1- Julen Lopetegui parece-me um tipo simpático e dotado de senso comum, o que já não é pouco, pois nem sempre acontece com os treinadores. Espero - o que já seria muito - que ele não pertença àquela categoria de treinadores que conseguem avaliar o jogo e os jogadores ao contrário do que o senso comum e olhar da bancada vê. Estou cansado de treinadores que não sabem ou não querem distinguir um bom jogador de um jogador medíocre e que confundem um mau desempenho com um desempenho aceitável. Mas Lopetegui, ao chegar ao FC Porto (que não é propriamente um clube menor e habituado às derrotas), assumiu um imenso risco, pois que, como escreveu alguém há dias, ele contrariou o princípio contratual entre um treinador e um clube. O princípio estabelece que um treinador chega, chega para treinar a equipa que existe, e não o contrário: sem prejuízo de, obviamente, o treinador poder desejar e pedir reforços que lhe são ou não entregues, a regra é que ele veio para treinar aquela equipa e não outra, a inventar. Mas é isso mesmo que, aparentemente, Lopetegui está a fazer no FC Porto: inventar uma nova equipa para treinar.
A ideia não deixa de ser aliciante (e por isso o Dragão encheu-se para ver o jogo de apresentação da nova equipa de Lopetegui), mas contém riscos e suscita legítimas questões: questões óbvias do ponto de vista financeiro e questões pertinentes do ponto de vista desportivo. De três em três dias, chega ao FC Porto, por indicação de Lopetegui, um novo jogador que, ou é espanhol, ou vem de Espanha. E isso leva-nos forçosamente a perguntar: seriam precisos assim tantos novos jogadores? Não vamos cair, uma vez mais, num excesso de plantel que afasta jogadores promissores que não chegam a ter tempo de evoluir? Não vamos, uma vez mais e com a excepção aparente do jovem Rúben Neve, desprezar toda a formação das escolas do clube? Não vamos deitar por terra todo o trabalho de scouting do clube, como se, de repente, só houvesse jogadores apetecíveis em terras de Espanha? Não vamos transformar uma equipa de raiz (vagamente, é certo) portuguesa numa equipa de matriz exclusivamente espanhola? E será que o novo treinador, querendo introduzir na equipa as boas soluções da recente escola espanhola, só o poderá fazer com jogadores formados em Espanha?
Bom, não sei, sei que são perguntas que fatalmente me ocorrem ao espírito, e embora deva confessar que, nesta matéria das estonteantes pré-épocas de intermináveis negócios, eu sou, por natureza, um conservador: para mim, o normal numa equipa habituada a ganhar, é comprar, no início de cada época, não mais do que quatro ou cinco jogadores, dos quais dois para entrarem de caras no onze principal; tentar, correspondentemente, livrar-se de outros 4/5 jogadores que já tenham tido tempo suficiente para demonstrar que não evoluem o necessário; e promover ao plantei principal 2/3 jogadores vindos dos juniores ou da equipa B. Ou seja, garantir, de ano para ano, uma matriz fundacional da equipa, que assegure a continuidade, com renovação parcial, de uma escola de trabalho mantida e aperfeiçoada ao longo dos tempos. O que agora se está a assistir no FC Porto é o oposto disso: é e revolução integral ou quase. Como disse, e lembrando a pobreza exibicional e competitiva da equipa desde a saída de Villas Boas, a mudança de agulha promovida pelo novo treinador não deixa de ser aliciante - desde que resulte.
Enquanto muitas caras novas entram, alguns vão sair. Entre os nomes apontados ou já confirmados, devo dizer que não tenho qualquer objecção a opor e que eles me parecem, aliás, confirmar o tal critério de bom-senso que julgo adivinhar em Lopetegui. Defour e Varela, os meus leitores sabem que não morro de amores por eles e que será sem pena alguma que os verei partir para novos horizontes onde ambos estimam vir a ser melhor apreciados. Josué e Abdoulaye são dois jogadores que verei partir com pena, mas apenas com pena de não terem conseguido confirmar as esperanças neles depositadas e aproveitar as oportunidades de que gozaram. Licá foi sempre um erro de casting e Ghilas nunca conseguiu demonstrar, nem de perto nem de longe, porque razão valeu há um ano os exorbitantes 3,8 milhões que a SAD do F.C. Porto pagou por metade do seu passe - e cuja incredulidade, por mim aqui manifestada, me valeu, aliás, o processo que a SAD me interpôs e que decorre em tribunal. E onde eu aguardo com curiosidade para ver algum responsável da SAD explicar porque se oferece 3,8 milhões por metade de um passe de um jogador cuja cláusula de rescisão era de 2 milhões e que, passado um ano e 4 golos marcados como goleador, é dispensado. Mas isso são contas de outro foro e de cujo desfecho a seu tempo darei notícias.
