1- Em oito dias, o FC Porto disputou três partidas fora de casa, de dificuldades diversas mas todas de importância maior. Em três competições diferentes, jogou no Restelo a manutenção da confortável vantagem de cinco pontos no campeonato; em S. Petersburgo, disputou três pontos decisivos para a passagem à segunda fase da Champions; e, em Guimarães, jogou a manutenção na Taça, contra o detentor do troféu. Eis um comentário aos três jogos, em sequência.
No jogo do Restelo, o comentário é fácil: foi uma prestação miserável. Individual e colectivamente, foi o pior FC Porto que se viu esta época, sem sombra de ideias, de vontade, de futebol. A única desculpa aceitável (mas que não desculpa tudo e, sobretudo, a atitude), foi o estado inacreditável do relvado. Nunca me cansarei de dizer que acho intolerável que se permita jogar partidas da primeira Liga em relvados destes ou em campos com a dimensão mínima, como se estivéssemos ainda nos anos sessenta do século passado. A menos que se adopte a filosofia anunciada domingo por Sérgio Conceição de que «jogar bem é ganhar. O espectáculo é no teatro ou no cinema.» Pois se assim é, então que se tenha a coerência de não cobrar dinheiro aos espectadores por um espectáculo que não existe. Ainda este fim-de-semana, tive ocasião de ver grande parte de dois jogos do campeonato espanhol, entre equipas do meio e do fim da tabela: o Osasuna-Almeria e o Granada-Málaga (fabulosa a dupla magrebina atacante do Málaga, composta pelo argelino Brahimi, um misto de nº 10 e 11, e o marroquino El Arabi, um nº 9 letal). Em ambos os jogos, campos de dimensão máxima, relvados impecáveis, equipas a jogarem aberto,
sem dez jogadores a defenderem atrás da linha da bola. Resultado: um dos estádios cheio, o outro a dois terços. Pois, continuem a defender e a praticar que quem vai a um estádio e paga não tem direito a espectáculo algum...
Em S. Petersburgo, tivemos, inversamente, o melhor FC Porto da época, ao nível do gue já se tinha visto no jogo do Dragão e contra o Atlético de Madrid, confirmando que, apesar das indefinições ideológicas do seu treinador, o espírito europeu remanescente na equipa renasce sempre nas grandes ocasiões. Infelizmente, e uma vez mais, um golo oferecido pela defesa (e, de novo, com tremendas responsabilidades de Helton), roubou-nos uma vitória que teria sido justa. Assim é difícil fazer caminho numa Champions, quando a equipa tem quase sempre de contar com o handicap de um golo oferecido.
Finalmente, em Guimarães, foi uma vitória tranquila, definida na primeira parte e bem gerida na segunda, onde o cansaço do jogo longínquo a meio da semana não deixou de pesar. Rui Vitória tem razão, o resultado não foi justo: pelo que jogaram e pelas oportunidades criadas, justo teria sido um 0-3.
Entretanto, saliento algumas notas, recolhidas destes três jogos e confirmando muito do que já se tinha visto. Em primeiro lugar, dou a mão à palmatória para várias reguadas, no que diz respeito a Fernando: está numa forma extraordinária, chegando a parecer outro jogador, um jogador que eu desconhecia. Pena que só agora, em final de contrato e aparentemente com o destino já traçado para outros horizontes, esteja a mostrar todo o potencial que afinal tinha. Inversamente, confirmei e reconfirmei, se dúvidas ainda tivesse, a absoluta inutilidade de Defour e Varela, que apenas Paulo Fonseca não enxerga. São casos diferentes: Defour é um jogador banalíssimo, ao nível de uma equipe do meio da tabela da segunda Liga, que nunca irá evoluir porque lhe falta talento para tal; Varela, que fez uma excelente primeira época ao serviço do FC Porto, já vai em quatro anos consecutivos de total frustração: não corre, não luta, não cruza, não finta, não abre espaços, arrasta-se em campo, em passo miudinho, totalmente alheio e desinteressa do no que se passa. É extraordinário pensar que, para proteger Varela, ou confiante nele, o FC Porto deitou fora nos últimos anos, e, em especial, com Vítor Pereira e Paulo Fonseca, um naipe incrível de extremos de qualidade atesta da ou futuro promissor. James e Hulk foram perdas da responsabilidade da direcção; Iturbe e Atsu - o primeiro a deslumbrar a Itália, o segundo um fora-de-série nas mãos de um bom treinador
foram também despachados a patacos, depois de desprezados por Vítor Pereira e Paulo Fonseca; outros, como Candeias, Djalma, Sebá ou Hélder Barbosa, partiram, tapados que estavam por Varela; e Kelvin tem lugar no museu do Dragão, mas não na equipa de Paulo Fonseca. Feita a razia, só com sorriso de comiseração se pode olhar o trio de extremos em que Paulo Fonseca confia para atacar o campeonato e a Champions: Varela, Licá e Ricardo. É obra!
