1- Na semana passada, escrevi que Paulo Fonseca tinha pela frente, no espaço de cinco dias, um teste decisivo para mostrar o seu verdadeiro valor à frente de um grande. Por força da derrota caseira com o Atlético de Madrid na Champions e do mau futebol exibido a nível interno (embora os resultados o não acompanhassem), ele precisava de nada menos do que duas vitórias nestes dois confrontos de grande nível de exigência para calar as dúvidas que se começavam a instalar. Vitória sobre o Zénit e vitória sobre o Sporting.
Pois bem, vistos e conhecidos os desfechos, a prestação do FC Porto ficou àquem do necessário: se a vitória sobre o Sporting sossegou muitos espíritos e deixou a equipa com uma já confortável vantagem de cinco pontos sobre os rivais de Lisboa, a derrota com os russos deixa a equipe quase fora da Liga dos Campeões. Mas a forma como esta derrota aconteceu não permite a ninguém de boa-fé condenar o treinador ou a equipa.
O FC Porto fez contra o Zenit o melhor jogo da época, só comparável à meia hora inicial contra o Atlético de Madrid. E, porque a vida é muitas vezes injusta, perdeu ambos: contra o Atlético, graças a uma oferta do Helton e a um livre ardilosamente marcado e cobrado em off-side, aos 85 minutos; contra o Zenit, perdeu também aos 85 minutos, por culpa da má sorte, de um árbitro orientado e do preço a pagar por ter vendido o Hulk em estado de necessidade, na temporada passada. Sobre o árbitro, toda a imprensa desportiva achou que não havia nada a dizer: nem uma palavra sobre o descarado penalty de Neto sobre Licá, abalroando-o sem sequer se preocupar com a bola, quando o avançado portista ia cabecear; e tudo normal na expulsão-relâmpago de Herrera aos 6 minutos (sim, o primeiro cartão não tem discussão, mas o segundo, que umas vezes é mostrado naquelas circunstâncias, outras vezes não, não é normal mostrá-lo, expulsando um jogador aos 6 minutos: queria ver o que não escreveriam sobre o excesso de rigor do árbitro, se um benfiquista ou um sportinguista fosse expulso assim, num jogo contra 0 FC Porto, logo aos 6 minutos...). Já a sorte, abandonou-nos por completo, não só com o critério do árbitro, com as duas bolas à barra, mas também nas várias outras oportunidades que poderiam ter acabado em golo. E o Hulk deu gentilmente cabo de nós: expulsou o Herrera, quebrou os rins à defesa, assistiu para o golo. Só por anedota é que ele pode ter custado ao Zenit o mesmo que o Witsel e menos de metade do que o Gareth Bale custou ao Real Madrid. Ao Zenit saiu barato, a nós saiu-nos caríssimo.
Mas, ao fim e ao cabo, o que estas duas derrotas caseiras e consecutivas na Champions me deixaram foi uma sensação de inevitabilidade: caímos frente a duas potências emergentes na Europa, enquanto que, a esse nível, este FC Porto tem o ar de potência decadente. E tanto a sorte como os árbitros o sentem. Aliás, o mal é nacional e geral: a única diferença entre o FC Porto e o Benfica e todas as outras equipas portuguesas que esta época têm sido espancadas na Europa, é que o FC Porto tem tido muito mais azar e se tem batido muito melhor do que, por exemplo, o Benfica. Enquanto que o nosso árbitro deixa passar um off-side que nos arruma aos 85 minutos, o árbitro deles oferece um canto ao Benfica aos 85 minutos, que iria servir para evitar que ficasse já arrumado; enquanto o Helton oferece um golo que não podia nunca oferecer, já o saudoso Roberto oferece ao Benfica um empate caído do céu e absolutamente injustificado.
