1- Wimbledon chegou ao fim com a final esperada, a partir do momento em que Federer e Nadal se despediram prematuramente. Foi uma final disputada sob um calor tórrido e, talvez por isso, jogada a um ritmo lento e essencialmente defensivo. Djokovíc esteve quase irreconhecível, cometendo erros não forcados em catadupa, e Murray praticamente limitou-se a tirar partido disso e de uma arbitragem que varias vezes o favoreceu. A este nível de ténis estratosférico, foi uma das mais fracas finais de que me lembro. E para a história ficará que um britânico (não confundir com um inglês) conseguiu suceder a Fred Perry, 77 anos depois.
2- O grande espectáculo televisivo de Wimbledon é agora substituído pelo grande espectáculo televisivo do Tour de France, em 100ª edição. O espectáculo é fabuloso, há um português entre os dez primeiros, mas a mim, pessoalmente, não me diz nada: já sei que o mais provável é os da frente estarem todos drogados. Uns serão descobertos agora, outros só mais para diante. Mas depois da razia de episódios de doping entre os melhores das últimas gerações, sobretudo depois da queda em desgraça de Lance Armstrong, para mim o ciclismo está morto. A sua credibilidade vale zero. De entre todas as suas grandes lendas, só Coppi, Anquetil e Mercx se mantêm ainda em glória. E talvez porque, à época, os controlos anti-doping não eram eficazes. A discussão necessária, e a única capaz de salvar o ciclismo profissional, tarda a ser feita a sério: saber se mais vale fazer etapas em que se consiga subir o Alpe d'Huez só com bife grelhado e Eau d'Évian, ou fingir que se consegue escalá-lo só com isso, como dizia Joaquim Agostinho.
3- Resta assim concentrar-nos no palpitante mundo das transferências futobolisticas, aqui e lá fora. Por cá, sente-se que os grandes desfechos, a nível de Porto e Benfica, ainda estão para acontecer e até à absurda data de 31 de Agosto nada está fechado. O Benfica continua a espera de vender Matic, Cardozo e Garay ou Gaitan, para poder comprar qualquer coisa mais sonante do que uma van de sérvios. Agora, comprou um central argentino com o sacrílego nome de Lisandro Lopez, copiando o nome do outro que fez furor no ataque do FC Porto e joga agora em França. Com um nome desses, um tipo não pode ser central e não pode jogar no Benfica!
Já o FC Porto, confirmando o ditado de que não hã fome que não dê em fartura, vai acumulando doses industriais de médios, não apenas para preencher o que era, de facto, o sector mais fraco da equipe mas sobretudo para tentar que algum deles consiga minimizar os danos resultantes da ausência de Moutinho. No processo, vai batendo recordes de melhores vendas de sempre por parte de clubes mexicanos e até, a fazer fé nos relatos de imprensa, está tentado a abrir de 25 milhões de euros para ir buscar um jovem médio-extremo brasileiro chamado Bernard. Espero ben que não o faça, porque estas loucuras nunca pressagiam nada de bom. Li num jornal que Bernard destinar-se-ia a compensar a «ausência de extremos», ocasionada pela venda de James Rodriguez e as «mais do que prováveis saídas» de Atsu e Iturbe. E pergunto-me: mas porquê «mais do que prováveis saídas»? Atsu quer sair, mas até agora ninguém chegou ao valor aliás modesto, da sua cláusula de rescisão e, que eu saiba, isto não é assim que funciona, não basta a vontade do jogador para logo ser libertado. E o mesmo se diga de Itutbe, que com certeza há-de valer mais do que as raríssimas oportunidades que Vítor Pereira lhe deu para o mostrar. Voltar a emprestá-lo sem ter chegado verdadeiramente a testá-lo parece-me esbanjamento. Entrelanto, e sem que se perceba ao certo porque razão, arrasta-se a decisão de compra de Ghilas, a solução mais à mão e mais promissora para servir como alternativa a Jackson Martinez. Não entendo como, ao mesmo tempo que se paga 10 milhões por um central (num plantel que já tinha seis, quatro dos quais de grande categoria) se protela a compra de uma única alternativa ao lugar fulcral de ponta-de-lança. Como já aqui escrevi, das duas compras no mercado interno que eu gostaria de ver o FC Porto fazer. Mossoró e Ghilas, um já se foi embora baratinho, e o outro corremos o risco de o perder por inércia - como perdemos o Lima para o Benfica. No dia em que parte para o seu estágio holandês, com mais de trinta jogadores à disposição, o primeiro grande teste de Paulo Fonseca é a escolha dos 26 ou 27 com que optará ficar. A sua lista de dispensas começará a levantar o véu sobre as ideias do novo treinador do FC Porto. E eu, que o vejo chegar com esperança, confio que não revele o mesmo desinteresse pelos jovens talentos que o seu antecessor. Em dois anos no FC Porto, e não obstante a quantidade de jovens colocados à sua disposição pela SAD, Vitor Pereira só fez revelar um único talento novo: Mangala. É pouco para um clube que tanto gasta em aquisições de jovens potenciais talentos e que tanto espera vir a ganhar no futuro, com as suas vendas.