Do pouco que vi dos desafios de pré-época, não tiro, para já, nenhumas conclusões; nem boas nem más, é para isso que servem os jogos de pré-época. Não tiro conclusões, nem dos jogos do meu clube, nem dos jogos dos seus rivais: não embandeiro era arco com as notícias das dificuldades que Jorge Jesus está a ter para reerguer uma equipa desfeita nem levo a sério a euforia dos adeptos e alguns responsáveis sportinguistas (não o seu treinador) com os bons resultados dos jogos de preparação. E até sorrio quando leio que um novo jogador sportinguista, estrangeiro e sem nada conhecer dos rivais e do campeonato português, apresenta o Sporting como o principal candidato ao título: eis o espírito sportinguista de sempre, o que eu mais gosto. No futebol como no resto, o que eu mais temo são os adversários silenciosos, que trabalham na sombra e a longo prazo, sabendo que não interessa começar bem para acabar mal; já os outros, os que acham que quinze dias de trabalho já chegam para se imaginarem campeões, esses, a gente come-os ao pequeno-almoço.
Não dou, portanto, quase nenhuma importância ao desempenho portista nesta pré-época, sobretudo nas mãos de um treinador novo e vindo de fora, com uma equipa quase toda nova e vinda de fora. E prefiro ver jogadores cansados agora, porque estão a ganhar envergadura física para uma época inteira, do que vê-los cansados em Dezembro ou Março, quando tudo se decide. Fico contente por saber que, em teoria, pelo menos, o FC Porto se reforçou onde mais devia - no meio-campo criativo, com jogadores como Óliver e Brahimi, a juntar a Quintero, Herrera e Carlos Eduardo - e que dispõe, à partida, de duas duplas de extremos que permitem sonhar alto - Quaresma e Ricardo, a acrescentar a Adrián López e Tello. Falta, e não é pouco, ver resolvida a questão do ponta-de-lança: sai ou fica Jackson? Se sair, arranja-se alguém que dê o mínimo de garantias para lugar tão importante? Ou, correndo todos os riscos inerentes, Lopetegui quererá experimentar a alternativa de um onze sem ponta-de-lança natural, ao estilo espanhol?
2- Sempre achei que um bom ambiente de trabalho, um escritório ou umas instalações bonitas, podem fazer muito pela produtividade de quem trabalha. Foi assim com grande satisfação que vi Óliver Torres, novo reforço portista, afirmar-se feliz por se estrear com a camisola azul e branca num estádio tão bonito como o Dragão. Porque é, de facto, o estádio mais bonito que eu já vi e porque é bom ver um jogador de futebol que liga importância a isso e não se limita a debitar banalidades, como se todo o mundo que o rodeia lhe fosse indiferente.
A ideia não deixa de ser aliciante (e por isso o Dragão encheu-se para ver o jogo de apresentação da nova equipa de Lopetegui), mas contém riscos e suscita legítimas questões: questões óbvias do ponto de vista financeiro e questões pertinentes do ponto de vista desportivo. De três em três dias, chega ao FC Porto, por indicação de Lopetegui, um novo jogador que, ou é espanhol, ou vem de Espanha. E isso leva-nos forçosamente a perguntar: seriam precisos assim tantos novos jogadores? Não vamos cair, uma vez mais, num excesso de plantel que afasta jogadores promissores que não chegam a ter tempo de evoluir? Não vamos, uma vez mais e com a excepção aparente do jovem Rúben Neve, desprezar toda a formação das escolas do clube? Não vamos deitar por terra todo o trabalho de scouting do clube, como se, de repente, só houvesse jogadores apetecíveis em terras de Espanha? Não vamos transformar uma equipa de raiz (vagamente, é certo) portuguesa numa equipa de matriz exclusivamente espanhola? E será que o novo treinador, querendo introduzir na equipa as boas soluções da recente escola espanhola, só o poderá fazer com jogadores formados em Espanha?
Bom, não sei, sei que são perguntas que fatalmente me ocorrem ao espírito, e embora deva confessar que, nesta matéria das estonteantes pré-épocas de intermináveis negócios, eu sou, por natureza, um conservador: para mim, o normal numa equipa habituada a ganhar, é comprar, no início de cada época, não mais do que quatro ou cinco jogadores, dos quais dois para entrarem de caras no onze principal; tentar, correspondentemente, livrar-se de outros 4/5 jogadores que já tenham tido tempo suficiente para demonstrar que não evoluem o necessário; e promover ao plantei principal 2/3 jogadores vindos dos juniores ou da equipa B. Ou seja, garantir, de ano para ano, uma matriz fundacional da equipa, que assegure a continuidade, com renovação parcial, de uma escola de trabalho mantida e aperfeiçoada ao longo dos tempos. O que agora se está a assistir no FC Porto é o oposto disso: é e revolução integral ou quase. Como disse, e lembrando a pobreza exibicional e competitiva da equipa desde a saída de Villas Boas, a mudança de agulha promovida pelo novo treinador não deixa de ser aliciante - desde que resulte.
