1- Tenho um mau pressentimento de que logo à noite no Dragão vamos levar com um golo do Hulk. Se isso acontecer, eu nem sei o que irei sentir, mas de uma coisa estou certo: contra ele é que não me vou virar. Não só porque não esqueço tudo o que lhe devemos (aquela exibição nos 5-0 ao Benfica ficará para a eternidade!), não só pelos inúmeros momentos de prazer absoluto a ver futebol que ele me proporcionou, mas também porque não esqueço que ele não queria ir embora e foi o FC Porto que, em desespero por não ter feito nenhuma grande venda no defeso de 2012, o vendeu à 25ª hora ao Zenit e por um preço de urgência. Um golo do Hulk logo à noite, ou uma exibição dele a arrumar connosco, trará consigo o sabor amargo de pensar no que já foi esta equipa do FC Porto, no glorioso ano de Villas Boas, e no desfalque cirúrgico que, entretanto, levou: Moutinho, Hulk, Falcão e James, para falar só dos nomes maiores. Quando, quando, chegará o dia em que o FC Porto não terá de vender os melhores todos os anos para equilibrar as contas de uma gestão que nunca se paga a si própria? Eu sei que muitos defendem que a sobrevivência consiste nisto mesmo: comprar barato para vender caro. Mas ainda ninguém me demonstrou que, se comprássemos menos jogadores sem préstimo, não teríamos de vender sistematicamente os melhores...
A verdade é que esta noite vamos experimentar pela primeira vez o que é ter o Hulk, não por nós, mas contra nós. Essa é a realidade que teremos de enfrentar e, mais do que todos, Paulo Fonseca. Já adivinho que ele irá jogar com o Varela a fazer de Hulk e, provavelmente, o Defour a fazer de Moutinho. Infelizmente, não antecipo nem novidades nem ousadias. A escolha é sua, por direito próprio, mas, depois da derrota contra o Atlético de Madrid, no primeiro jogo de dificuldade grande da época, a responsabilidade pelas escolhas e suas consequências é agora a dobrar: nada menos do que a vitória é o que se espera dele. Este jogo contra o Zenit e o de domingo contra o Sporting poderão muito bem vir a ser a sua rampa de lançamento ou o princípio da sua descida aos infernos. Austerlitz ou Waterloo. Um Sporting repousado, poupado à tensão dos grandes jogos europeus e motivado por um começo de época muito acima das expectativas habituais, não servirá de desculpa para um resultado falhado — que será qualquer um que não a vitória. E mesmo o tradicional frango de Helton logo à noite, não permitirá que nenhum portista perdoe a Paulo Fonseca um desaire contra os russos — quanto mais não seja, pela responsabilidade de reincidir em Helton. Não há, pois, como fugir à responsabilidade: nestes dois decisivos jogos em cinco dias, Paulo Fonseca tem apenas uma opção: vitória e vitória. Sob pena de muitos começarem a desconfiar do alcance do patamar de Paulo Fonseca. C´est la vie. Há escolhas menos exigentes do que ser t reinador do FC Porto, mas não têm a mesma graça, não proporcionam tanto palco e possibilidade de glória, nem são tão bem pagas.
Depois de uma caçada às perdizes em Mértola, depois de horas debaixo de uma chuva diluviana como Mértola não via há meses ou anos, para apenas atirar a duas perdizes e matá-las (passe a imodéstia, porque eram mesmo bravas), e depois de 300 quilómetros sozinho ao volante, sentei-me em frente à televisão para espreitar a recepção do FC Porto ao Trofense, para a Taça. Precisei de um esforço sobrenatural para não adormecer: aquele futebolzinho de entretém, posse e mais posse, e oportunidades de golo mais raras do que as perdizes que tinha avistado a tiro em Mértola, é um soporífero que já não se usa, sobretudo quando em campo está o tricampeão nacional e nas bancadas, afoitamente, ainda estão 22.000 espectadores. Eu sei que grande parte dos escolhidos eram da equipa B, mas a equipa B lidera a segunda Liga, enquanto o Trofense ocupa aí o último lugar. E, se bem que reconheça que o Trofense não criou uma oportunidade de golo, nem se preocupou com isso, não deixa de impressionar que o FC Porto não tenha criado mais de duas ou três e tenha acabado o jogo a atrasar bolas para o guarda-redes, indiferente aos assobios dos adeptos que, felizmente, não estão habituados a isto. O que me preocupa foi ter constatado que, apesar do esforço e das boas prestações de jogadores como Kelvin e Carlos Eduardo, que ainda não tínhamos visto jogar, a filosofia de jogo do FC Porto B+ é igual à do FC Porto A- muita «circulação de bola», muita «posse em construção», muita «entreajuda», muita «rotação de flancos», enfim, muito fumo e nenhum fogo. Uma sólida chatice.
