1- Hoje à noite, com o Benfica-Anderlecht, arrancam os jogos verdadeiramente a doer - sobretudo, para as duas equipas portuguesas que têm a missão de representar o país na mais importante competição de clubes à escala mundial. Digo-o, não por desejo de provocação, mas porque sinceramente o penso: mais uma vez, e participando como 2° classificado e não como campeão, o Benfica teve mais sorte no grupo em que calhou que o FC Porto. No grupo do Benfica, e incluindo este, há dois candidatos naturais para os dois lugares de apuramento; no do FC Porto, há três: o próprio FC Porto, o Zenit de S. Petersburgo, que previamente varreu qualquer veleidade de participação do Paços de Ferreira, e o Atlético de Madrid, que, à semelhança dos portistas, arrancou a época com quatro triunfos em quatro jornadas, dividindo com o Barcelona o primeiro lugar na Liga espanhola.
Começando a competição frente às equipas mais fracas dos seus grupos, é absolutamente determinante que Benfica e FC Porto se estreiem com uma vitória. No caso do Benfica, jogando na Luz, tal é imperioso; já para o FC Porto nada melhor do que arrancar com uma vitória fora.
Para trás fica então a pré-época e as quatro primeiras jornadas do campeonato, onde o Benfica tropeçou, de facto, uma vez, e o FC Porto, por enquanto, soma só vitórias e vai com o suplemento de alma de seguir isolado na frente. A jornada deste fim-de-semana assistiu a quatro vitórias dos quatro principais protagonistas habituais: FC Porto, Benfica, SC Braga e Sporting, por ordem de recentes desempenhos. Nenhuma das vitórias foi brilhante ou convincente, nenhuma terá deixado os respectivos adeptos tranquilos quanto ao futuro. O SC Braga arrancou a sua vitória caseira a ferros, depois de ter estado a perder; Benfica e FC Porto cumpriram a obrigação de vencer em casa respectivamente, um Paços de Ferreira onde Costinha já começa a ver o lugar em perigo, após seis jogos oficiais e outras tantas derrotas, e um Gil Vicente que, tendo estado a minutos de liquidar o campeonato do Benfica à segunda jornada, não chegou a ameaçar os portistas no Dragão; enfim, o Sporting soma e segue no melhor arranque da época deste século, após ter inspirado tantas parangonas por ter comandado o campeonato nas duas primeiras jornadas, embora ex aequo.
Aliás, há um tal desejo generalizado de ver o Sporting regressar, ao menos provisoriamente, ao seu estatuto antigo de grande, que, logo após a vitória em Faro, as televisões derramavam-se em mesas redondas onde o principal tema era o de saber se o Sporting será ou não candidato a este titulo. E, à cautela, quase todos respondiam que sim. Pois eu, peço desculpa, acho que não. Ao contrário do que sucedeu na época passada, este ano vi todos os jogos do Sporting e em nenhum deles vi ali indícios da matéria de que se fazem os campeões. Progressos em relação à época anterior, sim, imensos - sobretudo, na atitude e na capacidade de luta. Mas pouco ainda para se poder afirmar como um candidato em pé de igualdade com os outros - mesmo não esquecendo que, ao contrário dos outros, o Sporting vai ser poupado a qualquer desgaste europeu.
