1- Como todos os Verões, também este ano o Circo Victor Hugo Cardinali chegou à cidade de Lagos e instalou-se num descampado em frente ao campo do Esperança FC. Aí, soltou, entre grades exteriores, os seus animais de referência; leões, camelos, elefantes, cavalos. Ao ver o Circo Victor Hugo Cardinali, brilhante representante de uma dinastia de artistas de uma actividade já quase em desuso mas que fez felizes gerações de crianças, lembrei-me de outro circo ainda em actividade, mas este sem qualquer brilho, nem préstimo, representando apenas a absoluta falta de vergonha e podridão moral: o circo em que está transformada a Liga de Clubes. Também este circo tem leões, que o controlam e dominam, e outros animais que se imaginam selvagens, mas que não passam de pré-históricos. E palhaços, tristes e variados.
Um dos personagens inenarráveis deste circo é o dr. Carlos Pereira, o insigne presidente da assembleia-geral da agremiação. O tal que inventou um método infalível para evitar que o seu companheiro de assalto, o presidente Mário Figueiredo, fosse destituído pela vontade da grande maioria dos membros da Liga, recusando-se a convocar a assembleia para tal, sob o despudorado argumento de que não concordava com as razões da destituição. E que depois inventou ainda um fabuloso esquema para conseguir reconduzir o dr. Figueiredo no seu tacho (15 000 euros por mês, segundo Martins de Sá, mais alcavalas várias, carro de luxo e motorista): chumbou as candidaturas concorrentes e declarou a dele, todavia declarada irregular pelo CJ da Liga, como a única válida. Foi a tal manobra que deu pretexto ao mais inesquecível discurso alguma vez feito por alguém do futebol - o tal sobre os gazes e outros eflúvios em proveniência da parte terminal do aparelho digestivo — verdadeiro marco da cultura e da história do Sporting Clube de Portugal. Um discurso, note-se, de apoio total ao assalto à Liga por parte desta triste gente.
Não sei por que razão este jornal tem o hábito de, volta e meia, dar a palavra longamente ao infeliz Carlos Pereira, como se ele tivesse alguma coisa de relevante para dizer que não estivesse já plasmado na sua cara e nas suas descaradas manobras. Agora e com a anulação das eleições por ele organizadas, a oportunidade para o ouvir foi a sua inacreditável recondução em funções, fruto dos meandros jurídicos em que o futebol português é fértil e deixando adivinhar, evidentemente, nova chapelada promovida pelos mesmos. Da entrevista, publicada há dias, retive duas coisas: uma, a profundidade dos conhecimentos jurídicos do dr. Carlos Pereira, bem patente na teoria que engendrou excluir a lista de Fernando Seara das eleições anteriores. A lista, diz ele, estava incompleta, não contendo nomes para todos os órgãos sociais - e embora forçado a reconhecer que tal exigência não está contida nos estatutos, ele descobriu que, não sendo tal proibido, também não é expressamente permitido. É assim como se um policia nos estivesse a multar por estacionamento proibido num local sem qualquer indicação de tal e, perante os nossos protestos, ele explicasse: «De facto, não está proibido, mas também não está permitido». Em que Faculdade de Direito terá o homem sacado o seu canudo?
Mas o mais importante que retive da entrevista com este preclaro jurista foi a sua justificação última para todas batotas que promoveu e levou a cabo na Liga, a razão última para manter em funções o dr. Mário Figueiredo e a sua tropa de assalto. Após jurar que há-de morrer a ser do Benfica e a «lutar contra as trevas», ele explica em que consiste a sua cruzada: evitar que Benfica e Sporting «fiquem mais dez anos sem ganhar nada». Ou seja, preto no branco: ele e os outros estão lá, agarrados aos lugares, com recurso a todas as golpaças possíveis e imaginárias para beneficiarem o Benfica e o Sporting, evitando que o FC Porto possa continuar a ganhar. Eu já o sabia, mas dito por um deles tudo fica mais claro. Assim como fica mais clara a afirmação da direcção do Sporting, depois de as eleições por si cozinhadas terem sido anuladas no CJ, de que «continuará a pugnar pela transparência e pela verdade desportiva». De facto, ultrapassaram de há muito o limiar da sem-vergonha e nem se preocupam já em disfarçar. O que não diriam se o FC Porto tivesse tomado assim de assalto a Liga de Clubes, se os seus homens de mão tivessem recorrido a todo o tipo de trapaças para se agarrarem ao poder contra a vontade esmagadora dos outros clubes e se ainda, por absoluta incompetência, tivessem conduzido a Liga à ruína e à paralisação e, no fim de tudo, ainda se louvassem de estar a travar uma cruzada para evitar que Benfica e Sporting pudessem ganhar?
