1- Se o Benfica- FC Porto era para ser o último acto das homenagens públicas a Eusébio, foi uma fraca homenagem. Eu estava à espera, sei lá, de ver o Benfica todo equipado de negro e o Porto de branco, de ver os jogadores de ambas as equipas irem curvar-se diante da bandeira gigante com a cara de Eusébio, enfim, qualquer coisa de verdadeiramente diferente e marcante - que não houve.
Se a homenagem era para ser o próprio jogo, pois foi uma mau jogo de futebol por mais que a euforia de alguns críticos profissionais com a vitória do Benfica lhes tenha ofuscado a lucidez. Se bom futebol é aquilo, já devem ter esquecido o que é um bom jogo. Nenhuma das equipas se safou e a pior ainda foi a de arbitragem (como, aliás, é crónico com Artur Soares Dias, um árbitro que promete sempre muito e raramente cumpre).
Para homenagear Eusébio, restou assim ao Benfica a vitória sobre o FC Porto, que muitos benfiquistas já haviam preconizado como a verdadeira homenagem. Fraco consolo, digo-lhes eu. O Benfica que homenageou Eusébio jogou sem um único português, o que não deixaria o king particularmente feliz. E jogou como eu nunca o tinha visto jogar na Luz: com dez homens atrás da linha da bola desde o primeiro ao último minuto, antes mesmo de ver o primeiro golo, logo aos 13 minutos, cair-lhe do céu sem nada ter feito que o justificasse, e mesmo depois de estar a ganhar por 2-0 com o adversário reduzido a dez jogadores. Nenhum lateral ultrapassou, uma vez que tosse, a linha do meio campo e o ponta-de-lança praticamente não tocou na bola. Jogou sempre à defesa, recolhido atrás e apostando no contra- ataque (hoje, esta táctica tem um nome mais fino: diz-se que «jogou com o bloco baixo e transições rápidas»). Logicamente, criou mais oportunidades de golo (mas só depois do 2-0, quando teve duas), pois é mais fácil tê-las quando o adversário está todo lançado para a frente e abre espaços na sua retaguarda.
Mas, quem não tem cão caça com gato e, por isso, só posso reconhecer mérito a Jorge Jesus. Não teve vergonha de mostrar que tinha medo do jogo e do FC Porto e o jogo mostrou que tinha razão para temer: apesar de todos os habituais erros de casting e de estratégia de Paulo Fonseca, ficou-me a impressão que o futebol que o Benfica actualmente joga consegue ainda ser mais medíocre do que o do FC Porto. Onde, por comparação com o treinador portista, Jesus mostrou coragem foi na escolheu do guarda-redes: Artur andava há muito a dar sinais de instabilidade, enquanto que Oblak parecia dar garantias de não comprometer. E ele atreveu-se então a fazer aquilo que os treinadores portugueses detestam fazer, sobretudo na baliza, que é tirar o consagrado, por mais que ele falhe, para dar lugar ao novato, por mais que ele prometa e justifique.
Já Paulo Fonseca foi fiel à sua filosofia, que há-de levar até à derrota final: a terra move-se, mas ele não. Depois de esta época ter visto Helton voltar a falhar em vários jogos decisivos, depois de ter visto Fabiano corresponder quando é chamado, como em Alvalade na semana passada, ei-lo que a) dá o seu aval à renovação do contrato de Helton, até aos 38 anos, e b) volta a remeter Fabiano para o banco de suplentes. Calcula-se o entusiasmo e a motivação do jovem guarda-redes! Quanto ao bom do Helton, lá voltou a mostrar que, independentemente das suas reconhecidas qualidades entre postes, faltam-lhe outras três que são absolutamente imprescindíveis quando se guarda a baliza de uma equipa com altas aspirações: saber jogar com os pés, dominar o jogo aéreo e não falhar nos grandes jogos. Anteontem, Helton lá voltou a lançar o pânico entre os seus, com um daqueles desastrados pontapés de reposição directamente para o ataque adversário; lá voltou a sair em falso a um cruzamento na pequena área, escancarando a baliza para o golo de Garay, e repetindo a graça depois a favor de Matic, que não aproveitou; e assim lá voltou a falhar num jogo onde tal não lhe era consentido.