Em Faro, por exemplo, o Sporting jogou em campo neutro e melhor, teve a sorte do jogo, pois que as duas melhores oportunidades foram do Olhanense, enquanto os seus dois golos foram ambos facilitados pelo nosso velho conhecido Ricardo, aquele guarda-redes que, em 2004, Scolari descobriu que era melhor que Baía, acabado de receber a distinção de melhor guarda-redes da Europa. E, em Faro, Ricardo voltou a falhar como falhou na final do Euro - 2004 contra a Grécia: porque trata a pequena área como terra de ninguém. Por outro lado, e apesar de Leonardo Jardim se queixar dos jogos das selecções, a verdade é que o Sporting teve mais um dia de descanso que Benfica e FC Porto e os danos causados à equipa pelos jogos das selecções foram imensamente menores do que os causados aos seus rivais. Enfim, e pela terceira vez em quatro jogos, o Sporting beneficiou ainda da sorte de ter a seu favor decisões erradas e determinantes da arbitragem. O que não impedirá, claro, que na primeira oportunidade para tal, o presidente-comunicado Bruno de Carvalho faça publicar um dos seus extensos e frequentes dazibaos sobre as mil e uma razões de queixa do Sporting, de tudo e mais alguma coisa. É tão certo quão certo é, entre nós, o fim do Verão anunciado pela entrada em cena do quarteto infalível Bittencourt Picanço, Nobre dos Santos, Ana Avoila e Mário Nogueira.
2- Contra o Gil, o FC Porto entrou muito bem e fez uma primeira meia hora de bom nível, com Quintero a desenhar geometria no espaço e Licá a dar-se ao jogo como ninguém mais. Titular pela primeira vez. Varela lá teve a ciência de estar no lugar certo no momento certo para facturar o primeiro golo e assim, como já tantas vezes visto, garantir a titularidade até Junho. Daí até final, a única coisa mais que fez foi conquistar um penally claro que o árbitro transformou em simulação. Mas isso não impediu que o público o escolhesse como o MVP do jogo e que Paulo Fonseca declarasse que ele (tal como o meu estimado Defour), é um jogador determinante.
Eu, de facto, devo ser o único espectador que não aprecia nem um bocadinho o futebol do Varela e o único portista que, ao contrário do que aqui escrevia esta semana um jornalista, não acha que o Defour seja o substituto natural do Moutinho. Pode ser que eu, de facto, veja tudo ao contrário do senso comum, mas tenho isto em abono da minha ignorância: invariavelmente, são os jogadores portistas que eu mais elogio que acabam sempre transferidos por quantias milionárias, enquanto aqueles de que não gosto, apesar de muitas notícias a dizer o oposto, acabam sempre sem ofertas. Se eu sou ignorante, o mercado é estúpido.
Assim, amanhã, em Viena de Áustria (e tendo em conta a ausência forçada de Defour, depois da expulsão que nos custou os quartos-de-final da Champions na época passada), Paulo fonseca vai fazer alinhar de início o seguinte onze: Helton; Danilo, Otamendi, Mangala e Alex Sandro; Fernando, Lucho e Josué; Varela, Jackson e Licá. E oxalá não seja preciso fazer entrar o Quintero para ganhar o jogo! Seria óptimo sinal.
3- Como já o disse, não posso se não admirar a forma determinada como Bruno de Carvalho se atirou aos desmandos financeiros que encontrou em Alvalade, partindo de uma evidência e de um princípio elementar de ética: não pode haver gente a enriquecer à custa de um clube falido. Mas a fórmula meia bola e força! que ele adopta para resolver alguns dos assuntos deixa muito a desejar para um clube que se afirma de cavalheiros.
Processos disciplinares intimidatórios para despedir jogadores, cláusulas de venda de jogadores com a salvaguarda de não poderem mais tarde assinar por FC Porto ou Benfica (cláusula nula, por violar o direito ao trabalho e a liberdade contratual), e agora a esperteza saloia de pagar aos jogadores de que se quer ver livre apenas o salário oficial, esquecendo os direitos de imagem. Ora, como todos sabem, os chamados direitos de imagem constituem uma outra forma de esperteza fiscal, que clubes e jogadores (e até técnicos ou colaboradores, como Manuel Fernandes) utilizam em beneficio mútuo: os jogadores porque pagam menos impostos, os clubes porque pagam menos contribuições para a Segurança Social. Se a negociata já não é, de si, muito recomendável, a solução encontrada pelo presidente sportinguista, essa, viola qualquer princípio básico de boa-fé.
