JOSÉ MARIA PEDROTO
Rectidão, coragem, polémica, inteligência, frontalidade, são substantivos usados regularmente para caracterizar José Maria Pedroto, tanto por colegas como adversários. Muitos lembram o grande jogador, mas certamente é o treinador que marcou uma época no futebol português que está presente no imaginário de todos, um «homem à frente do tempo», como muitos o descreveram.
O carácter
Pedroto tinha um dom que muitos (entre companheiros e adversários) reconhecem como raro: uma capacidade de liderança inata. Era capaz de transformar as fraquezas das suas equipas e clubes em força, moldando à sua imagem as formações que comandava, tornando-as combativas, tremendamente competitivas e vencedoras.
Há quem lhe chame feitio, personalidade... Rui Pedroto prefere dizer carácter, e o do seu pai, assegura, formou-se muito cedo, fruto de uma infância dura e cheia de restrições. «Teve uma infância difícil, porque ficou sem pai muito novo, com sete anos e tinha uma família numerosa, eram 11 filhos. O meu pai desde muito cedo percebeu o que era conciliar as suas responsabilidades escolares, a actividade desportiva nos escalões de formação e numa fase mais tardia da sua vida mas ainda jovem, ter que acorrer às despesas familiares e contribuir com os seus rendimentos para o sustento da família. Tudo isto forjou o seu carácter, deu-lhe tempra rija e uma capacidade de enfrentar os problemas e de ter coragem na forma como os resolvia muito grande».
Depois de ter sido um dos grandes jogadores do futebol nacional nos anos cinquenta (Lusitano de Vila Real de Sto. António, Belenenses e FC Porto), foi o responsável pelo primeiro troféu internacional do futebol português, conduzindo Portugal a conquistar o Campeonato Europeu de Juniores de 1961.
«A carreira iniciou-se nas camadas de formação, evoluiu para uma carreira de jogador de grande talento, várias vezes internacional, e depois surgiu a de treinador. Toda a sua vida foi pautada pela vivência próxima do fenómeno desportivo, sem descurar na sua juventude a questão escolar», recorda o filho, Rui Pedroto.
Depois de treinar o FC Porto e perdendo por pouco o campeonato, passou por Setúbal, onde foi responsável pela era dourada dos sadinos. No Bessa, colocaria a equipa das camisolas esquisitas a ombrear com os grandes e a discutir um campeonato taco-a-taco com o Benfica.
A relação com o FC Porto
Voltou ao FC Porto, de onde tinha saído em polémica uns anos antes, para levar os azuis-e-brancos a quebrar o jejum de dezanove anos em 1978. Nas suas palavras os portistas tinham passado de pombinhos provincianos a falcões moralizados.
Um pouco à semelhança dos grandes amores, a relação entre o emblema azul e branco e José MariaPedroto era instável, aguerrida, acesa e polémica. Mas nunca de amor-ódio, afiança o seu filho, «apesar da sua faceta de polemista, porque sempre se bateu de uma forma encarniçada pelas causas em que acreditava. Acho que os sócios do FC Porto se habituaram a ver nele não só um treinador de excelência mas também uma figura de referência para o clube. Muitas vezes é preciso deixar passar um bom par de anos do desaparecimento das pessoas para se perceber qual a marca que deixaram».
Nascido em Almacave, Lamego, na freguesia onde supostamente se realizaram as cortes que coroaram Afonso Henriques como primeiro Rei de Portugal, Pedroto, era o mais novo de onze filhos do Capitão do Exército Alfredo Pedroto e Quitéria do Carmo. Depois dos primeiros anos em Lamego, acompanhou a família na mudança para a cidade do Porto, onde após a morte do pai estudou num colégio interno perto do Campo da Constituição.
Foi por essa altura que se apaixonou pelo azul e branco, tendo o madeirense Pinga como ídolo. A sua paixão pelo azul, estendia-se também ao Belenenses, clube onde brilhou antes de vestir a camisola do FC Porto, depois de uma transferência recorde, paga com dinheiro recolhido através de quotas que os sócios mais notáveis do FC Porto subscreveram.
«É natural que nutrisse pelo Belenenses uma simpatia especial. Confesso que isso nunca foi, nas nossas conversas, muito presente. Diria até que não era só pelo Belenenses mas por todos os clubes por onde passou como jogador e treinador. Tenho a certeza que o meu pai sabia ser grato ao seu passado e àqueles que acreditaram nele, e foram muitos», explica Rui Pedroto.
