1- Há um fenómeno muito engraçado entre os jornalistas desportivos lisboetas: quando os presidentes dos clubes da capital abrem a boca, não há microfone nem gravador que lhes cheguem ou elogios que lhes escapem: mas quando é o presidente do FC Porto (de todos, aquele que menos fala ao longo do ano), a vir dizer alguma coisa, caem-lhe todos em cima e não lhes chega o papel de jornal ou as luzes televisivas para zurzirem nele. Por vontade do press corps alfacinha, o presidente portista devia, pura e simplesmente, ser vetado da imprensa. Muitos dos que são capazes de escutar durante horas ou lençóis de jornal Vieira ou Bruno de Carvalho a dizerem o que querem, sem interrupções, contraditório, objecções ou sequer dúvidas, não admitem que Pinto da Costa possa falar em defesa do seu clube quando, bem ou mal, entende ter razão para o fazer. Na democracia que aparentemente defendem, todos são livres de ter opinião desde que ela coincida com as suas e com as que convém ter.
Na entrevista ao Porto Canal, e na parte que os incomodou. Pinto da Costa limitou-se a enunciar dois factos que foram públicas e notórios: que, no jogo do Estoril, o FC Porto empatou 2-2, sofrendo um golo em off-side e outro de penalty assinalado a uma falta fora da área; e que, no jogo da Luz, o árbitro cortou uma jogada de golo iminente para assinalar uma falta a favor do Porto e fez vista grossa a dois penalties a seu favor. É certo, como o escrevi a semana passada, que antes tinha cometido dois erros contra o Benfica, mas esses não tiveram influência no resultado (e, esclarecendo algumas tentativas de sustentar o contrário com o argumento de que no penalty a favor do Benfica não assinalado Mangala devia ter visto o segundo amarelo e seria expulso, é bom recordar que nem antes nem depois ele viu qualquer amarelo). Sea arbitragem de Soares Dias tem acontecido ao contrário, eu nem quero imaginar o escândalo que por ai iria! Mas a imprensa desportiva lisboeta é muito eficaz a fazer vista grossa ao que não lhe convém ver. Os erros determinantes de Soares Dias na Luz passaram como um fait-divers, ultrapassado pelo resultado final. O mesmo com a arbitragem do Sporting-Maritimo para a Taça da Liga, quarta-feira passada, escamoteando dois penalties gritantes aos madeirenses e que podem muito bem vir a ser decisivos no apuramento do Sporting. Ou com o Arouca-Sporting de sábado, onde três erros ligeiros do árbitro foram todos para o mesmo lado e até tiveram influência no desfecho: o primeiro golo do Sporting, nascido de um canto mal assinalado; um jogador do Arouca travado, quando ia entrar na área isolado, por um off-side que também não existiu; e um jogador da casa expulso com dois amarelos, qual deles o mais injustificado. E também o Benfica-Maritimo de domingo, com o segundo e decisivo golo encarnado a sair de um off-side, em contraste com dois outros off-sides mal marcados ao ataque maritimista. É, sem dúvida, uma coincidência conjuntural de erros determinantes sempre em favor dos dois grandes de Lisboa. Acontece, e não serei eu, sinceramente, a ver nisto tudo as habituais teorias da conspiração que, em casos opostos, tantos são tão rápidos a ver. Mas daí até ao branqueamento, dai até exigir que o presidente do FC Porto se mantenha calado face ao que está à vista, vai uma diferença que diz tudo sobre o que se pretende. Convém nunca esquecer que esta é a mesma imprensa que, sempre tão pronta a saltar sobre o FC Porto à menor acusação ou insinuação sobre ele lançada por qualquer imbecil em busca de protagonismo, pura e simplesmente fez de conta que não deu pela publicação de um livro chamado Jogo Sujo, da autoria do ex-jogador dos três grandes e do Boavista, Fernando Mendes, onde se conta como é que o Boavista ganhou um campeonato ao FC Porto. Mas, tivesse-o ganho ao Benfica ou ao Sporting e eu queria ver se o silêncio era o mesmo!
2- Interessante sim, é a outra parte da entrevista de Pinto da Costa, para destinatários internos. Quando ele sai em defesa do treinador (e só o faz porque sentiu necessidade disso...) e quando, sobretudo, vem convolar os maiores disparates e opções de Paulo Fonseca, inclusive cobrindo-o nos actos de pura perseguição pessoal, devemos perguntar-nos o que pretende o presidente portista. (O caso de Quintero, então, é chocante, mesquinho mesmo: nem um minuto frente ao Penafíel para a Taça da Liga e, a vencer o Setúbal no Dragão, num jogo tranquilissimo, apenas os três minutos finais que, aliás, lhe chegaram para demonstrar, uma vez mais, que não é por falta de qualidade que Paulo Fonseca o persegue).