2- Mais razões têm os sportinguistas para ficar deprimidos com o resultado do jogo do Dragão do que os portistas razões para ficarem eufóricos. Sejamos justos: a enorme diferença de orçamentos entre FC Porto e Sporting foi o que, acima de tudo, decidiu o jogo. O FC Porto ganhou porque tem melhores valores individuais, logo melhor equipa, mais rotinada aos grandes jogos e preparada para uma cultura de vitória. Mesmo levando em conta que o jogo calhou na melhor altura possível para o Sporting - moralizado por um começo de época em tudo diferente do habitual e repousado por ausência de jogos europeus, face ao intenso desgaste acumulado pelos portistas num jogo disputado cinco dias antes com 10 jogadores de princípio a fim - mesmo assim, foi claro e evidente que o Sporting ainda não tem futebol para atravessar o Douro.
Aliás, discordo do essencial dos comentários de Luís Freitas Lobo, o que não é nada frequente: não foi um grande jogo de futebol nem o Sporting enfrentou 0 F.C. Porto «olhos nos olhos». Na primeira parte, o Sporting, pura e simplesmente, não existiu, enquanto que o FC Porto submergiu numa enxurrada de passes errados, nervosismo de principiantes, atrapalhação sistemática e anarquia táctica. Na segunda parte, ambas as equipas melhoraram, mas, quando o Sporting chega ao empate, não tinha construído ainda uma ocasião para tal e o próprio golo é apenas um pontapé de ressalto, feliz e fortuito, depois de uma bola mal afastada por Hellon. Logo a seguir, vem o grande golo de Danilo e o Sporting tem finalmente uma oportunidade, com o cabeceamento de Montero e a grande defesa de Helton. Mas faltava quase meia hora para o final e, quando se esperaria que o Sporting enfim se soltasse, tirando partido do cansaço dos jogadores nucleares do FC Porto, os leões nada fizeram de realce e, de facto, só deu Porto até ao fim. O FC Porto esteve à altura do que lhe era exigível - e não era muito mais do que aquilo, com excepção da precipitação geral da primeira parte. Mas do Sporting, apesar de tudo, eu esperava mais.
3- Contra todas as lendas e verdades estabelecidas, eu acho os adeptos do Dragão notáveis - de longe, os melhores do futebol português. Gostam de bom futebol e não de ganhar, apenas e de qualquer maneira; são muito mais exigentes com a própria equipa do que com o árbitro - com quem não protestam por dá cá aquela palha e não pressionam o tempo todo, como sucede, por exemplo, em Alvalade; e não desperdiçam grande tempo nem paciência com as historietas laterais que tanto ocupam a imprensa e os debatentes televisivos. 45 minutos antes do jogo com o Sporting, eu tive ocasião de, mais uma vez, admirar os adeptos portistas do Dragão. O Sporting tinha entrado no campo para o aquecimento da ordem e, atrás dos jogadores (facto inédito), vinha o presidente sportinguista, Bruno de Carvalho, impante numa gravata verde berrante e em pose de herói, de quem estava ali para colher sobre os seus sacrificados ombros a onda de hostilidade dos vândalos que ele próprio havia antecipado. E, enquanto as imagens televisivas o mostravam em atitude napoleónica face à multidão hostil, atrás dele uma vintena de adeptos portistas nem sequer o olhava, menos ainda insultava, por gestos ou palavras: nada, era como se não estivesse ali. E, passados uns minutos, o bravo Bonaparte parecia apenas um personagem deslocado e ridículo, face a uma multidão de 48.000 adeptos que ali estavam apenas para ver futebol e não para passar um certificado de bravura fácil ao destemido líder. Uma lição.
Mas, como os falsos grandes líderes fazem estúpida a fraca gente, um comando de cerca de cem adeptos sportinguistas, adequadamente vestidos de negro, tratou de tomar real o clima de hostilidade prometido pelo seu líder, espalhando o terror e a violência fora do estádio, entre os adeptos que se dirigiam para o jogo. Já vi, claro, tentativas jornalísticas de virar os acontecimentos ao contrário, de meter os Superdragões ao barulho, etc, enfim, de baralhar para melhor ocultar. Consta, porém, que a PSP não se deixou enganar e que vai levar a tribunal aquele comando negro, sob a acusação de rixa organizada. Acho muito bem: os estádios são para quem gosta de futebol.
