1- Já vou falar de futebol, que é aquilo que mais nos ocupa. Mas, antes de ir ao grande futebol do Mundial e ao futebolzinho nacional, de intrigas e lamurias, deixem-me falar do desporto que, por diversas vezes já, considerei o mais espectacular, o mais sério, o mais próximo do ideal de desporto: o ténis. O ténis é um duelo arrebatador, exclusivamente determinado pela classe, pelos recursos técnicos, pela combatividade e pela capacidade de superar-se emocionalmente. No ténis, não há jogadores com tatuagens nem penteados ridículos, a dizerem baboseiras de circunstância, tais como «há que levantar a cabeça»; não há treinadores histéricos aos gritos, nem reclamações com o árbitro nem teorias da conspiração; não há desrespeito pelo público ou pelo adversário, há sim uma tradição de verdadeiro fair play que obriga a agradecer ao primeiro e a cumprimentar o segundo, no final.
Se alguém um dia me quiser dar um presente inesquecível, dê-me, por favor, um bilhete para a final de Wimbledon — em minha opinião, o melhor espectáculo desportivo do mundo. No ano passado, tentei o que pude, mas não consegui um ingresso para a final de Wimbledon, no mítico All England Lawn Tennis Club. E assim, anteontem, mais uma vez, lá me sentei em frente à televisão, para presenciar uma final inesquecível, que durou quatro horas de jogo a altíssimo nível (à atenção da equipe técnica da nossa Seleção de futebol: sem cãibras, nem entorses, nem roturas!). Julgo que desde a épica final em que John McEnroe quebrou os cinco anos consecutivos de vitórias de Bjorn Borg, que não assistia a uma final de Wimbledon tão empolgante. Quem viu, nunca mais esquece, quem não viu, nem sabe o que perdeu, é como ter visto dançar a Margot Fonteyn e o Rudolf Nureyev no Lago dos Cisnes. Djokovic (que vi, ao vivo, dar os primeiros passos como profissional, no Open do Estoril), conseguiu a sua segunda vitória, impedindo que Federer aumentasse o seu recorde de oito vitórias em Wimbledon e que se tivesse tornado, aos 32 anos, o mais velho vencedor de sempre. Conseguiu-o essencialmente graças ao seu demolidor jogo de fundo de court e aos seus fabulosos passing shots (16 winners, no total!). Mas eu, claro, estava por Federer, que julgo ser o melhor, mais completo e mais elegante jogador que alguma vez vi. Em minha opinião, só perde para o meu ídolo McEnroe no fascínio que a rebeldia deste, o seu carácter e o seu ténis de eterno risco, sempre ao ataque, despertava em mim. Mas Roger Federer é, de facto, o jogador e o desportista perfeito. Muito melhor que Djokovic na rede e nas bolas mais técnicas, e muito melhor no serviço (22 ases durante a final!). Além disso, anteontem terá sido, muito possivelmente, a última hipótese de Federer, já na fase descendente da sua incomparável carreira, chegar à final de Wimbledon. Embora tenha prometido voltar para o ano ao torneio, ele próprio o deve ter sentido - como ficou patente na forma como desafiou todas as previsões quando, a perder por 2-1 em sets e 5-2 na quarta partida, acabou a vencê-la por 7-5, forcando a negra. Quem viu, não esquecerá nunca.
2- Torci em vão pela Colômbia contra o Brasil. Não, porque prefira a Colômbia ao Brasil, como país (longe, muito longe disso!), mas porque a selecção da Colômbia tem muito do que foi e ainda é o meu FC Porto. E porque não suporto Scolari e a sua eterna sorte, que ele faz passar por talento. Qualquer um estaria na iminência de ser campeão do mundo com esta selecção brasileira, sem ter de passar pelos sufocos que ela tem passado e sem ter de apresentar um futebol tão triste e tão calculista. Ver os jogadores de luxo do Brasil passarem os últimos 20 minutos do jogo contra a Colômbia a chutarem a bola para onde estavam virados e para o mais longe possível da sua área, foi um atestado de incompetência passado a Scolari. A Alemanha, hoje à noite, vai ser o verdadeiro teste de fogo do Brasil. E, sem Neymar, vai ver-se o que vale realmente esta Selecção. Já não é sem tempo.
3- Tenho-me perguntado várias vezes o que pensará Vítor Pereira ao ver James Rodríguez, um jogador que ele desprezou, ser unanimemente considerado o melhor do Mundial. É que nem vale a pena vir com a desculpa de que já passaram dois ou três anos e que o James de então não era igual ao de hoje: era sim, já o tinha mais do que provado para quem quer que soubesse ver futebol e no ano anterior, na fabulosa equipa de Vilas Boas (lembram-se: ataque com Hulk, Falcão e James, com Guarin e Moutinho atrás?). É por estas e outras que eu não enfio a carapuça que Jorge Jesus propôs aos médicos e advogados que falam de futebol sem nada perceber: eu passei um ano inteiro, desesperado, a escrever aqui que não entendia que Vítor Pereira preferisse Varela ou Cristian Rodríguez (e até, às vezes, Mariano González!) a James e o ignorante era eu? E o Atsu, que ele também deitou fora e que Mourinho foi buscar? E o Candeias, que o próprio Jorge Jesus acaba de aproveitar para o Benfica? Não, desculpem lá, eu nunca entendi, nem quero entender, os treinadores que, ou não sabem distinguir um jogador excepcional de um jogador banal, ou, sabendo-o, acham muito perigosos e inconvenientes tacticamente os grandes jogadores. É essa mentalidade pequenina que leva um Paulo Bento a deixar de fora do Mundial jogadores como o Bebé ou o Ricardo Quaresma. Quem tem medo dos grandes jogadores, que compre um cão!