No Sporting e avisadamente, o que funciona é a contenção de despesas: tentar despachar jogadores que ganham demais para o orçamento reduzido, tentar adquirir outros por empréstimo, a custo zero ou a tostões. Mas a nova filosofia de parente pobre do futebol português, que é a única que os bancos consentem agora, tem sido acompanhada por uma intensa campanha de marketing, tentando fazer passar por autoridade e inflexibilidade do seu presidente o que não passa de impossibilidade. É assim que tentando adquirir um avançado colombiano desconhecido de todos e a custo zero, o marketing trata logo de fazer constar que ele é o novo Falcão - a custo zero. Ou, quando, depois de muito regatear, Bruno de Carvalho contrata o também avançado Cissè à Académica pela simbólica quantia de 300.000 euros e logo faz saber que lhe impôs uma cláusula de rescisão de 60 milhões. Ou seja, e como Bruno de Carvalho estranhou e criticou que o FC Porto tenha vendido Moutinho abaixo da cláusula de rescisão, pressupõe-se que ele não fará o mesmo e que, portanto, espera que um jogador comprado por 300.000 seja vendido amanha por 60 milhões - mais do que custou Neymar ao Barcelona. Os sócios adoram estas atitudes de «autoridade», «firmeza», «capacidade negocial». Como os sucessivos esforços de Bruno de Carvalho de afastar Bruma do tutor, primeiro, do empresário Pini Zahavi depois, e agora do advogado, mantendo a esperança de um cara-a-cara entre ele e o jogador, que lhe permitiria arrancar-lhe uma assinatura fruto da ingenuidade do guineense. Os sócios adoram isto, adoram ouvir o seu presidente dizer-lhes que já abateu 150 milhões ao passivo, embora não explique, e ninguém lhe pergunte, porque artes mágicas o conseguiu. Adoram a atitude de cortar relações com o FC Porto, mesmo que o pretexto seja fraco e o proveito nulo ou pior. Adoram ouvi-lo dizer que é nas primeiras oito jornadas que o Sporting costuma ser roubado do titulo, o que lhes mantém acesa a chama imensa de uma hipotética candidatura ao titulo e aceso o fogo do rol de queixas com que sempre se consolam das ilusões frustradas. Concedo que seria difícil a qualquer presidente do Sporting, perante o cenário de terror encontrado, ir por outro caminho ou adoptar um discurso de vencido à partida. O marketing ajuda a manter as esperanças e as ilusões, mas, na hora da verdade, o marketing é apenas...marketing. E será então, passado o estado de graça, que Bruno de Carvalho terá de mostrar de que fibra é feito. Adiante veremos.
In a bola
2- O grande espectáculo televisivo de Wimbledon é agora substituído pelo grande espectáculo televisivo do Tour de France, em 100ª edição. O espectáculo é fabuloso, há um português entre os dez primeiros, mas a mim, pessoalmente, não me diz nada: já sei que o mais provável é os da frente estarem todos drogados. Uns serão descobertos agora, outros só mais para diante. Mas depois da razia de episódios de doping entre os melhores das últimas gerações, sobretudo depois da queda em desgraça de Lance Armstrong, para mim o ciclismo está morto. A sua credibilidade vale zero. De entre todas as suas grandes lendas, só Coppi, Anquetil e Mercx se mantêm ainda em glória. E talvez porque, à época, os controlos anti-doping não eram eficazes. A discussão necessária, e a única capaz de salvar o ciclismo profissional, tarda a ser feita a sério: saber se mais vale fazer etapas em que se consiga subir o Alpe d'Huez só com bife grelhado e Eau d'Évian, ou fingir que se consegue escalá-lo só com isso, como dizia Joaquim Agostinho.
3- Resta assim concentrar-nos no palpitante mundo das transferências futobolisticas, aqui e lá fora. Por cá, sente-se que os grandes desfechos, a nível de Porto e Benfica, ainda estão para acontecer e até à absurda data de 31 de Agosto nada está fechado. O Benfica continua a espera de vender Matic, Cardozo e Garay ou Gaitan, para poder comprar qualquer coisa mais sonante do que uma van de sérvios. Agora, comprou um central argentino com o sacrílego nome de Lisandro Lopez, copiando o nome do outro que fez furor no ataque do FC Porto e joga agora em França. Com um nome desses, um tipo não pode ser central e não pode jogar no Benfica!