Se isto foi o ensaio geral para o jogo de logo à noite e para o jogo de domingo, temo uma desgraça. A menos que um mau ensaio geral - aliás, vários maus ensaios sucessivos correspondam a belas prestações na hora da verdade.
2- Só por má-fé ou teimosia poderia dizer que o Sporting não está francamente melhor do que em anos anteriores. Mérito de Leonardo Jardim, de uma nova atitude dos jogadores, de Fredy Montero, mas também de um calendário favorável, do descanso que dá não ter jogos internacionais nem jogadores nucleares em compromissos transatlânticos (só Carrilho, que me lembre) e de algumas decisões de arbitragem favoráveis, acontecidas em momentos certos. Mas mérito próprio, sim e muito. O da equipa de futebol.
Já os méritos da gestão do seu novo presidente, tão louvados por tudo e por todos, parecem-me decorrer bem mais da carreira da equipa de futebol do que propriamente da sua visionária gestão. Ainda há dias li que ele teria «resolvido o problema da dívida», e perguntei-me: mas como? A dívida foi paga ou esfumou-se? A banca perdoou-a ou apenas teve de se conformar à evidência de o devedor não ter dinheiro? E o problema dos excedentários está resolvido ou apenas chutado para os tribunais ou para a FIFA para que eles julguem a peculiar interpretação que o Sporting faz dos contratos assinados com jogadores que agora não lhe interessam? E as tão badaladas «parcerias estratégicas» , como as que o presidente do Sporting agora terá feito na África do Sul, ao certo, consistem em quê - o Sporting irá trocar jogadores da Academia de Alcochete com os da escola do Orlando Pirates? E como estão os contactos com os «investidores internacionais» que irão colocar dinheiro no clube a troco não se percebe de quê?
Enfim, o que eu quero sugerir, meu caro Eduardo Barroso, é que toda esta brilhante gestão do seu estimado presidente (cujo esforço e mérito de algumas ideias até aplaudo), me parece ainda assente em mais propaganda do que realidade e que tudo pode começar a andar para trás se de repente a equipa de futebol começa a perder. E isso pode acontecer já este domingo, no Dragão. Talvez por isso, Bruno de Carvalho começou a época a cortar relações com o FC Porto (um gesto que as plateias da Segunda Circular apreciam sempre imenso) e já tratou de ir espicaçando os ânimos para a visita ao Dragão. Como todos os líderes pouco certos da força que querem exibir, ele procura um inimigo que possa unir e galvanizar as hostes. Mesmo que o inimigo, neste caso e inteligentemente, tenha optado até aqui por deixá-lo a bravatear sozinho. Neste momento, e sobretudo domingo que vem, Leonardo Jardim, Rui Patrício ou Fredy Montero são muito mais importantes para o Sporting do que Bruno de Carvalho. Se eles conseguirem sair incólumes do Dragão, terão prestado um inestimável serviço ao presidente do Sporting.
3- E o que dizer da Suécia, meu Deus? Que a nossa grande esperança é que Ibrahimovic tenha uma paragem de digestão antes do jogo cá e uma distensão antes do jogo lá.
A verdade é que esta noite vamos experimentar pela primeira vez o que é ter o Hulk, não por nós, mas contra nós. Essa é a realidade que teremos de enfrentar e, mais do que todos, Paulo Fonseca. Já adivinho que ele irá jogar com o Varela a fazer de Hulk e, provavelmente, o Defour a fazer de Moutinho. Infelizmente, não antecipo nem novidades nem ousadias. A escolha é sua, por direito próprio, mas, depois da derrota contra o Atlético de Madrid, no primeiro jogo de dificuldade grande da época, a responsabilidade pelas escolhas e suas consequências é agora a dobrar: nada menos do que a vitória é o que se espera dele. Este jogo contra o Zenit e o de domingo contra o Sporting poderão muito bem vir a ser a sua rampa de lançamento ou o princípio da sua descida aos infernos. Austerlitz ou Waterloo. Um Sporting repousado, poupado à tensão dos grandes jogos europeus e motivado por um começo de época muito acima das expectativas habituais, não servirá de desculpa para um resultado falhado — que será qualquer um que não a vitória. E mesmo o tradicional frango de Helton logo à noite, não permitirá que nenhum portista perdoe a Paulo Fonseca um desaire contra os russos — quanto mais não seja, pela responsabilidade de reincidir em Helton. Não há, pois, como fugir à responsabilidade: nestes dois decisivos jogos em cinco dias, Paulo Fonseca tem apenas uma opção: vitória e vitória. Sob pena de muitos começarem a desconfiar do alcance do patamar de Paulo Fonseca. C´est la vie. Há escolhas menos exigentes do que ser t reinador do FC Porto, mas não têm a mesma graça, não proporcionam tanto palco e possibilidade de glória, nem são tão bem pagas.
