, disputando um número insano de jogos, a maioria dos quais sem qualquer interesse e apenas prejudicando a propaganda do jogo. No grupo de qualificação em que Portugal ficou colocado - em que apenas a Rússia era adversário de valor razoável - não conseguir o apuramento directo seria sempre uma derrota e não ir ao play-off seria impossível e impensável.
Porém, relembrando todos os jogos feitos nesta fase de apuramento, a sensação que fica é que ir ao Brasil é capaz de se vir a revelar uma oportunidade para a desilusão e a frustração de todos nós. A Selecção não joga nada — é esta a triste realidade. Podia não jogar nada de vez em quando, alternando com bons jogos, não jogar nada durante parte de um jogo e muito bem na restante parte. Mas, não: há uma consistência de mau futebol, totalmente desinspirado e sem uma ideia de jogo ao longo de todas as partidas e em cada uma delas. Houve momentos, como os dez minutos finais em Israel ou os quinze minutos de loucura de Cristiano Ronaldo em Belfast - que, subitamente, nos arrancaram das profundezas do susto e pareceram querer fazer-nos acreditar que, quando era mesmo imperioso, a Selecção, afinal, sabia jogar. Mas foram fogachos salvadores, nada mais do que isso. A imagem de marca desta selecção (e estou a falar de jogos fáceis) é a que mostrámos em Alvalade, contra Israel: a equipa parece entrar determinada, rápida, cheia de vontade de resolver o assunto, empurrada pelo público fiel que tem; por acaso ou por mérito, chega ao golo e, então, paulatinamente, vai-se encostando à vantagem tangencial, sem procurar resolver de vez o assunto, sem se preocupar, ou sem conseguir, recompensar o entusiasmo do público; segue-se um longo período de desinspiração global, que degenera num final a sofrer sustos ou mesmo contratempos. E a Selecção despede-se do jogo, deixando os aplausos iniciais transformados em assobios e uma sensação de falta de categoria e ambição que não auguram nada de bom para o Brasil.
Resisto à tentação ou à facilidade de mandar as culpas para cima de Paulo Bento, muito embora ache que ele chegou ao cargo de seleccionador sem ter mostrado curriculum para tal — em especial, uma habituação à vitória como mandamento principal, uma vocação de Anquetil e não de Poulidor. Mas o facto é que, olhando para as suas convocatórias (e tirando raros casos de embirração pessoal, sempre lamentáveis), julgo que nenhum de nós escolheria diferente. Pode-se argumentar, e aparentemente com razão, que ele não tem sido capaz de pegar no grupo de que dispõe e meter-lhe uma ideia de jogo na cabeça, uma ordem que se veja em campo, um plano de
jogo, um estilo próprio e uma atitude de conquista notavelmente ausente desta selecção. Mas a matéria-prima, essa, é a que há. E a que há traduz-se talvez na pior selecção de jogadores que me lembro de ter visto a representar Portugal.
Eu olho para os 20 mais de Paulo Bento e só consigo pegar em dois que gostasse de ver no meu clube: o Cristiano Ronaldo e o João Moutinho, que de lá acaba de sair. Talvez acrescentasse o Danny, agora que o FC Porto não tem extremos, mas ninguém mais. E julgo que o mesmo diriam os benfiquistas. Aliás, há ali vários jogadores dispensados pelo FC Porto no passado e que tentam como que reinventar uma segunda vida na Selecção de Paulo Bento. E, jogador por jogador, há lá casos verdadeiramente de bradar aos céus. Fosse qual fosse o treinador, não acredito que dali alguma vez pudesse sair uma grande equipa.
Mesmo Cristiano Ronaldo, em quem estão depositadas as esperanças de uma nação inteira e a quem, sejamos justos, nunca faltou vontade para as cumprir, rende ali, e como todos vemos, um décimo do que rende no Real Madrid. Comentava-se esta semana, aqui na Bola e na análise ao jogo com Israel, que Ronaldo passou o jogo a fugir para o meio, rendendo muito menos do que rende no Real, claramente aberto sobre a lateral. Ora, esta é
uma situação repetida em quase todos os jogos da Selecção e devemos então perguntarmo-nos por quê? A explicação parece-me óbvia: porque Ronaldo não confia que os colegas do centro do ataque ou os médios de apoio que aí devem aparecer sejam capazes de, por si sós, resolver o jogo, por mais que ele lhes meta lá a bola em condições para tal. E, então, não resiste a tentar resolver tudo sozinho, apenas acrescentando a confusão lá no meio. A verdade é que, na Selecção, Ronaldo faz o que quer, como quer e quando quer e não há seleccionador que se atreva a corrigi-lo, não só porque ele é quase a única hipótese de ganha pão da companhia, mas também porque ele tem razão no seu raciocínio, embora a sua solução esteja errada.