Pois bem, vistos e conhecidos os desfechos, a prestação do FC Porto ficou àquem do necessário: se a vitória sobre o Sporting sossegou muitos espíritos e deixou a equipa com uma já confortável vantagem de cinco pontos sobre os rivais de Lisboa, a derrota com os russos deixa a equipe quase fora da Liga dos Campeões. Mas a forma como esta derrota aconteceu não permite a ninguém de boa-fé condenar o treinador ou a equipa.
O FC Porto fez contra o Zenit o melhor jogo da época, só comparável à meia hora inicial contra o Atlético de Madrid. E, porque a vida é muitas vezes injusta, perdeu ambos: contra o Atlético, graças a uma oferta do Helton e a um livre ardilosamente marcado e cobrado em off-side, aos 85 minutos; contra o Zenit, perdeu também aos 85 minutos, por culpa da má sorte, de um árbitro orientado e do preço a pagar por ter vendido o Hulk em estado de necessidade, na temporada passada. Sobre o árbitro, toda a imprensa desportiva achou que não havia nada a dizer: nem uma palavra sobre o descarado penalty de Neto sobre Licá, abalroando-o sem sequer se preocupar com a bola, quando o avançado portista ia cabecear; e tudo normal na expulsão-relâmpago de Herrera aos 6 minutos (sim, o primeiro cartão não tem discussão, mas o segundo, que umas vezes é mostrado naquelas circunstâncias, outras vezes não, não é normal mostrá-lo, expulsando um jogador aos 6 minutos: queria ver o que não escreveriam sobre o excesso de rigor do árbitro, se um benfiquista ou um sportinguista fosse expulso assim, num jogo contra 0 FC Porto, logo aos 6 minutos...). Já a sorte, abandonou-nos por completo, não só com o critério do árbitro, com as duas bolas à barra, mas também nas várias outras oportunidades que poderiam ter acabado em golo. E o Hulk deu gentilmente cabo de nós: expulsou o Herrera, quebrou os rins à defesa, assistiu para o golo. Só por anedota é que ele pode ter custado ao Zenit o mesmo que o Witsel e menos de metade do que o Gareth Bale custou ao Real Madrid. Ao Zenit saiu barato, a nós saiu-nos caríssimo.
Mas, ao fim e ao cabo, o que estas duas derrotas caseiras e consecutivas na Champions me deixaram foi uma sensação de inevitabilidade: caímos frente a duas potências emergentes na Europa, enquanto que, a esse nível, este FC Porto tem o ar de potência decadente. E tanto a sorte como os árbitros o sentem. Aliás, o mal é nacional e geral: a única diferença entre o FC Porto e o Benfica e todas as outras equipas portuguesas que esta época têm sido espancadas na Europa, é que o FC Porto tem tido muito mais azar e se tem batido muito melhor do que, por exemplo, o Benfica. Enquanto que o nosso árbitro deixa passar um off-side que nos arruma aos 85 minutos, o árbitro deles oferece um canto ao Benfica aos 85 minutos, que iria servir para evitar que ficasse já arrumado; enquanto o Helton oferece um golo que não podia nunca oferecer, já o saudoso Roberto oferece ao Benfica um empate caído do céu e absolutamente injustificado.
2- Mais razões têm os sportinguistas para ficar deprimidos com o resultado do jogo do Dragão do que os portistas razões para ficarem eufóricos. Sejamos justos: a enorme diferença de orçamentos entre FC Porto e Sporting foi o que, acima de tudo, decidiu o jogo. O FC Porto ganhou porque tem melhores valores individuais, logo melhor equipa, mais rotinada aos grandes jogos e preparada para uma cultura de vitória. Mesmo levando em conta que o jogo calhou na melhor altura possível para o Sporting - moralizado por um começo de época em tudo diferente do habitual e repousado por ausência de jogos europeus, face ao intenso desgaste acumulado pelos portistas num jogo disputado cinco dias antes com 10 jogadores de princípio a fim - mesmo assim, foi claro e evidente que o Sporting ainda não tem futebol para atravessar o Douro.
