1- A hecatombe em que se transformou esta época a participação de equipas portuguesas nas competições europeias tem uma clara vantagem: descendo no ranking, teremos menos equipas em competição, logo menos hipóteses de andar a fazer de saco de pancada - que foi o que fizemos este ano.
Na Liga Europa, foram todos varridos, sem fama alguma e talvez sem proveito que dê para pagar as despesas. Na Liga dos Campeões, o cabeça-de-série Benfica, colocado num dos grupos mais fáceis, se não mesmo o mais fácil, não sobrepor-se a um modestíssimo Olimpiakos. O mais que conseguiu foi despedir-se em brio, derrotando um PSG muito desfalcado (embora, na imortal declaração de Jorge Jesus, candidata a frase do ano, não ficasse mais fraco sem Ibrahimovic). Também o FC Porto se despediu em Madrid, com nova derrota frente a meia reserva do Atlético de Madrid. Quatro bolas nos postes, um penalty falhado e outro por assinalar não chegam para apagar a sensação dada ao longo de todo o encontro de que meia reserva do Atlético de Madrid chegaria sempre para esta versão de terceira categoria do FC Porto made in Paulo Fonseca. E tanto penalty falhado esta época, sobretudo da forma como Josué falhou este, com o guarda-redes já em queda para um lado e ele a chutar para aí, já não se chama azar, mas sim outra coisa: falta de estatuto para jogar ao nível da Champions. Terminando o grupo com uma só vitória, um ponto conquistado em casa e cinco no total, confirmou-se que também o seu treinador tem ainda muito que pedalar e aprender para conseguir ser minimamente competítivo a este nível. Ele está, talvez, a aprender com os falhanços, o FC Porto é que não sei o que esteja a aprender.
A classificação in-extremis da Selecção Nacional para o Mundial do Brasil, graças a uma noite superlativa de Cristiano Ronaldo, poderá iludir muitos, mas não durante muito tempo. A Selecção é ele, Moutinho e nada mais. E a nossa Liga acumula jornadas sobre jornadas sem que se veja um único jogo bem jogado, de princípio a fim. Já é uma sorte se o campo tem as dimensões adequadas, o relvado não parece uma chapa ondulada e não há um autocarro estacionado em permanência frente a uma das balizas. Nos incontáveis espaços de debate futebolístico escalpeliza-se até à náusea a bola na mão que foi ou não penalty, o off-side milimétrico que é sinal de roubo se não assinalado, tudo acompanhado de um saber enciclopédico sobre incidentes de épocas passadas, uns reais outros inventados, que é suposto iluminarem a discussão sobre a situação presente (a semana passada, ouvi na rádio um sportinguista, Jaime Mourão Ferreira, declarar, sem se rir, que a presente liderança do Sporting é «a prova» de que no passado o Sporting foi sempre roubado, por tal não acontecer. Mesmo quando conseguiu acabar um campeonato em 7º lugar ou a 36 pontos do líder, nunca foi por demérito seu, mas por força da máfia oculta do sistema). Mas discutir o que interessa as condições dos estádios, a qualidade dos jogos, as atitudes de anti-jogo dos treinadores, ou o exemplo de um Olhanense-Benfica, em que pelos de Olhão alinharam jogadores de onze nacionalidades diferentes(!) e pelo Benfica alinhou uma aliança sul-americana/ex-Jugoslávia - isso não merece a atenção de ninguém.
Hoje, a única coisa que interessa discutir é a liderança do Sporting. Não tiro o mérito a essa liderança e gosto muito de ver como andam felizes os meus amigos sporíinguistas. Mas tanto elogio e tanta vénia até fazem esque cer que essa liderança acontece numa Liga onde se tem jogado o pior futebol dos últimos anos. Se recuar uma década, de facto não me consigo lembrar de nenhuma grande equipa do Sporting, a ní vel interno ou externo. Mas lembro-me do Beníica da primeira época de Jorge Jesus, do Braga de Domingos Paciência e de várias equipes e épocas do FC Porto, onde o futebol jogado não tinha comparação com o que se vê hoje. Andámos para trás, não andámos para a frente.