Se Ronaldo é o 7 e Moutinho o 8, nesta Selecção faltam, pelo menos e gritantemente, um 2, um 6, um 7, um 9, um 10 e um 11. São buracos a mais para um finalista do Mundial. Só espero, francamente, que não nos venhamos a arrepender de nos termos qualificado para o Brasil. Que, uma vez lá chegados, pelo menos a ambição seja outra.
2- Tanto na Bola como no Diário de Notícias, li textos coincidentes sobre a situação contratual de Fredy Montero no Sporting. Resumindo e como explicou a Bola, «na prática, o jogador é do Sporting nas próximas cinco épocas, mas o anúncio do empréstimo foi uma forma de contornar o facto de o Cali (da Colômbia) ainda ter de receber determinada verba caso o Seattle Saunders vendesse o jogador dentro de determinado período». Quer dizer: o Seattle e o Sporting mancomunaram-se para forjar um empréstimo que, afinal foi uma venda, como forma de roubar ao pobre Cali a compensação a que tinha direito como clube formador de Monteio. Quem? o Sporting? o tal clube de cavalheiros? O clube formador, por excelência? O clube que montou uma tempestade de Verão porque, gritava, lhe queriam roubar de borla o Bruma, formado em Alcochete?
3- Com um aplauso, parece que generalizado, entrou em vigor o que chamam a «profissionalização dos árbitros». Para já, de forma branda: vão ganhar 2.500 euros por mês, suponho que a acrescer aos prémios de jogo já em vigor. É suposto ser esta a fórmula mágica para acabar de vez com as eternas suspeitas que alimentam sobre todos os árbitros portugueses. Pois bem, permito-me discordar e duvidar: a independência de um árbitro, como de qualquer profissional, será tanto maior quanto menos ele depender de uma só fonte de rendimento a que deve obediência. Um árbitro que tenha outra profissão (a regra lá fora), está muito menos dependente da comissão de arbitragem que lhe paga e o classifica e dos clubes que a nomeiam e que, através dela, pressionam constantemente. Um árbitro profissionalizado, cuja única ou principal fonte de rendimentos é a arbitragem, está completamente nas mãos de quem lhe paga. A ver vamos o que se ganha.
4- As notícias que chegam de Itália e de Espanha sobre os apetites à volta de Iturbe — acrescentados pela verba facilitadora pela qual o FC Porto se terá comprometido a vendê-lo ao Verona - são alarmantes e, todavia, previsíveis (eu avisei várias vezes...). A confirmar-se que ele é o grande jogador de que se falava quando veio para o FC Porto, e de que se voltou a falar assim que foi emprestado, alguém terá de ser chamado a assumir responsabilidades: os treinadores que o encostaram, os dirigentes que o colocaram em saldos no mercado.
abola
Porém, relembrando todos os jogos feitos nesta fase de apuramento, a sensação que fica é que ir ao Brasil é capaz de se vir a revelar uma oportunidade para a desilusão e a frustração de todos nós. A Selecção não joga nada — é esta a triste realidade. Podia não jogar nada de vez em quando, alternando com bons jogos, não jogar nada durante parte de um jogo e muito bem na restante parte. Mas, não: há uma consistência de mau futebol, totalmente desinspirado e sem uma ideia de jogo ao longo de todas as partidas e em cada uma delas. Houve momentos, como os dez minutos finais em Israel ou os quinze minutos de loucura de Cristiano Ronaldo em Belfast - que, subitamente, nos arrancaram das profundezas do susto e pareceram querer fazer-nos acreditar que, quando era mesmo imperioso, a Selecção, afinal, sabia jogar. Mas foram fogachos salvadores, nada mais do que isso. A imagem de marca desta selecção (e estou a falar de jogos fáceis) é a que mostrámos em Alvalade, contra Israel: a equipa parece entrar determinada, rápida, cheia de vontade de resolver o assunto, empurrada pelo público fiel que tem; por acaso ou por mérito, chega ao golo e, então, paulatinamente, vai-se encostando à vantagem tangencial, sem procurar resolver de vez o assunto, sem se preocupar, ou sem conseguir, recompensar o entusiasmo do público; segue-se um longo período de desinspiração global, que degenera num final a sofrer sustos ou mesmo contratempos. E a Selecção despede-se do jogo, deixando os aplausos iniciais transformados em assobios e uma sensação de falta de categoria e ambição que não auguram nada de bom para o Brasil.
Resisto à tentação ou à facilidade de mandar as culpas para cima de Paulo Bento, muito embora ache que ele chegou ao cargo de seleccionador sem ter mostrado curriculum para tal — em especial, uma habituação à vitória como mandamento principal, uma vocação de Anquetil e não de Poulidor. Mas o facto é que, olhando para as suas convocatórias (e tirando raros casos de embirração pessoal, sempre lamentáveis), julgo que nenhum de nós escolheria diferente. Pode-se argumentar, e aparentemente com razão, que ele não tem sido capaz de pegar no grupo de que dispõe e meter-lhe uma ideia de jogo na cabeça, uma ordem que se veja em campo, um plano de
jogo, um estilo próprio e uma atitude de conquista notavelmente ausente desta selecção. Mas a matéria-prima, essa, é a que há. E a que há traduz-se talvez na pior selecção de jogadores que me lembro de ter visto a representar Portugal.