Vejam lá se ele faz isso aos jogadores que lhe interessa manter! Imaginam o que não sucederia se o Real Madrid dissesse agora ao Cristiano Ronaldo que lhe vai pagar os 17 milhões anuais de salário recentemente aumentado, mas que, em contrapartida, lhe deixa de pagar os 24 milhões de direitos de imagem! E que efeitos terá nos restantes jogadores do Sporting saber que, se as coisas não lhes correrem de feição, é este o destino que lhes está reservado e não há contrato que os defenda?
Começando a competição frente às equipas mais fracas dos seus grupos, é absolutamente determinante que Benfica e FC Porto se estreiem com uma vitória. No caso do Benfica, jogando na Luz, tal é imperioso; já para o FC Porto nada melhor do que arrancar com uma vitória fora.
Para trás fica então a pré-época e as quatro primeiras jornadas do campeonato, onde o Benfica tropeçou, de facto, uma vez, e o FC Porto, por enquanto, soma só vitórias e vai com o suplemento de alma de seguir isolado na frente. A jornada deste fim-de-semana assistiu a quatro vitórias dos quatro principais protagonistas habituais: FC Porto, Benfica, SC Braga e Sporting, por ordem de recentes desempenhos. Nenhuma das vitórias foi brilhante ou convincente, nenhuma terá deixado os respectivos adeptos tranquilos quanto ao futuro. O SC Braga arrancou a sua vitória caseira a ferros, depois de ter estado a perder; Benfica e FC Porto cumpriram a obrigação de vencer em casa respectivamente, um Paços de Ferreira onde Costinha já começa a ver o lugar em perigo, após seis jogos oficiais e outras tantas derrotas, e um Gil Vicente que, tendo estado a minutos de liquidar o campeonato do Benfica à segunda jornada, não chegou a ameaçar os portistas no Dragão; enfim, o Sporting soma e segue no melhor arranque da época deste século, após ter inspirado tantas parangonas por ter comandado o campeonato nas duas primeiras jornadas, embora ex aequo.
Aliás, há um tal desejo generalizado de ver o Sporting regressar, ao menos provisoriamente, ao seu estatuto antigo de grande, que, logo após a vitória em Faro, as televisões derramavam-se em mesas redondas onde o principal tema era o de saber se o Sporting será ou não candidato a este titulo. E, à cautela, quase todos respondiam que sim. Pois eu, peço desculpa, acho que não. Ao contrário do que sucedeu na época passada, este ano vi todos os jogos do Sporting e em nenhum deles vi ali indícios da matéria de que se fazem os campeões. Progressos em relação à época anterior, sim, imensos - sobretudo, na atitude e na capacidade de luta. Mas pouco ainda para se poder afirmar como um candidato em pé de igualdade com os outros - mesmo não esquecendo que, ao contrário dos outros, o Sporting vai ser poupado a qualquer desgaste europeu.
Em Faro, por exemplo, o Sporting jogou em campo neutro e melhor, teve a sorte do jogo, pois que as duas melhores oportunidades foram do Olhanense, enquanto os seus dois golos foram ambos facilitados pelo nosso velho conhecido Ricardo, aquele guarda-redes que, em 2004, Scolari descobriu que era melhor que Baía, acabado de receber a distinção de melhor guarda-redes da Europa. E, em Faro, Ricardo voltou a falhar como falhou na final do Euro - 2004 contra a Grécia: porque trata a pequena área como terra de ninguém. Por outro lado, e apesar de Leonardo Jardim se queixar dos jogos das selecções, a verdade é que o Sporting teve mais um dia de descanso que Benfica e FC Porto e os danos causados à equipa pelos jogos das selecções foram imensamente menores do que os causados aos seus rivais. Enfim, e pela terceira vez em quatro jogos, o Sporting beneficiou ainda da sorte de ter a seu favor decisões erradas e determinantes da arbitragem. O que não impedirá, claro, que na primeira oportunidade para tal, o presidente-comunicado Bruno de Carvalho faça publicar um dos seus extensos e frequentes dazibaos sobre as mil e uma razões de queixa do Sporting, de tudo e mais alguma coisa. É tão certo quão certo é, entre nós, o fim do Verão anunciado pela entrada em cena do quarteto infalível Bittencourt Picanço, Nobre dos Santos, Ana Avoila e Mário Nogueira.