2- Em Liverpool, contra o Everton, 5º classificado da Liga Inglesa, vi um FC Porto que dominou por completo o jogo e o adversário, de princípio a fim. Mas que em meia parte em estilo espanhol, digamos assim, sem ponta-de-lança e com três avançados flutuantes, controlou todo o jogo mas nem cheirou a baliza, num futebol tão seguro quanto estéril e aborrecido. E uma segunda parte em que já com Jackson Martinez, de regresso ao seu estilo clássico de jogo, prometeu bem mais. Em termos individuais, de trás para a frente, espero que o erro tremendo de Fabiano no golo dos ingleses lhe tenha servido de lição para toda a época, pois que, na hora da sucessão de Helton, se há coisa que dispensamos outra vez é guarda-redes que comprometem com erros impensáveis nos momentos mais importantes. Nas laterais, Danilo tem de aprender a centrar em condições para aproveitar a facilidade com que se integra no ataque e Alex Sandro não terá nada a temer da concorrência do último espanhol desembarcado no Dragão - José Angel — cujos 15 minutos de estreia foram assustadores. Martins Indi deu boas indicações, mais lento e menos espectacular que Mangala, mas mais posicional e calmo, e Maicon mostrou que é agora indispensável. Na posição 6, não há, neste momento, concorrência à altura dos surpreendentes desempenhos do miúdo Bruno Neves — ainda para mais, português e da formação. No meio campo criativo, grande destaque para Brahimi e Oliver Torres, numa zona onde existem ainda Quintero, Carlos Eduardo, Herrera e Casimiro (que também é 6): foi fome que deu em abundância. Nas alas,, nova desilusão do tão celebrado Adrian López, boas indicações de Quaresma e Tello, e ainda sobram Kelvin e Ricardo. Na frente, como já foi escrito, Jackson surge como uma das principais aquisições desde que daqui até 31 de Agosto não se consume uma desagradável reviravolta.
Enfim, parece faltar apenas uma alternativa a Jackson Martinéz para que Lopetegui se possa dar por imensamente satisfeito com a equipa que lhe puseram à disposição. Nem mesmo a continuação da «transparência» e da «verdade desportiva», em versão lisboeta, lhe poderá servir de salvaguarda para uma época de insucesso. Que todos os portistas acreditam que não acontecerá.
Um dos personagens inenarráveis deste circo é o dr. Carlos Pereira, o insigne presidente da assembleia-geral da agremiação. O tal que inventou um método infalível para evitar que o seu companheiro de assalto, o presidente Mário Figueiredo, fosse destituído pela vontade da grande maioria dos membros da Liga, recusando-se a convocar a assembleia para tal, sob o despudorado argumento de que não concordava com as razões da destituição. E que depois inventou ainda um fabuloso esquema para conseguir reconduzir o dr. Figueiredo no seu tacho (15 000 euros por mês, segundo Martins de Sá, mais alcavalas várias, carro de luxo e motorista): chumbou as candidaturas concorrentes e declarou a dele, todavia declarada irregular pelo CJ da Liga, como a única válida. Foi a tal manobra que deu pretexto ao mais inesquecível discurso alguma vez feito por alguém do futebol - o tal sobre os gazes e outros eflúvios em proveniência da parte terminal do aparelho digestivo — verdadeiro marco da cultura e da história do Sporting Clube de Portugal. Um discurso, note-se, de apoio total ao assalto à Liga por parte desta triste gente.
Não sei por que razão este jornal tem o hábito de, volta e meia, dar a palavra longamente ao infeliz Carlos Pereira, como se ele tivesse alguma coisa de relevante para dizer que não estivesse já plasmado na sua cara e nas suas descaradas manobras. Agora e com a anulação das eleições por ele organizadas, a oportunidade para o ouvir foi a sua inacreditável recondução em funções, fruto dos meandros jurídicos em que o futebol português é fértil e deixando adivinhar, evidentemente, nova chapelada promovida pelos mesmos. Da entrevista, publicada há dias, retive duas coisas: uma, a profundidade dos conhecimentos jurídicos do dr. Carlos Pereira, bem patente na teoria que engendrou excluir a lista de Fernando Seara das eleições anteriores. A lista, diz ele, estava incompleta, não contendo nomes para todos os órgãos sociais - e embora forçado a reconhecer que tal exigência não está contida nos estatutos, ele descobriu que, não sendo tal proibido, também não é expressamente permitido. É assim como se um policia nos estivesse a multar por estacionamento proibido num local sem qualquer indicação de tal e, perante os nossos protestos, ele explicasse: «De facto, não está proibido, mas também não está permitido». Em que Faculdade de Direito terá o homem sacado o seu canudo?