E se Helton ofereceu o segundo golo ao Benfica, Lucho ofereceu o primeiro, actuando na função de pivot defensivo, que Paulo Fonseca lhe inventou. Já perdi a conta aos golos que o FC Porto ofereceu esta época aos seus adversários. Cedo, aliás, se percebeu (e vem percebendo) que Lucho não está em forma, entrou no ocaso da carreira: também vai renovar. De fora, ficou um jogador que há muito Paulo Fonseca riscou e tenta destruir, um fora-de-série, capaz de resolver jogos como o da Luz: Juan Quintero, mais um que se vai perder para o estrangeiro. Mas quando um treinador prefere o Varela ao Iturbe e o Licá ao Kelvin, não é de esperar que ele jamais aposte em novos jogadores e que revele um mínimo de lógica ou de justiça nas suas escolhas. O problema, como já o disse várias vezes, não é só o que a equipa perde momentaneamente: é o que o clube desperdiça de património.
O melhor do FC Porto, aquilo que ainda resta de três épocas de má orientação, é a atitude dos seus jogadores, aquele ADN de campeões que está lá dentro e que às vezes até consegue resistir ao próprio treinador. Em campo, os jogadores mostraram uma atitude de inconformismo e de revolta, às vezes desespero, que nem a expulsão de Danilo desarmou. De facto, resistiram a quase tudo: aos erros próprios, aos erros do banco e à contribuição de Soares Dias para a homenagem a Eusébio.
Pelos critérios em vigor entre nós. Soares Dias perdoou um penalty a Mangala. Mesmo tendo sido bola contra o braço e cabeceada à queima-roupa, pela doutrina dominante (que não é a minha) tinha sido penalty. Mas erro sem influência no jogo, porque, na sequência da jogada, Helton corrigiu o erro do árbitro. Antes também escapou ao liner o off-side de Jackson, mas de novo sem consequências no jogo. Mas consequências, sim, e graves, tiveram os três erros subsequentes de Soares Dias, e todos contra o FC Porto. A interrupção do jogo, em benefício do infractor, quando Jackson entrava na área isolado e pelo centro, é um erro técnico grave e imperdoável, que representou, pelo menos, meio golo roubado ao FC Porto. O empurrão por trás de Garay a Quaresma aos 74 minutos, é penalty e expulsão, de Vladivostok à Terra do Fogo. No mesmo minuto, novo empurrão por trás de Garay, desta vez a Danilo, foi transformado em expulsão do defesa portista. Concedo que aqui se pode discutir a intensidade do empurrão, mas a suposta simulação de Danilo, essa só existiu para disfarçar a má consciência do árbitro. Sem o primeiro erro, Jackson teria, muito provavelmente reduzido para 1-2. Com qualquer um dos dois penalties assinalados, o Porto poderia ter empatado, continuaria a jogar com 11 e o Benfica com 10 e ainda com 18 minutos pela frente. A história do jogo poderia ter sido outra e, em lugar de se concluir pela justíssima vitória do Benfica porque marcou dois golos e o Porto nenhum, estariam os benfiquistas a discutir o erro de Jorge Jesus, dando o jogo por ganho antes de tempo. Se isto tem acontecido ao Sporting (ou ao Benfica), já cá estariam fora dois comunicados, uma queixa à Liga e uma exposição à FIFA, e quatro editoriais indignados de jornalistas desportivos. Siga o baile!