A fraterna amizade com Pinto da Costa
Nascido em Almacave, Lamego, na freguesia onde supostamente se realizaram as cortes que coroaram Afonso Henriques como primeiro Rei de Portugal, Pedroto, era o mais novo de onze filhos do Capitão do Exército Alfredo Pedroto e Quitéria do Carmo. Depois dos primeiros anos em Lamego, acompanhou a família na mudança para a cidade do Porto, onde após a morte do pai estudou num colégio interno perto do Campo da Constituição.
Foi por essa altura que se apaixonou pelo azul e branco, tendo o madeirense Pinga como ídolo. A sua paixão pelo azul, estendia-se também ao Belenenses, clube onde brilhou antes de vestir a camisola do FC Porto, depois de uma transferência recorde, paga com dinheiro recolhido através de quotas que os sócios mais notáveis do FC Porto subscreveram.
«É natural que nutrisse pelo Belenenses uma simpatia especial. Confesso que isso nunca foi, nas nossas conversas, muito presente. Diria até que não era só pelo Belenenses mas por todos os clubes por onde passou como jogador e treinador. Tenho a certeza que o meu pai sabia ser grato ao seu passado e àqueles que acreditaram nele, e foram muitos», explica Rui Pedroto.
A fraterna amizade com Pinto da Costa
Pedroto além do grande jogador e do extraordinário treinador que foi, era, num país à época impregnado no mais profundo cinzentismo, um personagem que ilustrava com rasgos de humor e uma inquebrantável liberdade as páginas do dia-a-dia na comunicação social portuguesa, com a sua personalidade forte, ideias vincadas e combates polémicos.
Várias histórias ajudam a ilustrar o mito do Zé do Boné: as reuniões e cartadas, noite fora, numa célebre pastelaria do Porto com os seus compagnon de route, entre eles Pinto da Costa, que estão na génese do que viria a ser o FC Porto conquistador dos anos 80 e 90.
«Foi uma relação muito especial, de grande proximidade e cumplicidade nos tempos em que trabalharam juntos. Além da questão profissional, havia grande fraternidade e amizade pessoal. A relação profissional ajudou a construir à volta dela uma relação de amizade sólida e duradoura. Foi, seguramente, a pessoa que o acompanhou mais de perto, que o conhecia melhor nas suas diversas facetas e com quem partilhou as dificuldades mas também os momentos de maior glória desportiva mas que excedem e muito, e penso que é com essa ternura e saudade que ele fala, a mera relação profissional, mas que lembram sim o amigo desaparecido».
Nesta viagem ao passado, surgem-nos também as relações especiais com alguns jogadores, de entre eles António Oliveira, um dos seus protegidos, a quem supostamente o Zé do Boné dava autorização para fumar um cigarro antes de entrar em campo.
As relações polémicas com rivais
Mais tarde, Oliveira e Pedroto seguiram caminhos separados, mas Pedrotonão se coibiu de comentar um famoso golo que Oliveira marcara com a camisola do Sporting numa competição europeia, desmistificando o golo, indicando que fora obtido desta maneira, porque Oliveira não executara bem o remate, chutando contra o outro pé e conseguindo tal miraculoso efeito que espantara os adeptos e comentadores desportivos do país. Alguns acusavam-no de não ter pejo na forma como criticava os adversários e os árbitros, mas era igualmente duro com colegas e jogadores.
Um pouco como o Bojador estava para os descobridores portugueses de quatrocentos, a Ponte da Arrábida «bloqueava» os jogadores do FC Porto. Atravessar o Rio Douro era o início da derrota portista. José Maria Pedroto nunca se conformou com tal estado de coisas e combateu com todas as suas forças essa menoridade portista.
Mas se os seus atletas eram espicaçados para a vitória, os adversários não eram poupados. O então seleccionador nacional Mário Wilson foi um «palhaço», Manaca - jogador do Guimarães - foi acusado de marcar um autogolo que impediu o tricampeonato portista e desviou o título para Alvalade.
Os rivais nunca conseguiram lidar bem com a força de Pedroto. Benfiquistas e sportinguistas sentiram na pele o génio do Zé do Boné e deixaram de dividir entre si os espólios do futebol nacional. Há notícias que dão conta que o leão João Rocha lhe lançou, um dia, o canto da sereia, mas Pedroto, irredutível, preferiu nunca estar ao leme de um rival.
Um símbolo que perdura
Polémicas, guerrilha verbal, exacerbado regionalismo, um profundo desprezo pelo provincianismo de um certo Porto, tudo isto movia José MariaPedroto para atingir um só objectivo: a glória do Futebol Clube do Porto.
