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24 de julho de 2013

GRANDES ESPERANÇAS- MST


FC PORTO, Sporting, Benfica e Braga: ainda nenhum deles perdeu um jogo de preparação. Não há como a pré-época para criar grandes expectativas nos adeptos! E, por isso, cautelarmente, todos os clubes, mesmo os enormes, começam por escolher adversários da treta para irem ganhando ritmo, ao ritmo das vitórias. Amolecidos pelo sol e pela praia, em dias e noites indolentes, os adeptos do futebol seguem à distancia e pelos jornais as notícias dos primeiros passos dos seus clubes. E, tirando aqueles adeptos doentes - do género dos que fazem esperas nos aeroportos ou vão até ao centro de treinos só para verem os craques nas suas bombas (então nada preocupados com as fortunas que eles ganham) - os outros, os adeptos normais, gostam de ler as noticias, mas verdadeiramente ainda não estão empenhados na militância e não acreditam nas descrições cor-de-rosa que lhes são dadas pelos jornalistas que acompanham o seu clube. Fulano, acabado de comprar, já começa a deslumbrar; Beltrano, que na época anterior não jogou nada, este ano promete ser o destaque principal da equipa; Sicrano, também acabado de comprar, precisa de mais tempo para se adaptar» - uma línguagem cifrada que quer dizer que provavelmente é um barrete; e, quanto à equipa, esta já «começa a assimilar os processos do novo treinador», o qual é invariávelmente elogiado por todos. Bendita paz, benditas esperanças!

Paralelamente, prossegue entretanto o folhetim das compras e vendas, do deve e haver, a história daquele cuja saída é dada como iminente todos os dias, e a daquele que, depois de o treinador dizer que conta com ele e o presidente jurar que não sairá a não ser pela sempre surreal cláusula de rescisão, acaba subitamente vendido por metade dela e sem pré-aviso: uma manha acordamos, olhamos para o jornal e constatamos que o nosso jogador preferido já o era. No que me diz respeito, de há muito que tento munir-me de uma couraça contra esse tipo de notícias, pois já sei que quem sai são sempre os que interessam e quem fica os que não interessam. Infelizmente, no negócio das grandes vendas aos grandes ricos e novos-ricos europeus, não há lugar para lhes enfiar barretes: eles sabem bem quem são os verdadeiramente bons e que valem dinheiro a sério e quem são os que de vez em quando fazem um bom jogo. É assim que todas as pré-épocas tenho visto sair, um a um, e por vezes dois de uma vez, todos os grandes valores revelados pelo FC Porto: McCarthy, Deco, Lisandro Lopez, Ricardo Carvalho, Derlei, Carlos Alberto, Maniche, Ricardo Quaresma, Pepe, Falcão, Hulk, Moutinho, James.

Este ano, confortado pelos 70 milhões facturados com as vendas de Moutinho e James ao novo-rico Mónaco, logo no inicio da época das compras, o FC Porto tem-se espraiado em aquisições a torto e a direito, incluindo de alguns que logo se percebe que são comprados para serem imediatamente emprestados - um conceito de gestão difícil de entender em qualquer outra empresa privada, mas muito comum entre os grandes de Portugal. Foi assim que ficámos a saber, por exemplo, que o Benfica tem ao seu serviço, sob contrato, nada menos do que 104 profissionais seniores. Não admira que Luís Filipe Vieira, assustado com os encargos de pagar ordenados a este exército de excedentários, desespere pela grande venda deste Verão, tantas vezes anunciada, mas ainda não confirmada, apesar de não faltarem nomes: Garay, Gaitan, Salvio, Ola John, etc. E, quando ainda faltam cinco semanas para que este jogo termine, não admira também que ele ainda se permita abrir a boca em grande, pedindo, por exemplo, 40 milhões pelo Salvio (o preço do Hulk...). Mas lá mais para diante, quando se aproximar a data de 31 de Agosto, e em não ter havido ainda nada de concreto, os 40 milhões virão fatalmente por aí abaixo. É a regra do jogo.

