Na semana que passou, enquanto FC Porto (e Benfica) tratavam de tentar prestigiar o futebol português além-fronteiras, somando pontos para que clubes como o Sporting, sem nenhum mérito próprio, possam participar em coisas como a milionária Liga dos Campeões, este tratou de tentar desprestigiar o futebol português no estrangeiro prometendo denunciar o cambalacho em que jura penar a instâncias como a UEFA e a FIFA (que já devem ter uma secção só para arquivar as reclamações do Sporting), bem como intentar todo o tipo de acções junto dos tribunais (de qualquer espécie e incluído o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem), a UE e o próprio Conselho de Segurança das Nações Unidas - onde espera que a sua causa seja discutida logo depois da questão da Crimeía.
A mesma imprensa desportiva que fuzilou Pinto da Costa por ele se ter atrevido — uma única vez em toda a época! — a criticar uma arbitragem (a do Benfica-Porto), assistiu agora, colaborante e cúmplice, à mais despudorada campanha de pré-condicionamento de uma arbitragem de um jogo alguma vez montada por um clube. O pretexto era a frustração por ter visto uma vitória em Setúbal, prestes a ser alcançada graças a um penalty fabricado por Capel, fugir-lhe, afinal, noutro penalty inexistente. Em nenhum momento passou pela cabeça daqueles cavalheiros a deselegância para com um adversário, o Vitória, que se batera de igual para igual, fora prejudicado de igual para igual e jamais mereceu perder o jogo. Mas é esta a mentalidade de um clube que, depois de ter terminado a época passada em sétimo lugar, a 36 pontos do campeão (!), tem a suprema lata de dizer que vai processar tudo e todos, e os que ficaram à sua frente com todo o mérito, por «não o terem deixado ir às provas europeias»!
Como toda a gente percebeu, a ridícula e histérica campanha montada pela direcção do Sporting - e que chegou ao cúmulo do desprestígio institucional de ser recebida pela AR, o PR e com encontro marcado com a PGR — visava apenas preparar a arbitragem do jogo de domingo, em Alvalade. A inadiável «moralização do futebol português» pretendia apenas conseguir uma arbitragem à medida dos seus aristocráticos direitos no jogo contra o FC Porto. Pela primeira vez que eu me lembre em toda a minha vida, do primeiro ao último minuto do jogo de Alvalade, não ouvi um único protesto contra o árbitro.
Houve ilustres sportinguistas que chegaram a dizer que o que queriam era um árbitro estrangeiro, e um deles até sugeriu Howard Webb. Por acaso, há 15 dias, vi Webb arrumar o Liverpool da Taça de Inglaterra com duas decisões daquelas que transformariam o movimento «Basta!» no movimento Mata!, se têm sido em prejuízo do Sporting. Dos quatro jogos que vi das duas mãos dos oitavos da Champions, em três deles vi decisões grosseiramente erradas e determinantes no resultado — a favor e depois contra o Barcelona e a favor do Bayern. E quinta-feira, no Dragão, vi um golo mal invalidado ao FC Porto, que poderia ter garantido logo a passagem da eliminatória com o Nápoles.