Após anos de intensa rivalidade e polémica, Pedroto, guarda um lugar muito especial no lugar dos portistas. Mas é admirado, porventura até reverenciado, em todos os clubes por onde passou, e mais do que isso, é penhor do mais profundo respeito e admiração dos rivais de Lisboa.
O lamecense, que se tornou um tripeiro de adopção, lembrava e não esquecia as imortais palavras de Almeida Garrett, um dos mais ilustres portuenses: «Se na nossa cidade há muito quem troque o b por v, há pouco quem troque a liberdade pela servidão».
Faleceu meses depois da derrota de Basileia, mas o grande FC Portoeuropeu estava lançado. Dois anos e meio depois da sua morte, nas margens do Danúbio, um FC Porto sem medo de ninguém subia ao mais alto degrau do continente e sagrava-se Campeão da Europa.
Nesta viagem ao passado, surgem-nos também as relações especiais com alguns jogadores, de entre eles António Oliveira, um dos seus protegidos, a quem supostamente o Zé do Boné dava autorização para fumar um cigarro antes de entrar em campo.
As relações polémicas com rivais
Mais tarde, Oliveira e Pedroto seguiram caminhos separados, mas Pedrotonão se coibiu de comentar um famoso golo que Oliveira marcara com a camisola do Sporting numa competição europeia, desmistificando o golo, indicando que fora obtido desta maneira, porque Oliveira não executara bem o remate, chutando contra o outro pé e conseguindo tal miraculoso efeito que espantara os adeptos e comentadores desportivos do país. Alguns acusavam-no de não ter pejo na forma como criticava os adversários e os árbitros, mas era igualmente duro com colegas e jogadores.
Um pouco como o Bojador estava para os descobridores portugueses de quatrocentos, a Ponte da Arrábida «bloqueava» os jogadores do FC Porto. Atravessar o Rio Douro era o início da derrota portista. José Maria Pedroto nunca se conformou com tal estado de coisas e combateu com todas as suas forças essa menoridade portista.
Mas se os seus atletas eram espicaçados para a vitória, os adversários não eram poupados. O então seleccionador nacional Mário Wilson foi um «palhaço», Manaca - jogador do Guimarães - foi acusado de marcar um autogolo que impediu o tricampeonato portista e desviou o título para Alvalade.
Os rivais nunca conseguiram lidar bem com a força de Pedroto. Benfiquistas e sportinguistas sentiram na pele o génio do Zé do Boné e deixaram de dividir entre si os espólios do futebol nacional. Há notícias que dão conta que o leão João Rocha lhe lançou, um dia, o canto da sereia, mas Pedroto, irredutível, preferiu nunca estar ao leme de um rival.
Um símbolo que perdura
Polémicas, guerrilha verbal, exacerbado regionalismo, um profundo desprezo pelo provincianismo de um certo Porto, tudo isto movia José MariaPedroto para atingir um só objectivo: a glória do Futebol Clube do Porto.
Após anos de intensa rivalidade e polémica, Pedroto, guarda um lugar muito especial no lugar dos portistas. Mas é admirado, porventura até reverenciado, em todos os clubes por onde passou, e mais do que isso, é penhor do mais profundo respeito e admiração dos rivais de Lisboa.
O lamecense, que se tornou um tripeiro de adopção, lembrava e não esquecia as imortais palavras de Almeida Garrett, um dos mais ilustres portuenses: «Se na nossa cidade há muito quem troque o b por v, há pouco quem troque a liberdade pela servidão».
Faleceu meses depois da derrota de Basileia, mas o grande FC Portoeuropeu estava lançado. Dois anos e meio depois da sua morte, nas margens do Danúbio, um FC Porto sem medo de ninguém subia ao mais alto degrau do continente e sagrava-se Campeão da Europa.
PALMARÉS
Como jogador:
- 2 Campeonatos Nacionais
- 1 Taça de Portugal
- 17 internacionalizações
Como treinador:
- 2 Campeonatos Nacionais
- 5 Taças de Portugal
- 4 vezes finalista da Taça de Portugal.
- Seleccionador nacional (17 jogos, 3 de abril de 1974-30 de março de 1977).
Algumas frases do Pedroto:
"O verdadeiro calcanhar de Aquiles do nosso futebol reside no simples facto de quase todos pensarmos que, quando saímos dos estádios, já não somos profissionais de futebol".
"Estamos na mediania no conceito europeu. Relativamente ao futebol de alta competição, temos meia dúzia de jogadores com grande classe".