2- A vitória de Cristiano Ronaldo na Bola de Ouro, tem três efeitos imediatos. Primeiro, um acto de justiça. Segundo, um motivo de orgulho para Portugal e para o futebol português. Terceiro, o fim esperado das teses conspirativas, alimentadas ao longo de meses (!) e que nos garantiam que tudo estava feito para que ele não ganhasse. Até o insólito e inexplicado prolongamento do prazo de votação, permitindo incluir o Suécia-Portugal, decisivo para as aspirações de Ronaldo (enquanto Messi estava sem jogar), conseguiu ser visto como uma manobra de bastidores... contra Ronaldo. Se têm ficado sossegados, a Bola de Ouro de Ronaldo tinha ainda mais valor.
abola
Se a homenagem era para ser o próprio jogo, pois foi uma mau jogo de futebol por mais que a euforia de alguns críticos profissionais com a vitória do Benfica lhes tenha ofuscado a lucidez. Se bom futebol é aquilo, já devem ter esquecido o que é um bom jogo. Nenhuma das equipas se safou e a pior ainda foi a de arbitragem (como, aliás, é crónico com Artur Soares Dias, um árbitro que promete sempre muito e raramente cumpre).
Para homenagear Eusébio, restou assim ao Benfica a vitória sobre o FC Porto, que muitos benfiquistas já haviam preconizado como a verdadeira homenagem. Fraco consolo, digo-lhes eu. O Benfica que homenageou Eusébio jogou sem um único português, o que não deixaria o king particularmente feliz. E jogou como eu nunca o tinha visto jogar na Luz: com dez homens atrás da linha da bola desde o primeiro ao último minuto, antes mesmo de ver o primeiro golo, logo aos 13 minutos, cair-lhe do céu sem nada ter feito que o justificasse, e mesmo depois de estar a ganhar por 2-0 com o adversário reduzido a dez jogadores. Nenhum lateral ultrapassou, uma vez que tosse, a linha do meio campo e o ponta-de-lança praticamente não tocou na bola. Jogou sempre à defesa, recolhido atrás e apostando no contra- ataque (hoje, esta táctica tem um nome mais fino: diz-se que «jogou com o bloco baixo e transições rápidas»). Logicamente, criou mais oportunidades de golo (mas só depois do 2-0, quando teve duas), pois é mais fácil tê-las quando o adversário está todo lançado para a frente e abre espaços na sua retaguarda.
Mas, quem não tem cão caça com gato e, por isso, só posso reconhecer mérito a Jorge Jesus. Não teve vergonha de mostrar que tinha medo do jogo e do FC Porto e o jogo mostrou que tinha razão para temer: apesar de todos os habituais erros de casting e de estratégia de Paulo Fonseca, ficou-me a impressão que o futebol que o Benfica actualmente joga consegue ainda ser mais medíocre do que o do FC Porto. Onde, por comparação com o treinador portista, Jesus mostrou coragem foi na escolheu do guarda-redes: Artur andava há muito a dar sinais de instabilidade, enquanto que Oblak parecia dar garantias de não comprometer. E ele atreveu-se então a fazer aquilo que os treinadores portugueses detestam fazer, sobretudo na baliza, que é tirar o consagrado, por mais que ele falhe, para dar lugar ao novato, por mais que ele prometa e justifique.
Já Paulo Fonseca foi fiel à sua filosofia, que há-de levar até à derrota final: a terra move-se, mas ele não. Depois de esta época ter visto Helton voltar a falhar em vários jogos decisivos, depois de ter visto Fabiano corresponder quando é chamado, como em Alvalade na semana passada, ei-lo que a) dá o seu aval à renovação do contrato de Helton, até aos 38 anos, e b) volta a remeter Fabiano para o banco de suplentes. Calcula-se o entusiasmo e a motivação do jovem guarda-redes! Quanto ao bom do Helton, lá voltou a mostrar que, independentemente das suas reconhecidas qualidades entre postes, faltam-lhe outras três que são absolutamente imprescindíveis quando se guarda a baliza de uma equipa com altas aspirações: saber jogar com os pés, dominar o jogo aéreo e não falhar nos grandes jogos. Anteontem, Helton lá voltou a lançar o pânico entre os seus, com um daqueles desastrados pontapés de reposição directamente para o ataque adversário; lá voltou a sair em falso a um cruzamento na pequena área, escancarando a baliza para o golo de Garay, e repetindo a graça depois a favor de Matic, que não aproveitou; e assim lá voltou a falhar num jogo onde tal não lhe era consentido.