Enquanto muitas caras novas entram, alguns vão sair. Entre os nomes apontados ou já confirmados, devo dizer que não tenho qualquer objecção a opor e que eles me parecem, aliás, confirmar o tal critério de bom-senso que julgo adivinhar em Lopetegui. Defour e Varela, os meus leitores sabem que não morro de amores por eles e que será sem pena alguma que os verei partir para novos horizontes onde ambos estimam vir a ser melhor apreciados. Josué e Abdoulaye são dois jogadores que verei partir com pena, mas apenas com pena de não terem conseguido confirmar as esperanças neles depositadas e aproveitar as oportunidades de que gozaram. Licá foi sempre um erro de casting e Ghilas nunca conseguiu demonstrar, nem de perto nem de longe, porque razão valeu há um ano os exorbitantes 3,8 milhões que a SAD do F.C. Porto pagou por metade do seu passe - e cuja incredulidade, por mim aqui manifestada, me valeu, aliás, o processo que a SAD me interpôs e que decorre em tribunal. E onde eu aguardo com curiosidade para ver algum responsável da SAD explicar porque se oferece 3,8 milhões por metade de um passe de um jogador cuja cláusula de rescisão era de 2 milhões e que, passado um ano e 4 golos marcados como goleador, é dispensado. Mas isso são contas de outro foro e de cujo desfecho a seu tempo darei notícias.
Do pouco que vi dos desafios de pré-época, não tiro, para já, nenhumas conclusões; nem boas nem más, é para isso que servem os jogos de pré-época. Não tiro conclusões, nem dos jogos do meu clube, nem dos jogos dos seus rivais: não embandeiro era arco com as notícias das dificuldades que Jorge Jesus está a ter para reerguer uma equipa desfeita nem levo a sério a euforia dos adeptos e alguns responsáveis sportinguistas (não o seu treinador) com os bons resultados dos jogos de preparação. E até sorrio quando leio que um novo jogador sportinguista, estrangeiro e sem nada conhecer dos rivais e do campeonato português, apresenta o Sporting como o principal candidato ao título: eis o espírito sportinguista de sempre, o que eu mais gosto. No futebol como no resto, o que eu mais temo são os adversários silenciosos, que trabalham na sombra e a longo prazo, sabendo que não interessa começar bem para acabar mal; já os outros, os que acham que quinze dias de trabalho já chegam para se imaginarem campeões, esses, a gente come-os ao pequeno-almoço.
Não dou, portanto, quase nenhuma importância ao desempenho portista nesta pré-época, sobretudo nas mãos de um treinador novo e vindo de fora, com uma equipa quase toda nova e vinda de fora. E prefiro ver jogadores cansados agora, porque estão a ganhar envergadura física para uma época inteira, do que vê-los cansados em Dezembro ou Março, quando tudo se decide. Fico contente por saber que, em teoria, pelo menos, o FC Porto se reforçou onde mais devia - no meio-campo criativo, com jogadores como Óliver e Brahimi, a juntar a Quintero, Herrera e Carlos Eduardo - e que dispõe, à partida, de duas duplas de extremos que permitem sonhar alto - Quaresma e Ricardo, a acrescentar a Adrián López e Tello. Falta, e não é pouco, ver resolvida a questão do ponta-de-lança: sai ou fica Jackson? Se sair, arranja-se alguém que dê o mínimo de garantias para lugar tão importante? Ou, correndo todos os riscos inerentes, Lopetegui quererá experimentar a alternativa de um onze sem ponta-de-lança natural, ao estilo espanhol?
2- Sempre achei que um bom ambiente de trabalho, um escritório ou umas instalações bonitas, podem fazer muito pela produtividade de quem trabalha. Foi assim com grande satisfação que vi Óliver Torres, novo reforço portista, afirmar-se feliz por se estrear com a camisola azul e branca num estádio tão bonito como o Dragão. Porque é, de facto, o estádio mais bonito que eu já vi e porque é bom ver um jogador de futebol que liga importância a isso e não se limita a debitar banalidades, como se todo o mundo que o rodeia lhe fosse indiferente.
a abola