No que respeita ao FC Porto, que é o que mais me interessa, as saídas vão em três (terminado, sem glória nem proveito, o contrato de seis meses de Liedson), e as aquisições vão em nove, anunciando-se ainda como iminente a compra do jovem extremo esquerdo brasileiro Bernard, uma tentação caríssima, mas que o clube parece não querer descartar. Nunca o vi jogar, mas estranho a aquisição de um jogador para uma posição onde já existem o Varela (cuja venda só acredito depois de ver), o Kelvin, o Iturbe e ainda Cristian Atsu, que eu não desisto de ver recuperado e integrado, porque esse, para mim, está destinado a ser um fora-de-série. Mas também é estranho que, já com seis defesas centrais, o FC Porto tenha dado dez milhões por mais um, o mexicano Reyes. Ou que tenha comprado, de uma assentada, nada menos do que seis médios, a juntar aos quatro que já lá estavam. Enfim, são coisas que sempre me fizeram a maior confusão, ainda mais agora em que o futebol não passa imune à crise económica do pais e da Europa. Menos gente nos estádios, menos lugares anuais vendidos, menos receitas publicitárias, e cada vez mais despesas. Sempre à espera de serem compensadas pelas receitas extraordinárias das vendas fabulosas de jogadores. Até ao dia...

Anteontem, finalmente, e porque isso aconteceu num horário compatível com a vida de Verão, lá consegui enxergar pela primeira vez esta época o FC Porto de Pauto Fonseca. Vi a segunda parte do jogo disputado na Venezuela perante um clube de que nunca ouvira falar, com um nome que junta uma espécie de indicativo da Nova Zelândia com o nome porque é conhecida a minha mulher: Anzategui. Mas deixem-me começar por dizer que vejo muito auspiciosamente a deslocação do FC Porto a países como a Venezuela e a Colômbia (onde o clube começa a ter um grande cartaz). Usar a pré-época para levar o clube até mercados emergentes, económica e futebolisticamente, como o fazem os grandes da Europa, é uma aposta de futuro que vale a pena cultivar. Como também é muito bom ver o clube num torneio a sério - o torneio do Arsenal, em Londres - depois de um outro torneio menor, já disputado e ganho, na Suíça, contra o Marselha

Porque antes estive entretido com uma abrótea com amêijoas e um xerém com lingueirão, já só consegui chegar a tempo de ver a segunda parte - e parece que não perdi nada por não ter visto a primeira, excepto avaliar alguns novos jogadores. Mas o que vi na segunda parte, deixou-me satisfeito. Apesar da viagem de véspera, do fuso horário com 6,5 horas de diferença (uma curiosidade anti-imperialista de Hugo Chavez), pesar do calor e humidade equatoriais, o FC Porto deu tranquilamente, com autoridade determinação, a volta a um jogo que perdia ao intervalo e que voltou a estar a perder aos 61 minutos, terminando com um 4-2 escasso para as oportunidades criadas. Gostei muito de ver a exibicão de Iturbe, cuja ostracizacão por parte de Vítor Pereira passei um ano a execrar. E ainda bem que Paulo Fonseca, demonstrando personalidade própria e profissionalismo, decidiu primeiro ver os jogadores marginalizados, como Iturbe ou Fucile, antes de decidir de cruz a sua dispensa. Gostei do pouquíssimo que vi de Herrera, do Lucho em terrenos de definição, e da consistência de Jackson Martinez, apesar de dois golos desperdiçados na cara do guarda-redes. Não gostei da persistência do jogo inutilmente faltoso do Fernando (que deu origem ao segundo golo venezuelano), e das más saídas de Fabiano a bolas altas. Gostei do que vi, mas vi muito pouco do pacote de aquisições para a nova época. E, sendo muito cedo para avaliar e tirar conclusões do padrão de jogo de Paulo Fonseca, não sabendo sequer se os 45 minutos que vi correspondem às suas ideias, gostei também de ver um jogo bem mais variado e mexido, mais agradável à vista, do que a monotonia da posse e mais posse de bola que era o futebol de Vítor Pereira.

Sim, também eu acalento grandes esperanças para a época 2013/2014.

a bola