1- Fez domingo uma semana, o Benfica estava a perder com o Gil Vicente na Luz e à beira de dizer adeus ao campeonato à segunda jornada. A jogar como estava, qualquer um percebia que não iria dar a volta ao resultado. Foi então que Jorge Jesus se lembrou de ir ao banco e tirar de lá uma das mais badaladas aquisições do Benfica para esta época, o sérvio Lazar Markovic. E, em poucos minutos, ele resolveu-lhe o problema, com um golo.
Passa-se uma semana e Jesus vai a Alvalade, com Markovic outra vez a ver o jogo do banco e o Benfica a perder, nada jogando. E Jesus lá volta a metê-lo em jogo e fica a assistir ao trabalho do jovem sérvio: primeiro, um ensaio de golo à Messi, e, depois, o próprio golo à Messi. Numa semana, Markovic deu três pontos a Jorge Jesus, mas isso não quer dizer que tenha conquistado a titularidade. Oh, não!
O mesmo se passa no FC Porto com Juan Quintero, também a mais prometedora das doze aquisições feitas pelos portistas esta época (tive a satisfação de ver aqui, na crónica do jogo, António Casanova dizer sobre Quintero o mesmo que eu venho dizendo há semanas, desde que o vi jogar pela primeira vez: que está ali um génio do futebol). Porém, Paulo Fonseca nunca mete o Quintero em jogo antes de decorrida a primeira hora e geralmente quando o FC Porto está em dificuldades, com o jogo encravado, face a equipas com a defesa cerrada, só trespassável a golpes de génio, justamente. E Quintero tem-no feito: entra, resolve, muda o ritmo da equipa e ilumina o espectáculo.
Porque nâo joga então de início? Porque, explica Paulo Fonseca, «está num processo evolutivo». «Tem de se adaptar à equipa e às nossas ideias.» Dificilmente se poderia ser mais claro: até os génios, como Markovic ou Quintero, têm, primeiro, de «se adaptar às ideias» dos seus treinadores - sob pena de as ideias destes não valerem nada.
Apetece perguntar o que aconteceria se o Messi ou o Ronaldo desembarcassem no Benfica ou no FC Porto, com 20 anos de idade - teriam de se adaptar primeiro às ideias de Jesus ou de Paulo Fonseca? E que extraordinárias ideias serão essas sem as quais o Quintero não precisaria apenas de cinquenta segundos em jogo para marcar um golo fabuloso e resolver o jogo do Porto em Setúbal ou o Markovic não seria capaz de fintar meia defesa do Sporting e plantar o Rui Patrício?
Gostava que não me entendessem mal. Eu considero que, pelas provas dadas, tanto Jorge Jesus como Paulo Fonseca são dois bons treinadores. E também não ignoro que se passam coisas longe da vista dos adeptos (e assim deve ser) que muitas vezes condicionam as escolhas dos treinadores, assim como não ignoro o quão complicado deve ser gerir um grupo de trabalho composto por umas dezenas de meninos milionários que se imaginam reis do mundo. Mas há coisas que para o comum adepto, como eu, são muito difíceis de entender — como a fatal tendência dos treinadores portugueses se acagaçarem nos grandes jogos europeus, descaracterizando a equipa para reforçarem a sua defesa, acabando invariavelmente vencidos, quando não sovados.
Os treinadores portugueses (dos grandes, sobretudo, porque os dos pequenos não têm grande margem de escolha) por desejo de afirmação ou para mostrarem autoridade junto do balneário, gostam de marcar posição junto dos novos jogadores que chegam, fazendo-lhes ver que, com eles, ninguém está acima das «suas ideias». E preferem os que nunca estão acima das suas ideias, nem têm capacidade para tal, e por piorem que joguem (como são os casos de Varela, Fernando e Defour no FC Porto), do que aqueles cujo génio futebolístico suplanta, à vista de todos, o génio estratégico do treinador. E, depois, também é forçoso dizê-lo, contam com o apoio de alguns jornalistas compreensivos, que, quando vêem um Markovic ou um Quintero saltarem do banco e resolverem jogos, escrevem que Jesus e Fonseca «acertaram em cheio nas substituições». Mas uma grande substituição não é tirar um jogador fraco e meter um bom, assim melhorando naturalmente o jogo: é tirar um bom jogador em dia
não e meter um mais fraco, mas que melhora o jogo.
2- O derby de Lisboa foi um jogo aborrecido e mal jogado, excepção feita à primeira meia hora do Sporting. No saldo final, o Sporting foi melhor equipa, mas teve sorte na arbitragem e a verdade é que, incluindo os golos, dispôs de duas oportunidades contra cinco dos benfiquistas - nisso foi omissa a estatística de Leonardo Jardim. Já agora, não deixa de ser notável ouvir um treinador dizer que a sua equipa só perdeu contra o adversário no número de faltas... cometidas! Eu compreendo que estivesse irritado com a facilidade com que Markovic serpenteou por entre a defesa do Sporting até meter a bola lá dentro, mas — oficiosamente, pelo menos — é suposto os treinadores defenderem a qualidade do espectáculo e não o jogo faltoso. Acho eu...
3- Em Felgueiras,num campo neutro e bem melhor do que o de Paços de Ferreira, frente a uma equipa que tinha jogado quatro dias antes em S. Petersburgo e que começou a época penosamente, o FC Porto arrastou-se, sem brilho nem imaginação, correndo até o risco de não ganhar o jogo. Num suposto 4x3x3, só com um ala de raiz (Kelvin, Iturbe e Varela de fora dos convocados), e com os laterais a descerem pouco e mal, o FC Porto fez o jogo que o Paços mais queria, juntando uma molhada de gente no centro do terreno, onde ninguém mostrava talento e (aspiração para romper o sufoco ali reinante. Chegou a ser patético ver iniciativas de ataque pelo centro conduzidas por Defour e Fernando, terminando invariavelmente com a perca da bola e contra-golpe do adversário. Enfim, Paulo Fonseca lá acabou por se render às evidências e ganhou o jogo quando meteu mais um ala (Ricardo) e soltou o génio de Quintero para servir de gazua contra o cerco.
O FC Porto de Paulo Fonseca tem um jogo consistente e já estabelecido, mas que por vezes se torna inócuo, não por deficiência do modelo, mas pela insistência na escolha de intérpretes errados. Custa-me perceber algumas coisas, como por exemplo, a insistência no mesmo meio-campo do ano passado, mas agora desfalcado de Moutinho. Se este, ainda com Moutinho, já era o sector mais fraco da equipa (e, por isso mesmo, foi o mais reforçado), agora então, com o inamovível trio Fernando-Defour-Lucho, é mesmo o parente pobre de uma equipa que - com os reforços - tem tudo para ser bem melhor.
4- Tenha sido por 8 ou por 12 milhões(as fontes divergem), a venda de Bruma ao Galatasaray, tornada possível por um inexplicável acórdão da Comissão Arbitral Paritária, foi um excelente negócio do Sporting. Se compararmos com a venda do Atsu ao Chelsea por 4 milhões, então torna-se ainda mais notável: uma promessa foi vendida duas ou três vezes acima de um jogador notável, que há muito tinha abandonado o estatuto de simples promessa.
Afinal, o Zahavi já não é um abutre de um empresário com quem o Sporting não quer ter relações, é o homem que lhes resolveu os casos Bruma e Ilori. E, afinal, as más-línguas, que viam a mão oculta de FC Porto e Benfica por detrás das desavenças entre Bruma e o Sporting, não passavam disso mesmo: más línguas. Tout va bien qui finit bien...
in abola