E se Helton ofereceu o segundo golo ao Benfica, Lucho ofereceu o primeiro, actuando na função de pivot defensivo, que Paulo Fonseca lhe inventou. Já perdi a conta aos golos que o FC Porto ofereceu esta época aos seus adversários. Cedo, aliás, se percebeu (e vem percebendo) que Lucho não está em forma, entrou no ocaso da carreira: também vai renovar. De fora, ficou um jogador que há muito Paulo Fonseca riscou e tenta destruir, um fora-de-série, capaz de resolver jogos como o da Luz: Juan Quintero, mais um que se vai perder para o estrangeiro. Mas quando um treinador prefere o Varela ao Iturbe e o Licá ao Kelvin, não é de esperar que ele jamais aposte em novos jogadores e que revele um mínimo de lógica ou de justiça nas suas escolhas. O problema, como já o disse várias vezes, não é só o que a equipa perde momentaneamente: é o que o clube desperdiça de património.
O melhor do FC Porto, aquilo que ainda resta de três épocas de má orientação, é a atitude dos seus jogadores, aquele ADN de campeões que está lá dentro e que às vezes até consegue resistir ao próprio treinador. Em campo, os jogadores mostraram uma atitude de inconformismo e de revolta, às vezes desespero, que nem a expulsão de Danilo desarmou. De facto, resistiram a quase tudo: aos erros próprios, aos erros do banco e à contribuição de Soares Dias para a homenagem a Eusébio.
Pelos critérios em vigor entre nós. Soares Dias perdoou um penalty a Mangala. Mesmo tendo sido bola contra o braço e cabeceada à queima-roupa, pela doutrina dominante (que não é a minha) tinha sido penalty. Mas erro sem influência no jogo, porque, na sequência da jogada, Helton corrigiu o erro do árbitro. Antes também escapou ao liner o off-side de Jackson, mas de novo sem consequências no jogo. Mas consequências, sim, e graves, tiveram os três erros subsequentes de Soares Dias, e todos contra o FC Porto. A interrupção do jogo, em benefício do infractor, quando Jackson entrava na área isolado e pelo centro, é um erro técnico grave e imperdoável, que representou, pelo menos, meio golo roubado ao FC Porto. O empurrão por trás de Garay a Quaresma aos 74 minutos, é penalty e expulsão, de Vladivostok à Terra do Fogo. No mesmo minuto, novo empurrão por trás de Garay, desta vez a Danilo, foi transformado em expulsão do defesa portista. Concedo que aqui se pode discutir a intensidade do empurrão, mas a suposta simulação de Danilo, essa só existiu para disfarçar a má consciência do árbitro. Sem o primeiro erro, Jackson teria, muito provavelmente reduzido para 1-2. Com qualquer um dos dois penalties assinalados, o Porto poderia ter empatado, continuaria a jogar com 11 e o Benfica com 10 e ainda com 18 minutos pela frente. A história do jogo poderia ter sido outra e, em lugar de se concluir pela justíssima vitória do Benfica porque marcou dois golos e o Porto nenhum, estariam os benfiquistas a discutir o erro de Jorge Jesus, dando o jogo por ganho antes de tempo. Se isto tem acontecido ao Sporting (ou ao Benfica), já cá estariam fora dois comunicados, uma queixa à Liga e uma exposição à FIFA, e quatro editoriais indignados de jornalistas desportivos. Siga o baile!
2- A vitória de Cristiano Ronaldo na Bola de Ouro, tem três efeitos imediatos. Primeiro, um acto de justiça. Segundo, um motivo de orgulho para Portugal e para o futebol português. Terceiro, o fim esperado das teses conspirativas, alimentadas ao longo de meses (!) e que nos garantiam que tudo estava feito para que ele não ganhasse. Até o insólito e inexplicado prolongamento do prazo de votação, permitindo incluir o Suécia-Portugal, decisivo para as aspirações de Ronaldo (enquanto Messi estava sem jogar), conseguiu ser visto como uma manobra de bastidores... contra Ronaldo. Se têm ficado sossegados, a Bola de Ouro de Ronaldo tinha ainda mais valor.
abola