Uma hora no banco, um minuto no campo ~ Porto Total, capital do dragão... summary_noimg = 550; summary_img = 450; img_thumb_height = 200; img_thumb_width = 200;

21 de agosto de 2013

Uma hora no banco, um minuto no campo

1 - Com o começo do campeonato regressaram também os jogos domingo à tarde. É de bom tom, ou é mesmo genuíno, saudar o regresso às tradições de antanho. Não é o meu caso: gosto do futebol ao final do dia, principio da noite. Por razões climáticas, particularmente no Verão; por razões técnicas: não há sol a incomodar os artistas ou os operadores de câmara que, como se viu na transmissão televisiva do Marítimo-Benfica, não conseguem adaptar a lente à transição sol-sombra, deixando metade do campo à adivinhação; e, enfim, por razões de organização familiar: um jogo a meio da tarde de um domingo arruína o domingo, destrói um fim-de-semana. O que eu gosto mesmo é do horário da UEFA para a Champions: 20.45. E gosto de um jogo dos grandes em cada dia do fim-de-semana; um à sexta ou à segunda, outro ao sábado e outro ao domingo. Por favor, não se armem em ingleses!

2 - Muito melhor resultado do que exibição conseguiu o Sporting. O 5-1 não diz nada sobre o que se passou até chegar ao empate, depois de se ter visto a perder, e com justiça, frente ao estreante Arouca. E diz pouco sobre o que se passou a seguir. Patrício salvou dois golos, atrás de uma defesa de papel. Mostrou um meio-campo sem ideias - felizmente para os sportinguistas, compensado por um ataque super-eficaz, com rasgos individuais que decidiram o jogo. E teve um hat trick do colombiano Fredy Montero, que aparenta ser uma promessa de um bom finalizador, mas não ainda uma certeza. Mas ainda bem para o campeonato que o Sporting entrou assim - e há quanto tempo, nem que fosse por goal average, não se encontrava no primeiro lugar do campeonato?


3 - Vi, pela primeira vez esta época, o tão mal-falado Benfica do quinto ano de Jorge Jesus. E confirmei que aquilo não vai bem por ali. Mas antes,deixem-me falar do enquadramento surreal do jogo: depois de milhões dos contribuintes injectado em jogadores e despesas correntes, o Marítimo decidiu lançar uma obra megalómana de alargamento do estádio (que nunca enchia!), a qual se encontra parada há dois anos, por falta de verbas. Assim, após mais uns milhões dos contribuintes gastos, o Marítimo joga agora num Estádio dos Barreiros em que três dos quatro lados são ocupados por bancadas inacabadas e desertas, imaginadas para albergar uma inexistente multidão disposta a ver um jogo de futebol todavia disputado ainda num quintal de dimensões mínimas, onde jogar futebol é como abrir caminho até à água, na praia de Carcavelos, num domingo à tarde. E, para completar a ironia, o Marítimo ostenta ainda nas camisolas o nome do seu principal patrocinador: o Banco Banif, hoje propriedade dos contribuintes, depois de o Estado lá ter injectado umas centenas de milhões para evitar a sua falência. Mas o Marítimo é o clube do dr. Jardim e isso explica tudo.

Pois o Benfica, que há onze anos ali não perdia para o campeonato, tropeçou desta vez, num daqueles jogos em que se limitou a esperar que a sua supremacia natural fizesse o trabalho por si. Não têm nenhumas razões de queixa do penalty do Marítimo, indiscutível, e, quanto ao penalty redentor que suplicaram no último suspiro da partida, acho que ninguém de boa-fé conseguirá dizer pelas imagens se houve ou não toque no Lima e se foi intencional e suficiente para ele se deixar cair esperançadamente. Teria sido o empate, não a derrota: dois pontos perdidos, em lugar de três. E, sobretudo, alguma esperança, em lugar da grande desilusão - do resultado e da exibição. Talvez o Benfica não tenha tido sorte, mas jogou muito pouco ou nada para a merecer.

4 - Atsu arrumado, Iturbe descartado, Kelvin julgado inútil e (felizmente, felizmente!) Varela lesionado. Com alguma ou bastante imprevidência, Paulo Fonseca apresentou-se em Setúbal com apenas um extremo: Licá. E, como ele falhou em toda a linha, teve de ganhar o jogo sem extremos. Mas, ao contrário de Jorge Jesus, teve sorte.

