1- Guerras de empresários, cenas de pancadaria, mais suspeitas sobre os fundos de jogadores, negócios de milhões, falências à vista: bem-vindos a mais uma época do futebol português, em tudo semelhante às anteriores.
Comecemos pela anunciada iminente falência da própria Liga de Clubes, que obrigou o seu presidente, o notável Mário Figueiredo, a ter de fazer uma insólita declaração de que os campeonatos não estavam em risco. Porém, ao que parece, tal declaração não terá tranquilizado ninguém, pois que, como aqui se explicava há dias, consta que, enquanto o seu presidente continua a auferir o seu generoso salário e a usufruir de motorista em carro topo de gama, os funcionários da Liga já não receberão salários e os fornecedores não são pagos — todos à espera que o Sr. Figueiredo produza a montanha de dinheiro que prometeu sacar à Olivedesportos pelas transmissões televisivas, e as sim sem mais. Este homem, passe o seu descaramento, é, de facto, um fenómeno: deve ser o único presidente de uma qualquer instituição planetária que conseguiu manter-se em funções porque o seu presidente da Assembleia Geral recusou-se sistematicamente a convocar uma assembleia para o destituir, invocando sucessivos pretextos jurídicos, até terminar num deveras inatacável: ele não concordava com as razões para a destituição e era ele, não os sócios, que tinha de concordar. Depois, ainda teve o topete de se reapresentar a eleições e, sempre contando com a mesma ajuda, inventou um esquema infalível para evitar a sua mais do que certa derrota, qual foi o de declarar irregulares todas as candidaturas menos a sua. E, assim reeleito com 25% dos votos, incluindo o do Sporting, cujo presidente viu nele o verdadeiro símbolo da transparência no futebol, o papel higiénico capaz de limpar as emanações escatológicas do orifício anal (conforme explicou num discurso que para sempre marcará a história do nosso futebol e dos seus dirigente?), o Sr. Mário Figueiredo aí está, firme como uma rocha, a fazer da Liga de Clubes um cadáver adiado, cuja única razão de ser reduz-se a manter o seu próprio tacho e fazer os favores necessários aos clubes que o apoiarem, com o Sporting à cabeça e o Benfica na expectativa. Anuncia-se um desastre inaudito: talvez a suspensão ou anulação do campeonato, aí por alturas do Natal, quando se perceber que o Sporting não vai ser campeão. Seria mais uma fórmula inédita de garantir a transparência.
2- Lá pela minha terra, no meu clube, sucedem-se as revoadas de contratações que tanto animam e agitam os dirigentes nesta época do ano. Desta vez, parece que a animação é maior do que nunca, com cenas de bofetadas, de insultos e de chega-para lá entre empresários e dirigentes. Segundo relatam os jornais, guerra intestina estará a ser ganha pelo ex-filho pródigo do presidente, regressado em força e em grande estilo para prestar ao clube os relevantes serviços que os sócios tão bem conhecem do passado. Mas não hei-de morrer sem ver o meu clube ser dirigido por gente que nada queira ganhar com ele.
Do novo treinador e dos reforços, nada posso dizer, por enquanto. A verdade é que não conheço um nem os outros. Gosto que a escolha tenha recaído num estrangeiro, mas, como todos, sinto alguma apreensão por se tratar de alguém que vai aprender agora a treinar um clube, e não já selecções jovens. Quanto aos reforços, dizem-me que são bons e eu quero crer que sim, mas também sinto alguma apreensão, pela sustentabilidade dos investimentos feitos num clube em pré-falência, como todos, e que, mais uma vez, dá indicações de ir desprezar as escolas de formação do clube, a experiência da Equipa B e o mais que defunto Projecto Dragon Force. Os clubes estão cheios de boas intenções que, na época dos negócios, são rapidamente esquecidas.
Neste momento, e sem ainda ter visto nada, o que tenho de mais sólido e esperançoso, a nível de reforço da época portista, é o desmembrar da grande equipa que o Benfica tinha e uma vaga, ténue possibilidade, (mas em que francamente não acredito) da venda de Varela e Defour (este último, com uma única aparição no Mundial, onde revelou o seu ponto mais forte, já conhecido dos portistas, que é a inteligência de se fazer expulsar ainda na primeira parte dos jogos mais importantes). De resto, duas certezas: uma, a de a língua oficial do clube, este ano, é o espanhol; e outra, a de que não vai ser fácil preencher a quota de jogadores formados no clube, para efeitos de inscrição na Champions. Aliás, a entrada no quadro final desta competição, ultrapassando a pré-eliminatória, vai ser, desde logo, o primeiro objectivo a atingir na época, sob pena de as grandes expectativas que se estão a criar levarem logo um forte e traumático rombo inicial.