Aliás, discordo do essencial dos comentários de Luís Freitas Lobo, o que não é nada frequente: não foi um grande jogo de futebol nem o Sporting enfrentou 0 F.C. Porto «olhos nos olhos». Na primeira parte, o Sporting, pura e simplesmente, não existiu, enquanto que o FC Porto submergiu numa enxurrada de passes errados, nervosismo de principiantes, atrapalhação sistemática e anarquia táctica. Na segunda parte, ambas as equipas melhoraram, mas, quando o Sporting chega ao empate, não tinha construído ainda uma ocasião para tal e o próprio golo é apenas um pontapé de ressalto, feliz e fortuito, depois de uma bola mal afastada por Hellon. Logo a seguir, vem o grande golo de Danilo e o Sporting tem finalmente uma oportunidade, com o cabeceamento de Montero e a grande defesa de Helton. Mas faltava quase meia hora para o final e, quando se esperaria que o Sporting enfim se soltasse, tirando partido do cansaço dos jogadores nucleares do FC Porto, os leões nada fizeram de realce e, de facto, só deu Porto até ao fim. O FC Porto esteve à altura do que lhe era exigível - e não era muito mais do que aquilo, com excepção da precipitação geral da primeira parte. Mas do Sporting, apesar de tudo, eu esperava mais.
3- Contra todas as lendas e verdades estabelecidas, eu acho os adeptos do Dragão notáveis - de longe, os melhores do futebol português. Gostam de bom futebol e não de ganhar, apenas e de qualquer maneira; são muito mais exigentes com a própria equipa do que com o árbitro - com quem não protestam por dá cá aquela palha e não pressionam o tempo todo, como sucede, por exemplo, em Alvalade; e não desperdiçam grande tempo nem paciência com as historietas laterais que tanto ocupam a imprensa e os debatentes televisivos. 45 minutos antes do jogo com o Sporting, eu tive ocasião de, mais uma vez, admirar os adeptos portistas do Dragão. O Sporting tinha entrado no campo para o aquecimento da ordem e, atrás dos jogadores (facto inédito), vinha o presidente sportinguista, Bruno de Carvalho, impante numa gravata verde berrante e em pose de herói, de quem estava ali para colher sobre os seus sacrificados ombros a onda de hostilidade dos vândalos que ele próprio havia antecipado. E, enquanto as imagens televisivas o mostravam em atitude napoleónica face à multidão hostil, atrás dele uma vintena de adeptos portistas nem sequer o olhava, menos ainda insultava, por gestos ou palavras: nada, era como se não estivesse ali. E, passados uns minutos, o bravo Bonaparte parecia apenas um personagem deslocado e ridículo, face a uma multidão de 48.000 adeptos que ali estavam apenas para ver futebol e não para passar um certificado de bravura fácil ao destemido líder. Uma lição.
Mas, como os falsos grandes líderes fazem estúpida a fraca gente, um comando de cerca de cem adeptos sportinguistas, adequadamente vestidos de negro, tratou de tomar real o clima de hostilidade prometido pelo seu líder, espalhando o terror e a violência fora do estádio, entre os adeptos que se dirigiam para o jogo. Já vi, claro, tentativas jornalísticas de virar os acontecimentos ao contrário, de meter os Superdragões ao barulho, etc, enfim, de baralhar para melhor ocultar. Consta, porém, que a PSP não se deixou enganar e que vai levar a tribunal aquele comando negro, sob a acusação de rixa organizada. Acho muito bem: os estádios são para quem gosta de futebol.
in abola