Aliás, também é notável pensar que, com a lesão de Quintero que, embora Paulo Fonseca o não perceba, é o mais dotado jogador do plantel -, mais o castigo de Herrera, o afastamento de Fucile, o desaparecimento de Izmailov e a não inscrição de Kelvin, Paulo Fonseca tinha 17 jogadores para S. Petersburgo. Num clube que só este ano comprou 12 e gastou 20 milhões nisso, eis o que eu chamo uma perfeita gestão do plantei. É uma sorte que o FC Porto ainda esteja na luta em todas as frentes.
2- Em minha opinião, o Benfica ganhou bem o derby de Lisboa: jogou mais, teve melhores ocasiões e esteve sempre por cima no resultado. Para além disso, teve um super-Cardozo - que, de há muito, eu considero, não o melhor jogador da equipa (esse é Gaitán), mas o mais valioso. Sorri irónicamente quando, no começo da época, se escreveram inúmeros textos a anunciar a sua iminente saída por desrespeito público ao treinador e aqui mesmo grandes benfiquistas explicaram veementemente que, com a sua continuação, estava em causa a dignidade da «instituição». E sorri, porque, infelizmente, nunca acreditei nesse hara-kiri, por parte da direcção. Como seria de esperar, Cardozo ficou e começou a marcar, como sabe: todos meteram a viola no saco e a Jorge Jesus até só faltou agora reivindicar a autoria dos três golos de Cardozo ao Sporting. Diz que foi o seu «instinto» que foi determinante para meter o Cardozo a jogar como se todos nós, a começar por Leonardo Jardim, não soubéssemos que a alternativa não passou de um bluff pífio, pois que o «insubordinado» Oscar Cardozo é o ganha-pão de Jorge Jesus e de toda a equipa.
Quanto ao Sporting, jogou tudo o que tinha e indiscutivelmente melhor do que desde há muito. Mas, como já sucedera no Dragão, o que tinha não chegou e não foi capaz, mais uma vez, de tirar partido do cansaço europeu dos seus rivais. Como seria de esperar também, mandaram as culpas da derrota para cima do árbitro, porque a cultura de Calimero não desaparece facilmente (e, no dia em que desaparecer, o Sporting começa a ganhar). Eu achei a arbitragem de Duarte Gomes excelente, não tenho dúvidas de que o primeiro penalty reclamado não existe (o Moreno vem por trás, interpor-se entre o pontapé de Luisão e a bola, só podendo ser atingido), e, quanto ao segundo, é daqueles que umas vezes são marcados, outras não. Os meus leitores habituais sabem que eu abomino estes penalties, em que praticamente se exige aos defesas que joguem sem braços, como se fossem decepados, e, sobretudo, acho que é próprio das equipas fracas reclamarem penalties destes, que, a serem marcados, caem quase sempre do céu, sem qualquer correspondência com as jogadas e como mérito dos ataques. Mas já se sabe que o clube que anunciou ao mundo em comunicado que é dotado de uma «nobreza de carácter» de saber ganhar e saber perder, que não está ao alcance dos outros, terá sempre de encontrar um bode expiatório para os seus desaires. Desta vez, pelo menos, não foi a falta de cadeiras na cabina dos treinadores nem as bolas enviadas para a bancada que não foram devolvidas pelo público...