3- Grande parte destes constantes negócios de compra e venda de jogadores, sobretudo nos grandes, passa por essa entidade misteriosa que são os fundos de jogadores. Anteontem, o Diário de Notícias trazia uma longa investigação sobre o assunto, mas que, infelizmente, não conseguia avançar muito no esclarecimento. Fiquei a saber o que já sabia; que estão proibidos em Inglaterra e em França, que a UEFA os quer banir mas a FIFA não. Que os fundos são essenciais para que os grandes clubes portugueses possam competir a alto nível, obtendo co-financiamento na compra de jogadores de qualidade, mas que a sua opacidade e o cruzamento entre os investidores dos fundos, os empresários de jogadores e, possivelmente até, dirigentes dos clubes, é fonte de toda a ordem de suspeitas e prejuízo na formação de jogadores portugueses. Porque o negócio dos fundos exige uma alta rotatividade de jogadores, constantes negócios de compra e venda de estrangeiros, prejudicando seriamente a formação e os atletas portugueses. Entre estes interesses opostos entre um mal necessário e outro, a única coisa que parece evidente é a necessidade de que os fundos sejam regulamentados e abertos. Nomeadamente, que se saiba quem são os seus detentores e principais investidores e que estejam disponíveis a quem quer que queira investir neste negócio. De outro modo, tudo é demasiado opaco e nebuloso, passando-se em sociedades off-shore, que não se sabe a quem pertencem, logo que interesses servem realmente. O futebol é cada vez mais um negócio multinacional, em que muitas empresas e muita gente ganha fortunas. Mas, curiosamente, há uma entidade que raramente ganha a prazo, que é quem paga a fatia de leão dos custos e à roda de quem todos gravitam: os clubes. E o que é estranho é que, enquanto cada vez mais dinheiro circula e mais gente enriquece, do Real Madrid ao Beira-Mar, os clubes têm quase todos em comum uma coisa: estarem tecnicamente falidos. Dá que pensar...
4- Muito cautelosas e avisadas as declarações iniciais dos treinadores dos três principais e crónicos candidatos ao título. Julian Lopetegui mostrando-se satisfeito com a evolução dos trabalhos e com a equipa que terá ao dispor — grande parte dela escolhida a dedo por si. Jorge Jesus assistindo, sem angústias aparentes, ao desmoronar da equipa que na época passada tinha ao dispor, dizendo que o Benfica está a pagar o preço do sucesso. E Marco Silva recusando, com a elegância que sempre mostrou, o favoritismo que os dirigentes do clube querem atribuir ao Sporting — como de costume, sem se preocuparem em levar em conta o que os rivais possam fazer. Oxalá todos mantenham a mesma contenção ao longo da época, a benefício de uma disputa sem golpes baixos, imune à histeria e desejo de protagonismo dos dirigentes.
Comecemos pela anunciada iminente falência da própria Liga de Clubes, que obrigou o seu presidente, o notável Mário Figueiredo, a ter de fazer uma insólita declaração de que os campeonatos não estavam em risco. Porém, ao que parece, tal declaração não terá tranquilizado ninguém, pois que, como aqui se explicava há dias, consta que, enquanto o seu presidente continua a auferir o seu generoso salário e a usufruir de motorista em carro topo de gama, os funcionários da Liga já não receberão salários e os fornecedores não são pagos — todos à espera que o Sr. Figueiredo produza a montanha de dinheiro que prometeu sacar à Olivedesportos pelas transmissões televisivas, e as sim sem mais. Este homem, passe o seu descaramento, é, de facto, um fenómeno: deve ser o único presidente de uma qualquer instituição planetária que conseguiu manter-se em funções porque o seu presidente da Assembleia Geral recusou-se sistematicamente a convocar uma assembleia para o destituir, invocando sucessivos pretextos jurídicos, até terminar num deveras inatacável: ele não concordava com as razões para a destituição e era ele, não os sócios, que tinha de concordar. Depois, ainda teve o topete de se reapresentar a eleições e, sempre contando com a mesma ajuda, inventou um esquema infalível para evitar a sua mais do que certa derrota, qual foi o de declarar irregulares todas as candidaturas menos a sua. E, assim reeleito com 25% dos votos, incluindo o do Sporting, cujo presidente viu nele o verdadeiro símbolo da transparência no futebol, o papel higiénico capaz de limpar as emanações escatológicas do orifício anal (conforme explicou num discurso que para sempre marcará a história do nosso futebol e dos seus dirigente?), o Sr. Mário Figueiredo aí está, firme como uma rocha, a fazer da Liga de Clubes um cadáver adiado, cuja única razão de ser reduz-se a manter o seu próprio tacho e fazer os favores necessários aos clubes que o apoiarem, com o Sporting à cabeça e o Benfica na expectativa. Anuncia-se um desastre inaudito: talvez a suspensão ou anulação do campeonato, aí por alturas do Natal, quando se perceber que o Sporting não vai ser campeão. Seria mais uma fórmula inédita de garantir a transparência.