2- Um leitor portista que comunga da minha estupefacção por ver o Silvestre Varela como titular indiscutível do FC Porto, sob o comando de Vítor Pereira e agora de Paulo Fonseca, deu-se ao trabalho de assentar, minuto a minuto, tudo o que Varela fez no jogo de quarta-feira, contra o Atlético de Madrid. O resultado foi, como eu sabia, um impressionante rol de bolas perdidas e passes falhados, cumulando num saldo final de quase absoluta inutilidade. E digo quase, porque, apesar de tudo, foi dos seus jogos mais conseguidos: cabeceou uma bola à trave e fez um cruzamento para Jackson atirar também uma bola ao poste. Isto, aos olhos de Paulo Fonseca e da critica, sempre tão generosa com Varela, é uma exibição de encher o olho. Sem surpresa alguma, portanto, lá estava ele como titular frente ao Rio Ave, aliás pela 100ª vez na Liga portuguesa. E, desta vez, fui eu que me muni de um bloco notas e de uma caneta para registar tudo, absolutamente tudo, o que Varela fizesse em mais uma grande exibição.
Antes, porém, deixem-me reproduzir o que aqui se escreveu sobre o desempenho de Varela contra o Rio Ave. Na crónica do jogo, Nuno Vieira escreveu que «o extremo foi o principal agitador do ataque, foi ele quem manteve a chama ofensiva da equipa». E, na apreciação individual, Rui Amorim deu-lhe uma nota 6 e escreveu: «entortou Lionn e serviu de bandeja o golo de Jackson, divertindo-se com mais umas quantas diabruras pelas alas». Agora, o que exactamente aconteceu:
- Aos 50 minutos, Varela fintou muito bem o defesa Lionn e cruzou para Jackson facturar em estilo.
- Aos 90+1, já como jogo decidido, passou pelo defesa em contra-ataque e cruzou para ninguém. E isto foi o total das diabruras que fez durante todo o jogo: um cruzamento bem feito que deu golo e outro mal feito. De resto, e em todo o jogo, não teve outro cruzamento, um livre ou um canto batidos, um remate à baliza, um passe a desmarcar na frente, um passe em profundidade, uma simples finta sobre um adversário;
- Recebeu e perdeu a bola 15 vezes (minutos 3,9,12,21,29,35, 38,55,61,64,65,75,78,84 e 88);
- Ganhou um canto, sofreu uma falta, fez um corte defensivo e foi batido duas vezes em velocidade;
- Recebeu a bola e passou curto para a frente uma vez, para o lado duas vezes e para trás 18 vezes (junto com as perdas de bola, a sua jogada mais comum).
Desafio os críticos e Paulo Fonseca a verem o vídeo do jogo e a desmentirem-me.
3- Li que, não esquecendo as suas raízes, Cristiano Ronaldo ia ter um gesto pela Madeira. Iria ele oferecer à sua terra uma escola, uma ala de hospital, um lar para órfãos ou para a terceira idade? Iria seguir o saudável princípio anglo-saxónico do pay-back, que faz com que os milionários se sintam moralmente obrigados a devolver à comunidade parte do muito que receberam, mesmo que apenas pelo seu esforço e mérito? (Se ele o faz discretamente, peço desde já desculpe). Não: Cristiano Ronaldo optou por oferecer à Madeira um museu - tão importante que a inauguração teve direito à presença do presidente do Governo Regional e de um batalhão de jornalistas. Seria um museu de história, sobre a história da colonização e da emigração da Madeira? Um museu sobre o mar, sobre a pesca, sobre o vinho da Madeira? Um museu de arte, pintura, escultura, fotografia? Um museu de artesanato local? Não, infelizmente, não. É um museu sobre o CR 7, um museu sobre ele próprio. Os seus troféus, fotografias dele, uma escultura de cera dele e o mais que eu certamente não irei ver. É, seguramente, o primeiro museu do mundo dedicado a um jogador de futebol.E o primeiro dedicado a uma pessoa, feito pela própria pessoa, com a possível excepção da Coreia do Norte, que talvez tenha um museu sobre um dos Kim. Francamente, acho que Cristiano Ronaldo devia ser melhor aconselhado. Ter alguém que lhe explicasse que não há nada mais triste do que uma auto-homenagem.