4- Tenho muito respeito por Augusto Inácio e não esqueço o que o FC Porto lhe deve, como jogador e como treinador. E também percebo que, no novo Sporting, da transparência e de Bruno de Carvalho, convém adoptar obedientemente o discurso oficial. Mas, porque tenho respeito por ele, lastimo que Augusto Inácio não revele, já nem digo respeito pela verdade, mas, ao menos, pela inteligência alheia. Quando na Gala do Sporting, talvez empolgado pela presença dos seus dois presidentes (o do clube e o da Liga de Clubes), ele veio afirmar «esperamos que haja verdade desportiva, porque, no ano passado, nos momentos chave, houve sempre um dedinho a impedir nos de somar pontos e com os outros foi ao contrário», Inácio prestou-se a gozar connosco. Ora, por favor, deixe-me reavivar a sua memória desportiva. Dois desses momentos chave, foram, como é evidente, os dois jogos contra o FC Porto, onde se decidia o segundo lugar e o consequente acesso à Champions que, só por si, vale oito milhões de euros. E o que sucedeu nesses dois jogos? No primeiro, no Dragão, nada: o FC Porto ganhou 2-0 sem espinhas e nem a mais exaltada voz sportinguista se ouviu a reclamar o que quer que fosse. Em Alvalade, sucedeu isto: com 0-0, Jackson foi abalroado pelas costas por Cédric, quando, isoladíssimo, ia cabecear para a baliza deserta, a um metro de distância. Era penalty, expulsão e, muito provavelmente, o 0-1, mas Pedro Proença, por razões que talvez um dia explique, preferiu fingir que não tinha visto nada. E depois foi o golo da vitória do Sporting, por todos reconhecido como tendo nascido em off-side. Este momento-chave também entra nas contas de Inácio? E, quando fala do benefício dos outros, estará a pensar nos 8 a 10 (dez!) pontos que o FC Porto perdeu, devido a decisões erradas de arbitragem, nas deslocações a todos os estádios dos seus adversários mais próximos — Luz, Alvalade, Estoril e Choupana? Devo concluir que, para este ano, o Sporting e Augusto Inácio ainda querem mais? Claro que eu sei que sim, mas, caramba, que haja ao menos algum decoro: só passaram uns meses e ninguém esqueceu ainda!
Se alguém um dia me quiser dar um presente inesquecível, dê-me, por favor, um bilhete para a final de Wimbledon — em minha opinião, o melhor espectáculo desportivo do mundo. No ano passado, tentei o que pude, mas não consegui um ingresso para a final de Wimbledon, no mítico All England Lawn Tennis Club. E assim, anteontem, mais uma vez, lá me sentei em frente à televisão, para presenciar uma final inesquecível, que durou quatro horas de jogo a altíssimo nível (à atenção da equipe técnica da nossa Seleção de futebol: sem cãibras, nem entorses, nem roturas!). Julgo que desde a épica final em que John McEnroe quebrou os cinco anos consecutivos de vitórias de Bjorn Borg, que não assistia a uma final de Wimbledon tão empolgante. Quem viu, nunca mais esquece, quem não viu, nem sabe o que perdeu, é como ter visto dançar a Margot Fonteyn e o Rudolf Nureyev no Lago dos Cisnes. Djokovic (que vi, ao vivo, dar os primeiros passos como profissional, no Open do Estoril), conseguiu a sua segunda vitória, impedindo que Federer aumentasse o seu recorde de oito vitórias em Wimbledon e que se tivesse tornado, aos 32 anos, o mais velho vencedor de sempre. Conseguiu-o essencialmente graças ao seu demolidor jogo de fundo de court e aos seus fabulosos passing shots (16 winners, no total!). Mas eu, claro, estava por Federer, que julgo ser o melhor, mais completo e mais elegante jogador que alguma vez vi. Em minha opinião, só perde para o meu ídolo McEnroe no fascínio que a rebeldia deste, o seu carácter e o seu ténis de eterno risco, sempre ao ataque, despertava em mim. Mas Roger Federer é, de facto, o jogador e o desportista perfeito. Muito melhor que Djokovic na rede e nas bolas mais técnicas, e muito melhor no serviço (22 ases durante a final!). Além disso, anteontem terá sido, muito possivelmente, a última hipótese de Federer, já na fase descendente da sua incomparável carreira, chegar à final de Wimbledon. Embora tenha prometido voltar para o ano ao torneio, ele próprio o deve ter sentido - como ficou patente na forma como desafiou todas as previsões quando, a perder por 2-1 em sets e 5-2 na quarta partida, acabou a vencê-la por 7-5, forcando a negra. Quem viu, não esquecerá nunca.
