1- Suponho que Jorge Jesus tem a obrigação profissional de ver vários, muitos, jogos de futebol disputados por esse mundo fora. E, se assim é com certeza, só por piada é que de pode dizer que o nosso campeonato é o quinto ou sexto em qualidade. Este fim-de-semana, retido em casa por este mau tempo que não nos larga, fiz uma verdadeira maratona de futebol televisivo, vendo jogos do nosso campeonato e de Inglaterra, Espanha, Itália, Alemanha e Brasil. Adormeci em partes do Paços-Benfica, do Sporting-Olhanense e do Manchester City-Chelsea - onde Mourinho, obrigado a desculpar-se em campo das afirmações mal-educadas que fez sobre o seu colega de trabalho Arsène Wenger, e obrigado a justificar sempre os salários escandalosos que ele e os jogadores da sua equipa de luxo recebem do senhor Abramovich — foi eliminado da Taça de Inglaterra depois de uma exibição que roçou a vergonha (nem uma oportunidade de golo, nem um remate à baliza!). Mas vi também o esplendor de um Barcelona-Rayo Vallecano (6-0), perguntando-me pela enésima vez como é que alguém que goste de futebol não fica pasmado a ver jogar aquele Barcelona e o seu génio Lionel Messi.
Com melhores ou piores jogos, de Bilbau a São Paulo, vi, pelo menos, os jogos serem disputados em relvados onde qualquer um que saiba e queira consegue jogar futebol de categoria. Em contraste, vi o Benfica em Paços de Ferreira e o FC Porto em Barcelos jogarem em batatais onde até o futebol amador deveria ser proibido. É uma vergonha que se invista num estádio novo, pago pelos contribuintes (em Barcelos) ou numa bancada nova (em Paços de Ferreira), e se permita que os relvados continuem a ser da pré-história do futebol. É uma vergonha que, dos 16 clubes que disputam a Liga, apenas 6 tenham relvados aceitáveis para uma competição profissional. Mas esta é a Liga de Clubes que temos, onde a quantidade de clubes significa votos e os votos significam o poder. E o poder serve, não para melhorar a qualidade do espectáculo, defender o público e o jogo, garantir condições de competitividade assente na qualidade, mas sim e apenas para perpetuar funções. Exemplo disto foi também o que vi em Alvalade: um histórico do futebol português, o Olhanense, reduzido a um amontoado de reformados ou autodesignados futebolistas de vários lados do planeta, alguns deles verdadeiramente incapazes de dar um chuto numa bola. (Um tal de Dionisi, ponta-de-lança italiano daquela agremiação, esse então creio ter sido o pior avançado que alguma vez vi pisar um campo desde o inesquecível Paulinho César, trazido para o FC Porto há anos pelo agora regressado empresário Alexandre Pinto da Costa).
Diga-me lá, Jorge Jesus, como é que um campeonato que tem equipas como a do Olhanense e onde a maioria dos campos é impraticável para jogar futebol, pode ser o quinto ou sexto de maior qualidade por esse mundo fora? Não, à partida, este nunca poderia ser um bom campeonato, mas esta época, particularmente, joga-se aqui o pior futebol de sempre. Ao longo da época já jogada, duvido que tenha chegado a haver uma dúzia de jogos que tenham valido o preço do bilhete. Além dos jogos dos três grandes, que vejo por obrigação de escrita, confesso que nada mais me apetece ver, neste campeonato. E, quando me acontece espreitar, por acaso, jogos como um Belenenses-Académica, deste fim-de-semana, sinto-me quase ofendido como espectador e como amante deste jogo maravilhoso. Relvados vergonhosos, equipas que só não querem é perder, jogadores sem classe, treinadores que temem tudo menos atirarem-se aos árbitros para justificar derrotas. E bancadas vazias, é claro. Acho que isso deveria preocupar alguém.
2- Hoje, por volta do meio-dia e já com um atraso difícil de entender, o Conselho de Disciplina da Federação vai, ao que tudo indica, absolver o FC Porto da acusação de ter deliberadamente atrasado a sua entrada em campo contra o Marítimo para daí extrair uma vantagem na disputa com o Sporting pela continuidade na Taça da Liga. Os indícios do veredicto favorável aos portistas começaram assim que se soube que o CD, ao contrário da Comissão de Inquéritos da Liga, tinha, antes de decidir, feito uma coisa imperiosa: dar ao FC Porto (e ao Sporting e à Liga) a faculdade de fazer prova do que afirmavam. Se o FC Porto sustentava que o atraso se devera a assistência de última hora a Fernando, é óbvio que se impunha então ouvir o jogador, o médico, o massagista e o delegado do clube. Isto, que é a base de qualquer processo sancionatório - dar à defesa a possibilidade de se defender — não ocorreu aos justiceiros da Liga. Para eles, a justificação era mentira, porque sim, e não valia a pena sequer perder tempo com ela. O mesmo julgou o presidente do Sporting, afirmando que tanto era mentira que o Fernando até acabara por alinhar de início - como se isso invalidasse que tivesse estado em dúvida a sua utilização, e como se para nada contasse o facto de ele ter acabado por sair, lesionado, antes do intervalo e tenha estado posteriormente ausente da equipa, por lesão, 15 dias. Permitir que o FC Porto fizesse prova no processo do que afirmara era, para estes moralizadores, uma coisa inadmissível, segundo o conceito de justiça que é o seu. E assim se pronunciou, desde logo, o jornal do Sporting.