É verdade que, logo aos três minutos, o FC Porto poderia ter-se visto a ganhar, o que teria mudado toda a história do jogo. Tenho quase a certeza de que a bola chutada por Jackson Martinez esteve toda dentro da baliza do Vitória: pelo menos, a perna do defensor que a safou estava toda lá dentro e foi essa perna que tirou a bola. Na segunda parte, com o resultado em 1-2, e numa jogada quase idêntica, também me parece que a bola entrou na baliza do Porto: teria sido o 2-2 - ou teria sido o 2-3, se ambas as bolas tivessem contado como golos. Nada a dizer do penalty, que foi evidente, ou da expulsão de Kieszek, pois cabeçadas ainda são consideradas agressão.

Como José Mota tinha avisado, o estado do relvado do Bonfim era deplorável. Mas, ao contrário do que ouvi comentar, isso não prejudica ambas as equipas por igual: prejudica sempre mais a melhor equipa, aquela com jogadores mais dotados tecnicamente. Os anos passam, e continua-se a ter de jogar em quintais e batatais - e depois querem que o público vá aos estádios.

Isso, porém, não invalida o que foi um jogo falhado e preocupante do FC Porto, a que só os três pontos e a continuação da história arrasadora das deslocações dos portistas a Setúbal trouxe o indispensável conforto. Não foi por causa do relvado que o Helton teve três saídas em falso, duas das quais só não acabaram em golo por sorte. Que o Otamendi fez uma exibição desastrada em tudo. Que o Fernando e o Defour estiveram ao seu nível habitual, isto é, irrelevantes, excedentários, inúteis. Que o Lucho foi fiel ao seu ciclo de três jogos — um razoável, um excelente, um para esquecer. Que o Licá, a grande revelação da final da Supertaça, não deu uma para a caixa. E que até o Jackson Martinez, entre o azar e o desacerto, só se salvou com o golo autoritário ao cair do pano. Safaram-se quem? O Mangala, salvando as abébias do Otamendi e os passeios ao luar do Helton. O Josué, participando em todos os golos e mostrando ao Defour e ao Fernando que também se pode jogar a meio campo sem ser para o lado e para trás. E, claro, aquele miúdo de quem aqui falei tão entusiasticamente a semana passada, um tal de Juan Quintero. O pobre passou uma hora sentado no banco, a assistir à inócua prestação do meio-campo portista e a pensar para consigo: 'melhor do que isto, eu faço seguramente!'. E quando, enfim, Paulo Fonseca lá lhe deu ordem de soltura, percebendo que com o Defour não ia ganhar o jogo. o miúdo precisou apenas de um minuto em campo para resolver a questão, num golpe de mestre.

Eu percebo, já aqui o disse, que Paulo Fonseca faça ainda alguma cerimónia em dar a Juan Quintero todo o protagonismo que ele obviamente merece, aos olhos de quem quer que seja que entenda alguma coisa de futebol. Percebo que, a bem do ambiente na equipa, ele tenha de mostrar consideração pelos que já lá estavam antes, preferindo esperar que as coisas se tornem demasiado evidentes por si. Mas o que espero veementemente é que Paulo Fonseca não pertença à estirpe dos treinadores que, por instinto ou por defesa própria, têm horror aos génios que num só golpe são capazes de lhes desmontar todas as teorias e estratégias próprias. Espero que Paulo Fonseca medite no exemplo de Vítor Pereira, na época passada: também ele encostou o Atsu, descartou o Iturbe e renunciou a apostar no Kelvin. Imaginou poder ganhar o campeonato com o Varela e foi só quando se viu a perder em Braga a dez minutos do fim que lançou o Kelvin - e ele respondeu com dois golos, que viraram o jogo e mantiveram o Porto na luta. É claro que, como represália, na semana seguinte Vítor Pereira sentou o Kelvin no banco e o mesmo fez no jogo do título, contra o Benfica. Mas, de novo, vendo-se empatado e a patinar no jogo, lá soltou o Kelvin outra vez a dez minutos do fim...e aconteceu o que se sabe. Foi o Kelvin quem ganhou o campeonato para o Vítor Pereira. Ganhou-o apesar de Vítor Pereira.

abola