2- Lá pela minha terra, no meu clube, sucedem-se as revoadas de contratações que tanto animam e agitam os dirigentes nesta época do ano. Desta vez, parece que a animação é maior do que nunca, com cenas de bofetadas, de insultos e de chega-para lá entre empresários e dirigentes. Segundo relatam os jornais, guerra intestina estará a ser ganha pelo ex-filho pródigo do presidente, regressado em força e em grande estilo para prestar ao clube os relevantes serviços que os sócios tão bem conhecem do passado. Mas não hei-de morrer sem ver o meu clube ser dirigido por gente que nada queira ganhar com ele.
Do novo treinador e dos reforços, nada posso dizer, por enquanto. A verdade é que não conheço um nem os outros. Gosto que a escolha tenha recaído num estrangeiro, mas, como todos, sinto alguma apreensão por se tratar de alguém que vai aprender agora a treinar um clube, e não já selecções jovens. Quanto aos reforços, dizem-me que são bons e eu quero crer que sim, mas também sinto alguma apreensão, pela sustentabilidade dos investimentos feitos num clube em pré-falência, como todos, e que, mais uma vez, dá indicações de ir desprezar as escolas de formação do clube, a experiência da Equipa B e o mais que defunto Projecto Dragon Force. Os clubes estão cheios de boas intenções que, na época dos negócios, são rapidamente esquecidas.
Neste momento, e sem ainda ter visto nada, o que tenho de mais sólido e esperançoso, a nível de reforço da época portista, é o desmembrar da grande equipa que o Benfica tinha e uma vaga, ténue possibilidade, (mas em que francamente não acredito) da venda de Varela e Defour (este último, com uma única aparição no Mundial, onde revelou o seu ponto mais forte, já conhecido dos portistas, que é a inteligência de se fazer expulsar ainda na primeira parte dos jogos mais importantes). De resto, duas certezas: uma, a de a língua oficial do clube, este ano, é o espanhol; e outra, a de que não vai ser fácil preencher a quota de jogadores formados no clube, para efeitos de inscrição na Champions. Aliás, a entrada no quadro final desta competição, ultrapassando a pré-eliminatória, vai ser, desde logo, o primeiro objectivo a atingir na época, sob pena de as grandes expectativas que se estão a criar levarem logo um forte e traumático rombo inicial.
3- Grande parte destes constantes negócios de compra e venda de jogadores, sobretudo nos grandes, passa por essa entidade misteriosa que são os fundos de jogadores. Anteontem, o Diário de Notícias trazia uma longa investigação sobre o assunto, mas que, infelizmente, não conseguia avançar muito no esclarecimento. Fiquei a saber o que já sabia; que estão proibidos em Inglaterra e em França, que a UEFA os quer banir mas a FIFA não. Que os fundos são essenciais para que os grandes clubes portugueses possam competir a alto nível, obtendo co-financiamento na compra de jogadores de qualidade, mas que a sua opacidade e o cruzamento entre os investidores dos fundos, os empresários de jogadores e, possivelmente até, dirigentes dos clubes, é fonte de toda a ordem de suspeitas e prejuízo na formação de jogadores portugueses. Porque o negócio dos fundos exige uma alta rotatividade de jogadores, constantes negócios de compra e venda de estrangeiros, prejudicando seriamente a formação e os atletas portugueses. Entre estes interesses opostos entre um mal necessário e outro, a única coisa que parece evidente é a necessidade de que os fundos sejam regulamentados e abertos. Nomeadamente, que se saiba quem são os seus detentores e principais investidores e que estejam disponíveis a quem quer que queira investir neste negócio. De outro modo, tudo é demasiado opaco e nebuloso, passando-se em sociedades off-shore, que não se sabe a quem pertencem, logo que interesses servem realmente. O futebol é cada vez mais um negócio multinacional, em que muitas empresas e muita gente ganha fortunas. Mas, curiosamente, há uma entidade que raramente ganha a prazo, que é quem paga a fatia de leão dos custos e à roda de quem todos gravitam: os clubes. E o que é estranho é que, enquanto cada vez mais dinheiro circula e mais gente enriquece, do Real Madrid ao Beira-Mar, os clubes têm quase todos em comum uma coisa: estarem tecnicamente falidos. Dá que pensar...
4- Muito cautelosas e avisadas as declarações iniciais dos treinadores dos três principais e crónicos candidatos ao título. Julian Lopetegui mostrando-se satisfeito com a evolução dos trabalhos e com a equipa que terá ao dispor — grande parte dela escolhida a dedo por si. Jorge Jesus assistindo, sem angústias aparentes, ao desmoronar da equipa que na época passada tinha ao dispor, dizendo que o Benfica está a pagar o preço do sucesso. E Marco Silva recusando, com a elegância que sempre mostrou, o favoritismo que os dirigentes do clube querem atribuir ao Sporting — como de costume, sem se preocuparem em levar em conta o que os rivais possam fazer. Oxalá todos mantenham a mesma contenção ao longo da época, a benefício de uma disputa sem golpes baixos, imune à histeria e desejo de protagonismo dos dirigentes.
Abola