Eu olho para os 20 mais de Paulo Bento e só consigo pegar em dois que gostasse de ver no meu clube: o Cristiano Ronaldo e o João Moutinho, que de lá acaba de sair. Talvez acrescentasse o Danny, agora que o FC Porto não tem extremos, mas ninguém mais. E julgo que o mesmo diriam os benfiquistas. Aliás, há ali vários jogadores dispensados pelo FC Porto no passado e que tentam como que reinventar uma segunda vida na Selecção de Paulo Bento. E, jogador por jogador, há lá casos verdadeiramente de bradar aos céus. Fosse qual fosse o treinador, não acredito que dali alguma vez pudesse sair uma grande equipa.
Mesmo Cristiano Ronaldo, em quem estão depositadas as esperanças de uma nação inteira e a quem, sejamos justos, nunca faltou vontade para as cumprir, rende ali, e como todos vemos, um décimo do que rende no Real Madrid. Comentava-se esta semana, aqui na Bola e na análise ao jogo com Israel, que Ronaldo passou o jogo a fugir para o meio, rendendo muito menos do que rende no Real, claramente aberto sobre a lateral. Ora, esta é
uma situação repetida em quase todos os jogos da Selecção e devemos então perguntarmo-nos por quê? A explicação parece-me óbvia: porque Ronaldo não confia que os colegas do centro do ataque ou os médios de apoio que aí devem aparecer sejam capazes de, por si sós, resolver o jogo, por mais que ele lhes meta lá a bola em condições para tal. E, então, não resiste a tentar resolver tudo sozinho, apenas acrescentando a confusão lá no meio. A verdade é que, na Selecção, Ronaldo faz o que quer, como quer e quando quer e não há seleccionador que se atreva a corrigi-lo, não só porque ele é quase a única hipótese de ganha pão da companhia, mas também porque ele tem razão no seu raciocínio, embora a sua solução esteja errada.
Se Ronaldo é o 7 e Moutinho o 8, nesta Selecção faltam, pelo menos e gritantemente, um 2, um 6, um 7, um 9, um 10 e um 11. São buracos a mais para um finalista do Mundial. Só espero, francamente, que não nos venhamos a arrepender de nos termos qualificado para o Brasil. Que, uma vez lá chegados, pelo menos a ambição seja outra.
2- Tanto na Bola como no Diário de Notícias, li textos coincidentes sobre a situação contratual de Fredy Montero no Sporting. Resumindo e como explicou a Bola, «na prática, o jogador é do Sporting nas próximas cinco épocas, mas o anúncio do empréstimo foi uma forma de contornar o facto de o Cali (da Colômbia) ainda ter de receber determinada verba caso o Seattle Saunders vendesse o jogador dentro de determinado período». Quer dizer: o Seattle e o Sporting mancomunaram-se para forjar um empréstimo que, afinal foi uma venda, como forma de roubar ao pobre Cali a compensação a que tinha direito como clube formador de Monteio. Quem? o Sporting? o tal clube de cavalheiros? O clube formador, por excelência? O clube que montou uma tempestade de Verão porque, gritava, lhe queriam roubar de borla o Bruma, formado em Alcochete?
3- Com um aplauso, parece que generalizado, entrou em vigor o que chamam a «profissionalização dos árbitros». Para já, de forma branda: vão ganhar 2.500 euros por mês, suponho que a acrescer aos prémios de jogo já em vigor. É suposto ser esta a fórmula mágica para acabar de vez com as eternas suspeitas que alimentam sobre todos os árbitros portugueses. Pois bem, permito-me discordar e duvidar: a independência de um árbitro, como de qualquer profissional, será tanto maior quanto menos ele depender de uma só fonte de rendimento a que deve obediência. Um árbitro que tenha outra profissão (a regra lá fora), está muito menos dependente da comissão de arbitragem que lhe paga e o classifica e dos clubes que a nomeiam e que, através dela, pressionam constantemente. Um árbitro profissionalizado, cuja única ou principal fonte de rendimentos é a arbitragem, está completamente nas mãos de quem lhe paga. A ver vamos o que se ganha.
4- As notícias que chegam de Itália e de Espanha sobre os apetites à volta de Iturbe — acrescentados pela verba facilitadora pela qual o FC Porto se terá comprometido a vendê-lo ao Verona - são alarmantes e, todavia, previsíveis (eu avisei várias vezes...). A confirmar-se que ele é o grande jogador de que se falava quando veio para o FC Porto, e de que se voltou a falar assim que foi emprestado, alguém terá de ser chamado a assumir responsabilidades: os treinadores que o encostaram, os dirigentes que o colocaram em saldos no mercado.
abola