Eu não sei em que planeta vive actualmente o presidente do FC Porto. Por mim, vivo ainda no planeta Terra. E aqui na Terra quer em Lisboa onde habito e faço uma vida igual à de qualquer cidadão normal, quer no Porto, onde vou tantas vezes a minha condição pública de adepto portista faz com que seja em todo o lado abordado por outros adeptos do meu clube. E há duas coisas que me impressionam: uma, já antiga, é a quantidade de portistas orgulhosos que vivem em Lisboa; a outra, recente, é a total unanimidade de opiniões de todos eles acerca do treinador que Pinto da Costa impôs a todos os portistas: seja em Lisboa, no Porto, em Mértola ou em Castelo Branco, não encontrei ainda um portista que tenha o mínimo de confiança neste treinador. Mais: nunca, que me lembre, encontrei tamanha coincidência de opiniões e diagnósticos sobre os erros de Paulo Fonseca, que são cometidos e repetidos à vista de todos.
E certo que hã sinais de que alguns erros estejam em vias de ser atalhados agora, mas não por acto de contrição de Paulo Fonseca e sim porque os factos se lhe impuseram com tanta força que ele não teve como insistir mais nas suas teimosias. Carlos Eduardo (que ele demorou seis meses a descobrir), veio mostrar que no meio-campo também se pode jogar para a frente. E Ricardo Quaresma (que alguns jornalistas benfiquistas se apressaram a declarar um flop, na esperança de que fosse remetido para a equipa B), veio, finalmente, dar um flanqueador ao ataque e até conseguiu que, assustado, Varela saísse da sua cómoda e indisputada preguiça e começasse a jogar mais qualquer coisinha. Mas os retoques de ocasião, por melhorias que tragam (o que nem era difícil acontecer), não escondem o essencial: um condutor Opel Astra a braços com a condução de um Porsche Carrera.
O Pinto da Costa que conduziu o FC Porto a três décadas de vitórias deve-o sobretudo ao fino conhecimento que sempre teve do futebol - coisa que os nossos adversários nunca quiseram perceber e aceitar, preferindo confundir isso com jogos de bastidores. Ora, ou esse dom se perdeu algures, ou ele entrou por uma estranha e suicidária estratégia. Porque não pode ignorar que, por mais bolas que batam nos postes ou arbitragens infelizes, o FC Porto vem consistentemente jogando pior, de ano para ano, desde que Villas-Boas se foi embora. Não pode ignorar o descontentamento dos adeptos nem pode deixar de reparar nas bancadas cada vez mais vazias do Dragão. Não pode deixar de constatar que, com Paulo Fonseca, há lugares cativos na equipa e uma profusão de jovens talentos sem uma oportunidade para se mostrarem. Não pode deixar de se aperceber que tudo o que de bom acontece de vez em quando resulta do valor individual dos jogadores ou da sua atitude competitiva e não de uma estratégia concebida e ensaiada pelo treinador.
Então, o que pretenderá Pinto da Costa: convencer-nos que nós todos nós, os adeptos depois de 30 anos assistir a vitórias, não somos capazes de perceber de que matéria elas são feitas?
a abola
Na entrevista ao Porto Canal, e na parte que os incomodou. Pinto da Costa limitou-se a enunciar dois factos que foram públicas e notórios: que, no jogo do Estoril, o FC Porto empatou 2-2, sofrendo um golo em off-side e outro de penalty assinalado a uma falta fora da área; e que, no jogo da Luz, o árbitro cortou uma jogada de golo iminente para assinalar uma falta a favor do Porto e fez vista grossa a dois penalties a seu favor. É certo, como o escrevi a semana passada, que antes tinha cometido dois erros contra o Benfica, mas esses não tiveram influência no resultado (e, esclarecendo algumas tentativas de sustentar o contrário com o argumento de que no penalty a favor do Benfica não assinalado Mangala devia ter visto o segundo amarelo e seria expulso, é bom recordar que nem antes nem depois ele viu qualquer amarelo). Sea arbitragem de Soares Dias tem acontecido ao contrário, eu nem quero imaginar o escândalo que por ai iria! Mas a imprensa desportiva lisboeta é muito eficaz a fazer vista grossa ao que não lhe convém ver. Os erros determinantes de Soares Dias na Luz passaram como um fait-divers, ultrapassado pelo resultado final. O mesmo com a arbitragem do Sporting-Maritimo para a Taça da Liga, quarta-feira passada, escamoteando dois penalties gritantes aos madeirenses e que podem muito bem vir a ser decisivos no apuramento do Sporting. Ou com o Arouca-Sporting de sábado, onde três erros ligeiros do árbitro foram todos para o mesmo lado e até tiveram influência no desfecho: o primeiro golo do Sporting, nascido de um canto mal assinalado; um jogador do Arouca travado, quando ia entrar na área isolado, por um off-side que também não existiu; e um jogador da casa expulso com dois amarelos, qual deles o mais injustificado. E também o Benfica-Maritimo de domingo, com o segundo e decisivo golo encarnado a sair de um off-side, em contraste com dois outros off-sides mal marcados ao ataque maritimista. É, sem dúvida, uma coincidência conjuntural de erros determinantes sempre em favor dos dois grandes de Lisboa. Acontece, e não serei eu, sinceramente, a ver nisto tudo as habituais teorias da conspiração que, em casos opostos, tantos são tão rápidos a ver. Mas daí até ao branqueamento, dai até exigir que o presidente do FC Porto se mantenha calado face ao que está à vista, vai uma diferença que diz tudo sobre o que se pretende. Convém nunca esquecer que esta é a mesma imprensa que, sempre tão pronta a saltar sobre o FC Porto à menor acusação ou insinuação sobre ele lançada por qualquer imbecil em busca de protagonismo, pura e simplesmente fez de conta que não deu pela publicação de um livro chamado Jogo Sujo, da autoria do ex-jogador dos três grandes e do Boavista, Fernando Mendes, onde se conta como é que o Boavista ganhou um campeonato ao FC Porto. Mas, tivesse-o ganho ao Benfica ou ao Sporting e eu queria ver se o silêncio era o mesmo!