Já o FC Porto, confirmando o ditado de que não hã fome que não dê em fartura, vai acumulando doses industriais de médios, não apenas para preencher o que era, de facto, o sector mais fraco da equipe mas sobretudo para tentar que algum deles consiga minimizar os danos resultantes da ausência de Moutinho. No processo, vai batendo recordes de melhores vendas de sempre por parte de clubes mexicanos e até, a fazer fé nos relatos de imprensa, está tentado a abrir de 25 milhões de euros para ir buscar um jovem médio-extremo brasileiro chamado Bernard. Espero ben que não o faça, porque estas loucuras nunca pressagiam nada de bom. Li num jornal que Bernard destinar-se-ia a compensar a «ausência de extremos», ocasionada pela venda de James Rodriguez e as «mais do que prováveis saídas» de Atsu e Iturbe. E pergunto-me: mas porquê «mais do que prováveis saídas»? Atsu quer sair, mas até agora ninguém chegou ao valor aliás modesto, da sua cláusula de rescisão e, que eu saiba, isto não é assim que funciona, não basta a vontade do jogador para logo ser libertado. E o mesmo se diga de Itutbe, que com certeza há-de valer mais do que as raríssimas oportunidades que Vítor Pereira lhe deu para o mostrar. Voltar a emprestá-lo sem ter chegado verdadeiramente a testá-lo parece-me esbanjamento. Entrelanto, e sem que se perceba ao certo porque razão, arrasta-se a decisão de compra de Ghilas, a solução mais à mão e mais promissora para servir como alternativa a Jackson Martinez. Não entendo como, ao mesmo tempo que se paga 10 milhões por um central (num plantel que já tinha seis, quatro dos quais de grande categoria) se protela a compra de uma única alternativa ao lugar fulcral de ponta-de-lança. Como já aqui escrevi, das duas compras no mercado interno que eu gostaria de ver o FC Porto fazer. Mossoró e Ghilas, um já se foi embora baratinho, e o outro corremos o risco de o perder por inércia - como perdemos o Lima para o Benfica. No dia em que parte para o seu estágio holandês, com mais de trinta jogadores à disposição, o primeiro grande teste de Paulo Fonseca é a escolha dos 26 ou 27 com que optará ficar. A sua lista de dispensas começará a levantar o véu sobre as ideias do novo treinador do FC Porto. E eu, que o vejo chegar com esperança, confio que não revele o mesmo desinteresse pelos jovens talentos que o seu antecessor. Em dois anos no FC Porto, e não obstante a quantidade de jovens colocados à sua disposição pela SAD, Vitor Pereira só fez revelar um único talento novo: Mangala. É pouco para um clube que tanto gasta em aquisições de jovens potenciais talentos e que tanto espera vir a ganhar no futuro, com as suas vendas.
No Sporting e avisadamente, o que funciona é a contenção de despesas: tentar despachar jogadores que ganham demais para o orçamento reduzido, tentar adquirir outros por empréstimo, a custo zero ou a tostões. Mas a nova filosofia de parente pobre do futebol português, que é a única que os bancos consentem agora, tem sido acompanhada por uma intensa campanha de marketing, tentando fazer passar por autoridade e inflexibilidade do seu presidente o que não passa de impossibilidade. É assim que tentando adquirir um avançado colombiano desconhecido de todos e a custo zero, o marketing trata logo de fazer constar que ele é o novo Falcão - a custo zero. Ou, quando, depois de muito regatear, Bruno de Carvalho contrata o também avançado Cissè à Académica pela simbólica quantia de 300.000 euros e logo faz saber que lhe impôs uma cláusula de rescisão de 60 milhões. Ou seja, e como Bruno de Carvalho estranhou e criticou que o FC Porto tenha vendido Moutinho abaixo da cláusula de rescisão, pressupõe-se que ele não fará o mesmo e que, portanto, espera que um jogador comprado por 300.000 seja vendido amanha por 60 milhões - mais do que custou Neymar ao Barcelona. Os sócios adoram estas atitudes de «autoridade», «firmeza», «capacidade negocial». Como os sucessivos esforços de Bruno de Carvalho de afastar Bruma do tutor, primeiro, do empresário Pini Zahavi depois, e agora do advogado, mantendo a esperança de um cara-a-cara entre ele e o jogador, que lhe permitiria arrancar-lhe uma assinatura fruto da ingenuidade do guineense. Os sócios adoram isto, adoram ouvir o seu presidente dizer-lhes que já abateu 150 milhões ao passivo, embora não explique, e ninguém lhe pergunte, porque artes mágicas o conseguiu. Adoram a atitude de cortar relações com o FC Porto, mesmo que o pretexto seja fraco e o proveito nulo ou pior. Adoram ouvi-lo dizer que é nas primeiras oito jornadas que o Sporting costuma ser roubado do titulo, o que lhes mantém acesa a chama imensa de uma hipotética candidatura ao titulo e aceso o fogo do rol de queixas com que sempre se consolam das ilusões frustradas. Concedo que seria difícil a qualquer presidente do Sporting, perante o cenário de terror encontrado, ir por outro caminho ou adoptar um discurso de vencido à partida. O marketing ajuda a manter as esperanças e as ilusões, mas, na hora da verdade, o marketing é apenas...marketing. E será então, passado o estado de graça, que Bruno de Carvalho terá de mostrar de que fibra é feito. Adiante veremos.
In a bola