Depois de uma caçada às perdizes em Mértola, depois de horas debaixo de uma chuva diluviana como Mértola não via há meses ou anos, para apenas atirar a duas perdizes e matá-las (passe a imodéstia, porque eram mesmo bravas), e depois de 300 quilómetros sozinho ao volante, sentei-me em frente à televisão para espreitar a recepção do FC Porto ao Trofense, para a Taça. Precisei de um esforço sobrenatural para não adormecer: aquele futebolzinho de entretém, posse e mais posse, e oportunidades de golo mais raras do que as perdizes que tinha avistado a tiro em Mértola, é um soporífero que já não se usa, sobretudo quando em campo está o tricampeão nacional e nas bancadas, afoitamente, ainda estão 22.000 espectadores. Eu sei que grande parte dos escolhidos eram da equipa B, mas a equipa B lidera a segunda Liga, enquanto o Trofense ocupa aí o último lugar. E, se bem que reconheça que o Trofense não criou uma oportunidade de golo, nem se preocupou com isso, não deixa de impressionar que o FC Porto não tenha criado mais de duas ou três e tenha acabado o jogo a atrasar bolas para o guarda-redes, indiferente aos assobios dos adeptos que, felizmente, não estão habituados a isto. O que me preocupa foi ter constatado que, apesar do esforço e das boas prestações de jogadores como Kelvin e Carlos Eduardo, que ainda não tínhamos visto jogar, a filosofia de jogo do FC Porto B+ é igual à do FC Porto A- muita «circulação de bola», muita «posse em construção», muita «entreajuda», muita «rotação de flancos», enfim, muito fumo e nenhum fogo. Uma sólida chatice.
Se isto foi o ensaio geral para o jogo de logo à noite e para o jogo de domingo, temo uma desgraça. A menos que um mau ensaio geral - aliás, vários maus ensaios sucessivos correspondam a belas prestações na hora da verdade.
2- Só por má-fé ou teimosia poderia dizer que o Sporting não está francamente melhor do que em anos anteriores. Mérito de Leonardo Jardim, de uma nova atitude dos jogadores, de Fredy Montero, mas também de um calendário favorável, do descanso que dá não ter jogos internacionais nem jogadores nucleares em compromissos transatlânticos (só Carrilho, que me lembre) e de algumas decisões de arbitragem favoráveis, acontecidas em momentos certos. Mas mérito próprio, sim e muito. O da equipa de futebol.
Já os méritos da gestão do seu novo presidente, tão louvados por tudo e por todos, parecem-me decorrer bem mais da carreira da equipa de futebol do que propriamente da sua visionária gestão. Ainda há dias li que ele teria «resolvido o problema da dívida», e perguntei-me: mas como? A dívida foi paga ou esfumou-se? A banca perdoou-a ou apenas teve de se conformar à evidência de o devedor não ter dinheiro? E o problema dos excedentários está resolvido ou apenas chutado para os tribunais ou para a FIFA para que eles julguem a peculiar interpretação que o Sporting faz dos contratos assinados com jogadores que agora não lhe interessam? E as tão badaladas «parcerias estratégicas» , como as que o presidente do Sporting agora terá feito na África do Sul, ao certo, consistem em quê - o Sporting irá trocar jogadores da Academia de Alcochete com os da escola do Orlando Pirates? E como estão os contactos com os «investidores internacionais» que irão colocar dinheiro no clube a troco não se percebe de quê?
Enfim, o que eu quero sugerir, meu caro Eduardo Barroso, é que toda esta brilhante gestão do seu estimado presidente (cujo esforço e mérito de algumas ideias até aplaudo), me parece ainda assente em mais propaganda do que realidade e que tudo pode começar a andar para trás se de repente a equipa de futebol começa a perder. E isso pode acontecer já este domingo, no Dragão. Talvez por isso, Bruno de Carvalho começou a época a cortar relações com o FC Porto (um gesto que as plateias da Segunda Circular apreciam sempre imenso) e já tratou de ir espicaçando os ânimos para a visita ao Dragão. Como todos os líderes pouco certos da força que querem exibir, ele procura um inimigo que possa unir e galvanizar as hostes. Mesmo que o inimigo, neste caso e inteligentemente, tenha optado até aqui por deixá-lo a bravatear sozinho. Neste momento, e sobretudo domingo que vem, Leonardo Jardim, Rui Patrício ou Fredy Montero são muito mais importantes para o Sporting do que Bruno de Carvalho. Se eles conseguirem sair incólumes do Dragão, terão prestado um inestimável serviço ao presidente do Sporting.
3- E o que dizer da Suécia, meu Deus? Que a nossa grande esperança é que Ibrahimovic tenha uma paragem de digestão antes do jogo cá e uma distensão antes do jogo lá.