2- Torci em vão pela Colômbia contra o Brasil. Não, porque prefira a Colômbia ao Brasil, como país (longe, muito longe disso!), mas porque a selecção da Colômbia tem muito do que foi e ainda é o meu FC Porto. E porque não suporto Scolari e a sua eterna sorte, que ele faz passar por talento. Qualquer um estaria na iminência de ser campeão do mundo com esta selecção brasileira, sem ter de passar pelos sufocos que ela tem passado e sem ter de apresentar um futebol tão triste e tão calculista. Ver os jogadores de luxo do Brasil passarem os últimos 20 minutos do jogo contra a Colômbia a chutarem a bola para onde estavam virados e para o mais longe possível da sua área, foi um atestado de incompetência passado a Scolari. A Alemanha, hoje à noite, vai ser o verdadeiro teste de fogo do Brasil. E, sem Neymar, vai ver-se o que vale realmente esta Selecção. Já não é sem tempo.
3- Tenho-me perguntado várias vezes o que pensará Vítor Pereira ao ver James Rodríguez, um jogador que ele desprezou, ser unanimemente considerado o melhor do Mundial. É que nem vale a pena vir com a desculpa de que já passaram dois ou três anos e que o James de então não era igual ao de hoje: era sim, já o tinha mais do que provado para quem quer que soubesse ver futebol e no ano anterior, na fabulosa equipa de Vilas Boas (lembram-se: ataque com Hulk, Falcão e James, com Guarin e Moutinho atrás?). É por estas e outras que eu não enfio a carapuça que Jorge Jesus propôs aos médicos e advogados que falam de futebol sem nada perceber: eu passei um ano inteiro, desesperado, a escrever aqui que não entendia que Vítor Pereira preferisse Varela ou Cristian Rodríguez (e até, às vezes, Mariano González!) a James e o ignorante era eu? E o Atsu, que ele também deitou fora e que Mourinho foi buscar? E o Candeias, que o próprio Jorge Jesus acaba de aproveitar para o Benfica? Não, desculpem lá, eu nunca entendi, nem quero entender, os treinadores que, ou não sabem distinguir um jogador excepcional de um jogador banal, ou, sabendo-o, acham muito perigosos e inconvenientes tacticamente os grandes jogadores. É essa mentalidade pequenina que leva um Paulo Bento a deixar de fora do Mundial jogadores como o Bebé ou o Ricardo Quaresma. Quem tem medo dos grandes jogadores, que compre um cão!
4- Tenho muito respeito por Augusto Inácio e não esqueço o que o FC Porto lhe deve, como jogador e como treinador. E também percebo que, no novo Sporting, da transparência e de Bruno de Carvalho, convém adoptar obedientemente o discurso oficial. Mas, porque tenho respeito por ele, lastimo que Augusto Inácio não revele, já nem digo respeito pela verdade, mas, ao menos, pela inteligência alheia. Quando na Gala do Sporting, talvez empolgado pela presença dos seus dois presidentes (o do clube e o da Liga de Clubes), ele veio afirmar «esperamos que haja verdade desportiva, porque, no ano passado, nos momentos chave, houve sempre um dedinho a impedir nos de somar pontos e com os outros foi ao contrário», Inácio prestou-se a gozar connosco. Ora, por favor, deixe-me reavivar a sua memória desportiva. Dois desses momentos chave, foram, como é evidente, os dois jogos contra o FC Porto, onde se decidia o segundo lugar e o consequente acesso à Champions que, só por si, vale oito milhões de euros. E o que sucedeu nesses dois jogos? No primeiro, no Dragão, nada: o FC Porto ganhou 2-0 sem espinhas e nem a mais exaltada voz sportinguista se ouviu a reclamar o que quer que fosse. Em Alvalade, sucedeu isto: com 0-0, Jackson foi abalroado pelas costas por Cédric, quando, isoladíssimo, ia cabecear para a baliza deserta, a um metro de distância. Era penalty, expulsão e, muito provavelmente, o 0-1, mas Pedro Proença, por razões que talvez um dia explique, preferiu fingir que não tinha visto nada. E depois foi o golo da vitória do Sporting, por todos reconhecido como tendo nascido em off-side. Este momento-chave também entra nas contas de Inácio? E, quando fala do benefício dos outros, estará a pensar nos 8 a 10 (dez!) pontos que o FC Porto perdeu, devido a decisões erradas de arbitragem, nas deslocações a todos os estádios dos seus adversários mais próximos — Luz, Alvalade, Estoril e Choupana? Devo concluir que, para este ano, o Sporting e Augusto Inácio ainda querem mais? Claro que eu sei que sim, mas, caramba, que haja ao menos algum decoro: só passaram uns meses e ninguém esqueceu ainda!