Mas o mais importante que retive da entrevista com este preclaro jurista foi a sua justificação última para todas batotas que promoveu e levou a cabo na Liga, a razão última para manter em funções o dr. Mário Figueiredo e a sua tropa de assalto. Após jurar que há-de morrer a ser do Benfica e a «lutar contra as trevas», ele explica em que consiste a sua cruzada: evitar que Benfica e Sporting «fiquem mais dez anos sem ganhar nada». Ou seja, preto no branco: ele e os outros estão lá, agarrados aos lugares, com recurso a todas as golpaças possíveis e imaginárias para beneficiarem o Benfica e o Sporting, evitando que o FC Porto possa continuar a ganhar. Eu já o sabia, mas dito por um deles tudo fica mais claro. Assim como fica mais clara a afirmação da direcção do Sporting, depois de as eleições por si cozinhadas terem sido anuladas no CJ, de que «continuará a pugnar pela transparência e pela verdade desportiva». De facto, ultrapassaram de há muito o limiar da sem-vergonha e nem se preocupam já em disfarçar. O que não diriam se o FC Porto tivesse tomado assim de assalto a Liga de Clubes, se os seus homens de mão tivessem recorrido a todo o tipo de trapaças para se agarrarem ao poder contra a vontade esmagadora dos outros clubes e se ainda, por absoluta incompetência, tivessem conduzido a Liga à ruína e à paralisação e, no fim de tudo, ainda se louvassem de estar a travar uma cruzada para evitar que Benfica e Sporting pudessem ganhar?
2- Em Liverpool, contra o Everton, 5º classificado da Liga Inglesa, vi um FC Porto que dominou por completo o jogo e o adversário, de princípio a fim. Mas que em meia parte em estilo espanhol, digamos assim, sem ponta-de-lança e com três avançados flutuantes, controlou todo o jogo mas nem cheirou a baliza, num futebol tão seguro quanto estéril e aborrecido. E uma segunda parte em que já com Jackson Martinez, de regresso ao seu estilo clássico de jogo, prometeu bem mais. Em termos individuais, de trás para a frente, espero que o erro tremendo de Fabiano no golo dos ingleses lhe tenha servido de lição para toda a época, pois que, na hora da sucessão de Helton, se há coisa que dispensamos outra vez é guarda-redes que comprometem com erros impensáveis nos momentos mais importantes. Nas laterais, Danilo tem de aprender a centrar em condições para aproveitar a facilidade com que se integra no ataque e Alex Sandro não terá nada a temer da concorrência do último espanhol desembarcado no Dragão - José Angel — cujos 15 minutos de estreia foram assustadores. Martins Indi deu boas indicações, mais lento e menos espectacular que Mangala, mas mais posicional e calmo, e Maicon mostrou que é agora indispensável. Na posição 6, não há, neste momento, concorrência à altura dos surpreendentes desempenhos do miúdo Bruno Neves — ainda para mais, português e da formação. No meio campo criativo, grande destaque para Brahimi e Oliver Torres, numa zona onde existem ainda Quintero, Carlos Eduardo, Herrera e Casimiro (que também é 6): foi fome que deu em abundância. Nas alas,, nova desilusão do tão celebrado Adrian López, boas indicações de Quaresma e Tello, e ainda sobram Kelvin e Ricardo. Na frente, como já foi escrito, Jackson surge como uma das principais aquisições desde que daqui até 31 de Agosto não se consume uma desagradável reviravolta.
Enfim, parece faltar apenas uma alternativa a Jackson Martinéz para que Lopetegui se possa dar por imensamente satisfeito com a equipa que lhe puseram à disposição. Nem mesmo a continuação da «transparência» e da «verdade desportiva», em versão lisboeta, lhe poderá servir de salvaguarda para uma época de insucesso. Que todos os portistas acreditam que não acontecerá.