No jogo do Restelo, o comentário é fácil: foi uma prestação miserável. Individual e colectivamente, foi o pior FC Porto que se viu esta época, sem sombra de ideias, de vontade, de futebol. A única desculpa aceitável (mas que não desculpa tudo e, sobretudo, a atitude), foi o estado inacreditável do relvado. Nunca me cansarei de dizer que acho intolerável que se permita jogar partidas da primeira Liga em relvados destes ou em campos com a dimensão mínima, como se estivéssemos ainda nos anos sessenta do século passado. A menos que se adopte a filosofia anunciada domingo por Sérgio Conceição de que «jogar bem é ganhar. O espectáculo é no teatro ou no cinema.» Pois se assim é, então que se tenha a coerência de não cobrar dinheiro aos espectadores por um espectáculo que não existe. Ainda este fim-de-semana, tive ocasião de ver grande parte de dois jogos do campeonato espanhol, entre equipas do meio e do fim da tabela: o Osasuna-Almeria e o Granada-Málaga (fabulosa a dupla magrebina atacante do Málaga, composta pelo argelino Brahimi, um misto de nº 10 e 11, e o marroquino El Arabi, um nº 9 letal). Em ambos os jogos, campos de dimensão máxima, relvados impecáveis, equipas a jogarem aberto,
sem dez jogadores a defenderem atrás da linha da bola. Resultado: um dos estádios cheio, o outro a dois terços. Pois, continuem a defender e a praticar que quem vai a um estádio e paga não tem direito a espectáculo algum...
Em S. Petersburgo, tivemos, inversamente, o melhor FC Porto da época, ao nível do gue já se tinha visto no jogo do Dragão e contra o Atlético de Madrid, confirmando que, apesar das indefinições ideológicas do seu treinador, o espírito europeu remanescente na equipa renasce sempre nas grandes ocasiões. Infelizmente, e uma vez mais, um golo oferecido pela defesa (e, de novo, com tremendas responsabilidades de Helton), roubou-nos uma vitória que teria sido justa. Assim é difícil fazer caminho numa Champions, quando a equipa tem quase sempre de contar com o handicap de um golo oferecido.
Finalmente, em Guimarães, foi uma vitória tranquila, definida na primeira parte e bem gerida na segunda, onde o cansaço do jogo longínquo a meio da semana não deixou de pesar. Rui Vitória tem razão, o resultado não foi justo: pelo que jogaram e pelas oportunidades criadas, justo teria sido um 0-3.
Entretanto, saliento algumas notas, recolhidas destes três jogos e confirmando muito do que já se tinha visto. Em primeiro lugar, dou a mão à palmatória para várias reguadas, no que diz respeito a Fernando: está numa forma extraordinária, chegando a parecer outro jogador, um jogador que eu desconhecia. Pena que só agora, em final de contrato e aparentemente com o destino já traçado para outros horizontes, esteja a mostrar todo o potencial que afinal tinha. Inversamente, confirmei e reconfirmei, se dúvidas ainda tivesse, a absoluta inutilidade de Defour e Varela, que apenas Paulo Fonseca não enxerga. São casos diferentes: Defour é um jogador banalíssimo, ao nível de uma equipe do meio da tabela da segunda Liga, que nunca irá evoluir porque lhe falta talento para tal; Varela, que fez uma excelente primeira época ao serviço do FC Porto, já vai em quatro anos consecutivos de total frustração: não corre, não luta, não cruza, não finta, não abre espaços, arrasta-se em campo, em passo miudinho, totalmente alheio e desinteressa do no que se passa. É extraordinário pensar que, para proteger Varela, ou confiante nele, o FC Porto deitou fora nos últimos anos, e, em especial, com Vítor Pereira e Paulo Fonseca, um naipe incrível de extremos de qualidade atesta da ou futuro promissor. James e Hulk foram perdas da responsabilidade da direcção; Iturbe e Atsu - o primeiro a deslumbrar a Itália, o segundo um fora-de-série nas mãos de um bom treinador
foram também despachados a patacos, depois de desprezados por Vítor Pereira e Paulo Fonseca; outros, como Candeias, Djalma, Sebá ou Hélder Barbosa, partiram, tapados que estavam por Varela; e Kelvin tem lugar no museu do Dragão, mas não na equipa de Paulo Fonseca. Feita a razia, só com sorriso de comiseração se pode olhar o trio de extremos em que Paulo Fonseca confia para atacar o campeonato e a Champions: Varela, Licá e Ricardo. É obra!