Também não lhes ajudou à festa saber-se que os delegados da Liga tinham reportado nada terem registado de anormal no jogo e que, por via disso, um deles tenha recebido um telefonema de quem de direito a ordenar que alterasse o relatório, nele introduzindo um facto falso e no sentido pretendido. O que, de facto, deveria agora ser investigado era apurar quem, como, porquê e a pedido de quem se empenhou tanto, na Liga, para derrotar o FC Porto na secretaria.
3- Ninguém tirará ao Sporting o mérito de, lutando com armas desiguais, fruto da situação de falência iminente a que chegou, tentar entrar na luta de topo e recuperar o lugar que já foi seu no futebol português. Mas, se nisso tem mérito, não tem direito a tratamento de favor. A situação a que o Sporting chegou foi unicamente da sua responsabilidade, da nata de empresários de referência que o dirigiram nos últimos anos e que o conduziram à falência, com o apoio dos sócios, e acumulando asneiras e erros de palmatória, fruto da ignorância e arrogância de "grandes senhores" com que se comportavam.
Alguém já se esqueceu, por exemplo, que há poucos anos atrás o Sporting, já em situação desesperada, apostou a cave na compra de uns vinte jogadores de uma assentada, quase todos banais?
Por isso, se é mais do que legítima e saudável a pretensão do Sporting de regressar lá acima, a vontade de o fazer queimando etapas, pisando princípios e reclamando um estatuto de excepção, não o é. A tentativa de afastar na secretaria o FC Porto da Taça da Liga foi muito feia e ficará registada. Da mesma forma que a ninguém escapou que, antes de começar o jogo da Luz, terça-feira passada, o Sporting andou por ali a cheirar, a vasculhar, a tentar descobrir maneira de ganhar também esse jogo na secretaria, sem sequer o disputar, chegando a dizer que podia «evocar» (!) o artigo tal dos regulamentos para não aparecer a jogo e reclamar vitória. Alguma alma com mais bom senso travou internamente tal tentação, mas não conseguiu evitar a mensagem passada para fora: o novo-Sporting, que quer moralizar o futebol português, parece disposto a tudo para ganhar.
A ideia vem-se instalando e, como as pessoas não são parvas, acabam a dizer o mesmo que disse o Mozer: «Parem de chorar e jogam à bola, pô!»
Abola
Com melhores ou piores jogos, de Bilbau a São Paulo, vi, pelo menos, os jogos serem disputados em relvados onde qualquer um que saiba e queira consegue jogar futebol de categoria. Em contraste, vi o Benfica em Paços de Ferreira e o FC Porto em Barcelos jogarem em batatais onde até o futebol amador deveria ser proibido. É uma vergonha que se invista num estádio novo, pago pelos contribuintes (em Barcelos) ou numa bancada nova (em Paços de Ferreira), e se permita que os relvados continuem a ser da pré-história do futebol. É uma vergonha que, dos 16 clubes que disputam a Liga, apenas 6 tenham relvados aceitáveis para uma competição profissional. Mas esta é a Liga de Clubes que temos, onde a quantidade de clubes significa votos e os votos significam o poder. E o poder serve, não para melhorar a qualidade do espectáculo, defender o público e o jogo, garantir condições de competitividade assente na qualidade, mas sim e apenas para perpetuar funções. Exemplo disto foi também o que vi em Alvalade: um histórico do futebol português, o Olhanense, reduzido a um amontoado de reformados ou autodesignados futebolistas de vários lados do planeta, alguns deles verdadeiramente incapazes de dar um chuto numa bola. (Um tal de Dionisi, ponta-de-lança italiano daquela agremiação, esse então creio ter sido o pior avançado que alguma vez vi pisar um campo desde o inesquecível Paulinho César, trazido para o FC Porto há anos pelo agora regressado empresário Alexandre Pinto da Costa).