Em todo o lado, os árbitros erram e os melhores deles também: umas vezes sem querer, outras influenciados pelo ambiente, outras, que acredito serem raríssimas, de propósito. Como sempre escrevi e manterei, qualquer equipa que queira mesmo ganhar tem de saber ser capaz de ultrapassar erros de arbitragem e eles só se tornam relevantes e difíceis de aceitar quando uma equipa é francamente melhor do que a outra, tudo faz para ganhar e só não o consegue por erros determinantes de arbitragem. Contra o FC Porto, como já sucedera nos seus três jogos anteriores, o Sporting nunca foi superior ao adversário — mas ganhou três deles e empatou um. Ao intervalo do jogo com o Porto o Sporting não tinha criado uma só ocasião de golo e vira o FC Porto dispor de três flagrantes: uma salva por Patrício, outra pela barra, outra por Pedro Proença. Na segunda parte, teve a primeira oportunidade num cabeceamento defendido por Helton e a seguir chegou ao golo, da forma que se sabe e que, graças àquelas linhas que a pós-produção televisiva permite desenhar no campo, não pode ser contestada por ninguém. Aliás, nem foi um off-side milimétrico, mas sim métrico, bem visível a olho nu. Depois disso, aproveitando o efeito psicológico do golo assim obtido e o da grave lesão de Helton, aproveitando o cansaço dos jogadores portistas, vindos de um jogo intenso com o Nápoles e, ao contrário do Benfica, logo enfiados noutro 72 horas depois, o Sporting limitou-se a gerir e a perder tempo, recuando e criando inevitavelmente alguns contra-ataques perigosos, mas mais nenhuma ocasião de golo. Mesmo assim, ainda viu a ponta da bota de Dier salvar milagrosamente um golo de Jackson no último segundo e um remate de Ghilas ameaçar o golo. Teve o mesmo número de ataques e de remates que o FC Porto; menos bola, duas oportunidades contra quatro e dois cantos contra sete. Escrever, como aqui o fez o grande anti-portista Fernando Guerra, que «o Sporting ganhou com justiça», passar por cima do penalty' perdoado como se não tivesse dado por nada, nem pela controvérsia, e escrever sobre o golo que decidiu o jogo que «acontece aqui e na China», reflecte, de facto, aquilo que acima escrevi sobre a grande fraqueza portista: ter uma imprensa que lhe é esmagadoramente hostil. Eu queria ver como estaria hoje o país se as duas decisões determinantes de Proença têm sido ao contrário! Queria ver se o titulo de Fernando Guerra teria sido o mesmo!
Causou-me estranheza que, no meio de tanta histeria sportinguista contra as arbitragens, não tivesse saído dali uma palavra sobre a antecipação da nomeação do árbitro, sobre a sua posterior «baixa» e, a seguir, sobre a sua substituição por Pedro Proença — que, todavia, também estava na lista dos bandidos de alguns notáveis sportinguistas. Que aquela gente, que sempre desconfia de tudo e mais alguma coisa, tenha ficado em silêncio sobre estes factos, deixou-me, devo confessar, apreensivo. Logo percebi porquê: o Sporting devia ter a garantia de que ninguém mais tinha a autoridade de Proença para poder acalmar os ânimos, fazendo o que fosse necessário para tal, em Alvalade. Pedro Proença sacrificou-se em defesa da arbitragem e da momentânea acalmia dos cavalheiros sportinguistas. Não foi só o penalty perdoado e o golo em off-side, foram cinco livres no meio-campo defensivo do FC Porto e contra ele que não existiram e a expulsão de Fernando, verdadeiro prémio ao anti-jogo de Montero.
Restam dois factos a considerar, segundo a lógica sportinguista: no Estoril, na Luz e em Alvalade — isto é, no terreno dos nossos três adversários directos — o FC Porto deixou sempre pontos por força de decisões erradas dos árbitros: dois no Estoril, um, pelo menos, na Luz, e três em Alvalade. Só aqui, já estão quase os mesmos sete de que o Sporting se queixa (e que, agora, passaram a quatro). E, no capítulo das indemnizações, a confirmar-se esta classificação no final, o Sporting, Pedro Proença e Vítor Pereira devem-nos, solidariamente, 8,6 milhões de euros.
2- Faço a Luís Castro o mesmo pedido que fiz em vão a Vítor Pereira e Paulo Fonseca: reveja com atenção, por favor, as actuações de Varela e Defour e diga-me para que servem eles. O primeiro não ganha uma jogada em velocidade nem acerta um centro; o segundo só acerta passes miúdos para o lado ou para trás.
3- Na brilhante vitória do Benfica em Londres, um senhor e um triste cavalheiro. O senhor foi Luisão, o triste cavalheiro foi Jorge Jesus.