Na Liga Europa, foram todos varridos, sem fama alguma e talvez sem proveito que dê para pagar as despesas. Na Liga dos Campeões, o cabeça-de-série Benfica, colocado num dos grupos mais fáceis, se não mesmo o mais fácil, não sobrepor-se a um modestíssimo Olimpiakos. O mais que conseguiu foi despedir-se em brio, derrotando um PSG muito desfalcado (embora, na imortal declaração de Jorge Jesus, candidata a frase do ano, não ficasse mais fraco sem Ibrahimovic). Também o FC Porto se despediu em Madrid, com nova derrota frente a meia reserva do Atlético de Madrid. Quatro bolas nos postes, um penalty falhado e outro por assinalar não chegam para apagar a sensação dada ao longo de todo o encontro de que meia reserva do Atlético de Madrid chegaria sempre para esta versão de terceira categoria do FC Porto made in Paulo Fonseca. E tanto penalty falhado esta época, sobretudo da forma como Josué falhou este, com o guarda-redes já em queda para um lado e ele a chutar para aí, já não se chama azar, mas sim outra coisa: falta de estatuto para jogar ao nível da Champions. Terminando o grupo com uma só vitória, um ponto conquistado em casa e cinco no total, confirmou-se que também o seu treinador tem ainda muito que pedalar e aprender para conseguir ser minimamente competítivo a este nível. Ele está, talvez, a aprender com os falhanços, o FC Porto é que não sei o que esteja a aprender.
A classificação in-extremis da Selecção Nacional para o Mundial do Brasil, graças a uma noite superlativa de Cristiano Ronaldo, poderá iludir muitos, mas não durante muito tempo. A Selecção é ele, Moutinho e nada mais. E a nossa Liga acumula jornadas sobre jornadas sem que se veja um único jogo bem jogado, de princípio a fim. Já é uma sorte se o campo tem as dimensões adequadas, o relvado não parece uma chapa ondulada e não há um autocarro estacionado em permanência frente a uma das balizas. Nos incontáveis espaços de debate futebolístico escalpeliza-se até à náusea a bola na mão que foi ou não penalty, o off-side milimétrico que é sinal de roubo se não assinalado, tudo acompanhado de um saber enciclopédico sobre incidentes de épocas passadas, uns reais outros inventados, que é suposto iluminarem a discussão sobre a situação presente (a semana passada, ouvi na rádio um sportinguista, Jaime Mourão Ferreira, declarar, sem se rir, que a presente liderança do Sporting é «a prova» de que no passado o Sporting foi sempre roubado, por tal não acontecer. Mesmo quando conseguiu acabar um campeonato em 7º lugar ou a 36 pontos do líder, nunca foi por demérito seu, mas por força da máfia oculta do sistema). Mas discutir o que interessa as condições dos estádios, a qualidade dos jogos, as atitudes de anti-jogo dos treinadores, ou o exemplo de um Olhanense-Benfica, em que pelos de Olhão alinharam jogadores de onze nacionalidades diferentes(!) e pelo Benfica alinhou uma aliança sul-americana/ex-Jugoslávia - isso não merece a atenção de ninguém.
Hoje, a única coisa que interessa discutir é a liderança do Sporting. Não tiro o mérito a essa liderança e gosto muito de ver como andam felizes os meus amigos sporíinguistas. Mas tanto elogio e tanta vénia até fazem esque cer que essa liderança acontece numa Liga onde se tem jogado o pior futebol dos últimos anos. Se recuar uma década, de facto não me consigo lembrar de nenhuma grande equipa do Sporting, a ní vel interno ou externo. Mas lembro-me do Beníica da primeira época de Jorge Jesus, do Braga de Domingos Paciência e de várias equipes e épocas do FC Porto, onde o futebol jogado não tinha comparação com o que se vê hoje. Andámos para trás, não andámos para a frente.