Aliás, também é notável pensar que, com a lesão de Quintero que, embora Paulo Fonseca o não perceba, é o mais dotado jogador do plantel -, mais o castigo de Herrera, o afastamento de Fucile, o desaparecimento de Izmailov e a não inscrição de Kelvin, Paulo Fonseca tinha 17 jogadores para S. Petersburgo. Num clube que só este ano comprou 12 e gastou 20 milhões nisso, eis o que eu chamo uma perfeita gestão do plantei. É uma sorte que o FC Porto ainda esteja na luta em todas as frentes.
2- Em minha opinião, o Benfica ganhou bem o derby de Lisboa: jogou mais, teve melhores ocasiões e esteve sempre por cima no resultado. Para além disso, teve um super-Cardozo - que, de há muito, eu considero, não o melhor jogador da equipa (esse é Gaitán), mas o mais valioso. Sorri irónicamente quando, no começo da época, se escreveram inúmeros textos a anunciar a sua iminente saída por desrespeito público ao treinador e aqui mesmo grandes benfiquistas explicaram veementemente que, com a sua continuação, estava em causa a dignidade da «instituição». E sorri, porque, infelizmente, nunca acreditei nesse hara-kiri, por parte da direcção. Como seria de esperar, Cardozo ficou e começou a marcar, como sabe: todos meteram a viola no saco e a Jorge Jesus até só faltou agora reivindicar a autoria dos três golos de Cardozo ao Sporting. Diz que foi o seu «instinto» que foi determinante para meter o Cardozo a jogar como se todos nós, a começar por Leonardo Jardim, não soubéssemos que a alternativa não passou de um bluff pífio, pois que o «insubordinado» Oscar Cardozo é o ganha-pão de Jorge Jesus e de toda a equipa.
Quanto ao Sporting, jogou tudo o que tinha e indiscutivelmente melhor do que desde há muito. Mas, como já sucedera no Dragão, o que tinha não chegou e não foi capaz, mais uma vez, de tirar partido do cansaço europeu dos seus rivais. Como seria de esperar também, mandaram as culpas da derrota para cima do árbitro, porque a cultura de Calimero não desaparece facilmente (e, no dia em que desaparecer, o Sporting começa a ganhar). Eu achei a arbitragem de Duarte Gomes excelente, não tenho dúvidas de que o primeiro penalty reclamado não existe (o Moreno vem por trás, interpor-se entre o pontapé de Luisão e a bola, só podendo ser atingido), e, quanto ao segundo, é daqueles que umas vezes são marcados, outras não. Os meus leitores habituais sabem que eu abomino estes penalties, em que praticamente se exige aos defesas que joguem sem braços, como se fossem decepados, e, sobretudo, acho que é próprio das equipas fracas reclamarem penalties destes, que, a serem marcados, caem quase sempre do céu, sem qualquer correspondência com as jogadas e como mérito dos ataques. Mas já se sabe que o clube que anunciou ao mundo em comunicado que é dotado de uma «nobreza de carácter» de saber ganhar e saber perder, que não está ao alcance dos outros, terá sempre de encontrar um bode expiatório para os seus desaires. Desta vez, pelo menos, não foi a falta de cadeiras na cabina dos treinadores nem as bolas enviadas para a bancada que não foram devolvidas pelo público...