2- Interessante sim, é a outra parte da entrevista de Pinto da Costa, para destinatários internos. Quando ele sai em defesa do treinador (e só o faz porque sentiu necessidade disso...) e quando, sobretudo, vem convolar os maiores disparates e opções de Paulo Fonseca, inclusive cobrindo-o nos actos de pura perseguição pessoal, devemos perguntar-nos o que pretende o presidente portista. (O caso de Quintero, então, é chocante, mesquinho mesmo: nem um minuto frente ao Penafíel para a Taça da Liga e, a vencer o Setúbal no Dragão, num jogo tranquilissimo, apenas os três minutos finais que, aliás, lhe chegaram para demonstrar, uma vez mais, que não é por falta de qualidade que Paulo Fonseca o persegue).
Eu não sei em que planeta vive actualmente o presidente do FC Porto. Por mim, vivo ainda no planeta Terra. E aqui na Terra quer em Lisboa onde habito e faço uma vida igual à de qualquer cidadão normal, quer no Porto, onde vou tantas vezes a minha condição pública de adepto portista faz com que seja em todo o lado abordado por outros adeptos do meu clube. E há duas coisas que me impressionam: uma, já antiga, é a quantidade de portistas orgulhosos que vivem em Lisboa; a outra, recente, é a total unanimidade de opiniões de todos eles acerca do treinador que Pinto da Costa impôs a todos os portistas: seja em Lisboa, no Porto, em Mértola ou em Castelo Branco, não encontrei ainda um portista que tenha o mínimo de confiança neste treinador. Mais: nunca, que me lembre, encontrei tamanha coincidência de opiniões e diagnósticos sobre os erros de Paulo Fonseca, que são cometidos e repetidos à vista de todos.
E certo que hã sinais de que alguns erros estejam em vias de ser atalhados agora, mas não por acto de contrição de Paulo Fonseca e sim porque os factos se lhe impuseram com tanta força que ele não teve como insistir mais nas suas teimosias. Carlos Eduardo (que ele demorou seis meses a descobrir), veio mostrar que no meio-campo também se pode jogar para a frente. E Ricardo Quaresma (que alguns jornalistas benfiquistas se apressaram a declarar um flop, na esperança de que fosse remetido para a equipa B), veio, finalmente, dar um flanqueador ao ataque e até conseguiu que, assustado, Varela saísse da sua cómoda e indisputada preguiça e começasse a jogar mais qualquer coisinha. Mas os retoques de ocasião, por melhorias que tragam (o que nem era difícil acontecer), não escondem o essencial: um condutor Opel Astra a braços com a condução de um Porsche Carrera.
O Pinto da Costa que conduziu o FC Porto a três décadas de vitórias deve-o sobretudo ao fino conhecimento que sempre teve do futebol - coisa que os nossos adversários nunca quiseram perceber e aceitar, preferindo confundir isso com jogos de bastidores. Ora, ou esse dom se perdeu algures, ou ele entrou por uma estranha e suicidária estratégia. Porque não pode ignorar que, por mais bolas que batam nos postes ou arbitragens infelizes, o FC Porto vem consistentemente jogando pior, de ano para ano, desde que Villas-Boas se foi embora. Não pode ignorar o descontentamento dos adeptos nem pode deixar de reparar nas bancadas cada vez mais vazias do Dragão. Não pode deixar de constatar que, com Paulo Fonseca, há lugares cativos na equipa e uma profusão de jovens talentos sem uma oportunidade para se mostrarem. Não pode deixar de se aperceber que tudo o que de bom acontece de vez em quando resulta do valor individual dos jogadores ou da sua atitude competitiva e não de uma estratégia concebida e ensaiada pelo treinador.
Então, o que pretenderá Pinto da Costa: convencer-nos que nós todos nós, os adeptos depois de 30 anos assistir a vitórias, não somos capazes de perceber de que matéria elas são feitas?
a abola