2- Um leitor portista que comunga da minha estupefacção por ver o Silvestre Varela como titular indiscutível do FC Porto, sob o comando de Vítor Pereira e agora de Paulo Fonseca, deu-se ao trabalho de assentar, minuto a minuto, tudo o que Varela fez no jogo de quarta-feira, contra o Atlético de Madrid. O resultado foi, como eu sabia, um impressionante rol de bolas perdidas e passes falhados, cumulando num saldo final de quase absoluta inutilidade. E digo quase, porque, apesar de tudo, foi dos seus jogos mais conseguidos: cabeceou uma bola à trave e fez um cruzamento para Jackson atirar também uma bola ao poste. Isto, aos olhos de Paulo Fonseca e da critica, sempre tão generosa com Varela, é uma exibição de encher o olho. Sem surpresa alguma, portanto, lá estava ele como titular frente ao Rio Ave, aliás pela 100ª vez na Liga portuguesa. E, desta vez, fui eu que me muni de um bloco notas e de uma caneta para registar tudo, absolutamente tudo, o que Varela fizesse em mais uma grande exibição.
Antes, porém, deixem-me reproduzir o que aqui se escreveu sobre o desempenho de Varela contra o Rio Ave. Na crónica do jogo, Nuno Vieira escreveu que «o extremo foi o principal agitador do ataque, foi ele quem manteve a chama ofensiva da equipa». E, na apreciação individual, Rui Amorim deu-lhe uma nota 6 e escreveu: «entortou Lionn e serviu de bandeja o golo de Jackson, divertindo-se com mais umas quantas diabruras pelas alas». Agora, o que exactamente aconteceu:
- Aos 50 minutos, Varela fintou muito bem o defesa Lionn e cruzou para Jackson facturar em estilo.
- Aos 90+1, já como jogo decidido, passou pelo defesa em contra-ataque e cruzou para ninguém. E isto foi o total das diabruras que fez durante todo o jogo: um cruzamento bem feito que deu golo e outro mal feito. De resto, e em todo o jogo, não teve outro cruzamento, um livre ou um canto batidos, um remate à baliza, um passe a desmarcar na frente, um passe em profundidade, uma simples finta sobre um adversário;
- Recebeu e perdeu a bola 15 vezes (minutos 3,9,12,21,29,35, 38,55,61,64,65,75,78,84 e 88);
- Ganhou um canto, sofreu uma falta, fez um corte defensivo e foi batido duas vezes em velocidade;
- Recebeu a bola e passou curto para a frente uma vez, para o lado duas vezes e para trás 18 vezes (junto com as perdas de bola, a sua jogada mais comum).
Desafio os críticos e Paulo Fonseca a verem o vídeo do jogo e a desmentirem-me.
3- Li que, não esquecendo as suas raízes, Cristiano Ronaldo ia ter um gesto pela Madeira. Iria ele oferecer à sua terra uma escola, uma ala de hospital, um lar para órfãos ou para a terceira idade? Iria seguir o saudável princípio anglo-saxónico do pay-back, que faz com que os milionários se sintam moralmente obrigados a devolver à comunidade parte do muito que receberam, mesmo que apenas pelo seu esforço e mérito? (Se ele o faz discretamente, peço desde já desculpe). Não: Cristiano Ronaldo optou por oferecer à Madeira um museu - tão importante que a inauguração teve direito à presença do presidente do Governo Regional e de um batalhão de jornalistas. Seria um museu de história, sobre a história da colonização e da emigração da Madeira? Um museu sobre o mar, sobre a pesca, sobre o vinho da Madeira? Um museu de arte, pintura, escultura, fotografia? Um museu de artesanato local? Não, infelizmente, não. É um museu sobre o CR 7, um museu sobre ele próprio. Os seus troféus, fotografias dele, uma escultura de cera dele e o mais que eu certamente não irei ver. É, seguramente, o primeiro museu do mundo dedicado a um jogador de futebol.E o primeiro dedicado a uma pessoa, feito pela própria pessoa, com a possível excepção da Coreia do Norte, que talvez tenha um museu sobre um dos Kim. Francamente, acho que Cristiano Ronaldo devia ser melhor aconselhado. Ter alguém que lhe explicasse que não há nada mais triste do que uma auto-homenagem.