Diga-me lá, Jorge Jesus, como é que um campeonato que tem equipas como a do Olhanense e onde a maioria dos campos é impraticável para jogar futebol, pode ser o quinto ou sexto de maior qualidade por esse mundo fora? Não, à partida, este nunca poderia ser um bom campeonato, mas esta época, particularmente, joga-se aqui o pior futebol de sempre. Ao longo da época já jogada, duvido que tenha chegado a haver uma dúzia de jogos que tenham valido o preço do bilhete. Além dos jogos dos três grandes, que vejo por obrigação de escrita, confesso que nada mais me apetece ver, neste campeonato. E, quando me acontece espreitar, por acaso, jogos como um Belenenses-Académica, deste fim-de-semana, sinto-me quase ofendido como espectador e como amante deste jogo maravilhoso. Relvados vergonhosos, equipas que só não querem é perder, jogadores sem classe, treinadores que temem tudo menos atirarem-se aos árbitros para justificar derrotas. E bancadas vazias, é claro. Acho que isso deveria preocupar alguém.
2- Hoje, por volta do meio-dia e já com um atraso difícil de entender, o Conselho de Disciplina da Federação vai, ao que tudo indica, absolver o FC Porto da acusação de ter deliberadamente atrasado a sua entrada em campo contra o Marítimo para daí extrair uma vantagem na disputa com o Sporting pela continuidade na Taça da Liga. Os indícios do veredicto favorável aos portistas começaram assim que se soube que o CD, ao contrário da Comissão de Inquéritos da Liga, tinha, antes de decidir, feito uma coisa imperiosa: dar ao FC Porto (e ao Sporting e à Liga) a faculdade de fazer prova do que afirmavam. Se o FC Porto sustentava que o atraso se devera a assistência de última hora a Fernando, é óbvio que se impunha então ouvir o jogador, o médico, o massagista e o delegado do clube. Isto, que é a base de qualquer processo sancionatório - dar à defesa a possibilidade de se defender — não ocorreu aos justiceiros da Liga. Para eles, a justificação era mentira, porque sim, e não valia a pena sequer perder tempo com ela. O mesmo julgou o presidente do Sporting, afirmando que tanto era mentira que o Fernando até acabara por alinhar de início - como se isso invalidasse que tivesse estado em dúvida a sua utilização, e como se para nada contasse o facto de ele ter acabado por sair, lesionado, antes do intervalo e tenha estado posteriormente ausente da equipa, por lesão, 15 dias. Permitir que o FC Porto fizesse prova no processo do que afirmara era, para estes moralizadores, uma coisa inadmissível, segundo o conceito de justiça que é o seu. E assim se pronunciou, desde logo, o jornal do Sporting.
Também não lhes ajudou à festa saber-se que os delegados da Liga tinham reportado nada terem registado de anormal no jogo e que, por via disso, um deles tenha recebido um telefonema de quem de direito a ordenar que alterasse o relatório, nele introduzindo um facto falso e no sentido pretendido. O que, de facto, deveria agora ser investigado era apurar quem, como, porquê e a pedido de quem se empenhou tanto, na Liga, para derrotar o FC Porto na secretaria.
3- Ninguém tirará ao Sporting o mérito de, lutando com armas desiguais, fruto da situação de falência iminente a que chegou, tentar entrar na luta de topo e recuperar o lugar que já foi seu no futebol português. Mas, se nisso tem mérito, não tem direito a tratamento de favor. A situação a que o Sporting chegou foi unicamente da sua responsabilidade, da nata de empresários de referência que o dirigiram nos últimos anos e que o conduziram à falência, com o apoio dos sócios, e acumulando asneiras e erros de palmatória, fruto da ignorância e arrogância de "grandes senhores" com que se comportavam.
Alguém já se esqueceu, por exemplo, que há poucos anos atrás o Sporting, já em situação desesperada, apostou a cave na compra de uns vinte jogadores de uma assentada, quase todos banais?
Por isso, se é mais do que legítima e saudável a pretensão do Sporting de regressar lá acima, a vontade de o fazer queimando etapas, pisando princípios e reclamando um estatuto de excepção, não o é. A tentativa de afastar na secretaria o FC Porto da Taça da Liga foi muito feia e ficará registada. Da mesma forma que a ninguém escapou que, antes de começar o jogo da Luz, terça-feira passada, o Sporting andou por ali a cheirar, a vasculhar, a tentar descobrir maneira de ganhar também esse jogo na secretaria, sem sequer o disputar, chegando a dizer que podia «evocar» (!) o artigo tal dos regulamentos para não aparecer a jogo e reclamar vitória. Alguma alma com mais bom senso travou internamente tal tentação, mas não conseguiu evitar a mensagem passada para fora: o novo-Sporting, que quer moralizar o futebol português, parece disposto a tudo para ganhar.
A ideia vem-se instalando e, como as pessoas não são parvas, acabam a dizer o mesmo que disse o Mozer: «Parem de chorar e jogam à bola, pô!»
Abola