2- Contra o Gil, o FC Porto entrou muito bem e fez uma primeira meia hora de bom nível, com Quintero a desenhar geometria no espaço e Licá a dar-se ao jogo como ninguém mais. Titular pela primeira vez. Varela lá teve a ciência de estar no lugar certo no momento certo para facturar o primeiro golo e assim, como já tantas vezes visto, garantir a titularidade até Junho. Daí até final, a única coisa mais que fez foi conquistar um penally claro que o árbitro transformou em simulação. Mas isso não impediu que o público o escolhesse como o MVP do jogo e que Paulo Fonseca declarasse que ele (tal como o meu estimado Defour), é um jogador determinante.
Eu, de facto, devo ser o único espectador que não aprecia nem um bocadinho o futebol do Varela e o único portista que, ao contrário do que aqui escrevia esta semana um jornalista, não acha que o Defour seja o substituto natural do Moutinho. Pode ser que eu, de facto, veja tudo ao contrário do senso comum, mas tenho isto em abono da minha ignorância: invariavelmente, são os jogadores portistas que eu mais elogio que acabam sempre transferidos por quantias milionárias, enquanto aqueles de que não gosto, apesar de muitas notícias a dizer o oposto, acabam sempre sem ofertas. Se eu sou ignorante, o mercado é estúpido.
Assim, amanhã, em Viena de Áustria (e tendo em conta a ausência forçada de Defour, depois da expulsão que nos custou os quartos-de-final da Champions na época passada), Paulo fonseca vai fazer alinhar de início o seguinte onze: Helton; Danilo, Otamendi, Mangala e Alex Sandro; Fernando, Lucho e Josué; Varela, Jackson e Licá. E oxalá não seja preciso fazer entrar o Quintero para ganhar o jogo! Seria óptimo sinal.
3- Como já o disse, não posso se não admirar a forma determinada como Bruno de Carvalho se atirou aos desmandos financeiros que encontrou em Alvalade, partindo de uma evidência e de um princípio elementar de ética: não pode haver gente a enriquecer à custa de um clube falido. Mas a fórmula meia bola e força! que ele adopta para resolver alguns dos assuntos deixa muito a desejar para um clube que se afirma de cavalheiros.
Processos disciplinares intimidatórios para despedir jogadores, cláusulas de venda de jogadores com a salvaguarda de não poderem mais tarde assinar por FC Porto ou Benfica (cláusula nula, por violar o direito ao trabalho e a liberdade contratual), e agora a esperteza saloia de pagar aos jogadores de que se quer ver livre apenas o salário oficial, esquecendo os direitos de imagem. Ora, como todos sabem, os chamados direitos de imagem constituem uma outra forma de esperteza fiscal, que clubes e jogadores (e até técnicos ou colaboradores, como Manuel Fernandes) utilizam em beneficio mútuo: os jogadores porque pagam menos impostos, os clubes porque pagam menos contribuições para a Segurança Social. Se a negociata já não é, de si, muito recomendável, a solução encontrada pelo presidente sportinguista, essa, viola qualquer princípio básico de boa-fé.
Vejam lá se ele faz isso aos jogadores que lhe interessa manter! Imaginam o que não sucederia se o Real Madrid dissesse agora ao Cristiano Ronaldo que lhe vai pagar os 17 milhões anuais de salário recentemente aumentado, mas que, em contrapartida, lhe deixa de pagar os 24 milhões de direitos de imagem! E que efeitos terá nos restantes jogadores do Sporting saber que, se as coisas não lhes correrem de feição, é este o destino que lhes está reservado e não há contrato que os defenda?