ESCOLHAS
1- Finalmente terminou a novela Jorge Jesus, que manteve em suspenso a escolha de treinador, quer por parte do Benfica, quer do FC Porto. Entre a contestação interna e as dúvidas de muitos benfiquistas e o terror de ver Jesus emigrar para o Porto, Luís Filipe Vieira escolheu a continuidade. E, a meu ver, fez bem. Não apenas porque Jesus tem provado ser bom treinador, como ainda porque a alternativa de o deixar sair envolvia mais riscos. O que não quer dizer que a sua continuidade não envolva riscos. Sobretudo o risco imenso de voltar a perder o campeonato para o FC Porto. Alias, o medo de nova derrota frente ao FC Porto é tamanho que, no contrato com prémios por objectivos assinado entre ambas as partes, Jorge Jesus tem reservado um prémio por ganhar o campeonato nacional que é igual ao prémio de ser campeão europeu e o dobro do que receberá se vencer a Liga Europa. Um milhão de euros: eis quanto valerá a Jesus a proeza de vencer os portistas no campeonato.
Tal como aqui previ, mal Vieira anunciou a continuidade de Jesus, Pinto da Costa avançou logo com a alternativa: Paulo Fonseca. A escolha de um jovem treinador que ainda está a terminar a sua formação e que vai apenas para a terceira época num clube profissional e segunda na primeira Liga, seria uma escolha de alto risco, não se tratasse do FC Porto. É que, apesar da excelente época feita em Paços de Ferreira, que lhe valeu o justo título de treinador revelação do ano, convém não esquecer que o homem que terá por mandato renovar o título de campeão nacional e chegar aos quartos de final da Champions ainda há três anos atrás trabalhava nos escalões amadores. Mas já vimos este cenário num passado recente, com Villas Boas e Vítor Pereira, e a mensagem de Pinto da Costa não podia ser mais clara: independentemente de mais ou menos experiência e mais ou menos talento, qualquer um corre sérios riscos de ser campeão no FC Porto. Porque o clube, o seu presidente, a sua estrutura, a sua cultura de vitória entranhada, fazem só por si o grosso do trabalho.
E assim sendo, aquilo que se pede a um treinador do FC Porto, hoje em dia, é que não complique o que esta facilitado à partida, que não tenha medo de tentar vencer sempre, que ponha a equipa a jogar à campeão e que não desperdice, antes valorize, os jovens talentos em que o clube tanto aposta, para mais tarde vender com lucros impressionantes. Em minha opinião, Vítor Pereira venceu, não complicou muito, mas falhou nos outros itens: encostou vários talentos a que não deu oportunidades; instalou um futebol de contenção em slow motion que afastou adeptos do estádio; e por vezes - como em Málaga - teve medo de vencer.
Quanto a Paulo Fonseca, a quem dou as boas-vindas. espero que ele vá aprendendo depressa, porque necessariamente começará por ter de aprender: treinar o Paços não é bem o mesmo que treinar o FC Porto...
2- Depois de perder James e Moutinho, os próximos que se perfilam na linha de saída são Atsu, Iturbe, Mangala e Fernando: quatro casos diferentes.
Atsu é um talento já comprovado e que Vítor Pereira desdenhou. Em minha opinião, mesmo com o contrato a terminar para o ano, o FC Porto não o deve deixar sair, antes tentar convencê-lo a renovar, com a ajuda do novo treinador. Iturbe nunca teve verdadeiras ocasiões para provar o que vale e, por isso mesmo, deve ser chamado para fazer a pré-época a permitir ao novo treinador avaliá-lo a sério e tentar perceber porque razão tanta gente lhe augura um futuro brilhante. Mangala foi, para mim, a revelação da época portista, a única consentida ou imposta a Vítor Pereira (e não sei se, sem a lesão de Maicon, teria sido diferente). Vai valer uma fortuna e não há pressa alguma em vendê-lo, apesar de estarem de regresso dois centrais emprestados (Sereno e Rolando) e de já ter sido contratado mais um central, Reyes - (aliás num estranho negocio noticiado pela Bola, em que o FC Porto terá pago sete milhões pelo jogador e 2,1 milhões de «comissões». Comissão na compra, e logo de 30%? Será possível?). Enfim, quanto a Fernando, confesso que já perdi a paciência para a sua rábula anual de declarar que se quer ir embora, como se estivesse numa prisão, e não a trabalhar ao abrigo de um contraio luxuoso, assinado de livre vontade. Eu cá dizia-lhe que aparecesse com uma proposta minimamente séria e deixava o ir. Talvez aprenda com o exemplo de Rolando que há mais coisas entre a realidade e os sonhos do que o excesso de ambição faz crer.
Ah, e depois de termos passado mais de meia época com um relva do em péssimas condições e depois de o ter conseguido recuperar, lá foi ele outra vez à vida graças ao concerto dos Muse - o tipo de coisa de que Pinto da Costa era opositor dantes. Oxalá tenhamos de volta, e para abrir a época, um relvado ao nível da equipa que também esperamos vir a ter!
3- Uma coisa de que eu gosto no FC Porto é que nunca somos nós a abrir as guerras e não nos desgastamos nem nos expomos ao ridículo com a produção de comunicados tão cara aos dois grandes clubes da Segunda Circular. Num momento em que os clubes têm tantos interesses comuns a defender, o corte de relações decretado pelo Sporting em relação ao FC Porto parece uma coisa do século passado, e, embora constitua um truque por demais sabido para juntar forças internas contra o inimigo inventado ad hoc e desviar as atenções de coisas bem mais graves, não deixa de ser uma bravata ridícula. Como ridículo foi o comunicado que acompanhou o gesto - tomado ainda mais falhado pela resposta que lhe deu o FC Porto: o silêncio total. A melhor resposta possível.
O mais absurdo ainda é que tal invocada falta de educação do FC Porto (aliás, de um só dirigente seu), começou sim pelo Sporting e pelo seu presidente. Foi Bruno de Carvalho quem começou por lançar suspeitas de falta de seriedade do FC Porto na venda de Moutinho, sem para tal dispor de informação e de fundamento serio. Prosseguiu depois, face a resposta óbvia de Pinto da Costa, com a piada sobre a fruta, muito saudada pelos benfiquistas — que, tendo visto a justiça a sério, e não a desportiva, recusar todos os cabazes de frutas que lhes foram apresentados contra o FC Porto, continuam a argumentar como se nada tivesse acontecido. E muito contentes fica também ver o Sporting, com tantos contenciosos em mão e no horizonte, juntar-se-lhes no elogio da justiça privada ou da concepção privada do que seja a justiça. Pelo que, e sem pôr as mãos no fogo por Adelino Caldeira, se o que ele fez é aquilo que veio relatado - deixar o presidente do Sporting de mão estendida - parece-me mais do que legítimo. Ou será que é má educação responder à má educação?
Em pano de fundo deste episódio a que a história não atribuirá grande Importância, sobram contudo duas coisas escondidas pelo incidente de Tavira. Uma, é que parece que o desfecho daquela final da Taça de Andebol foi ditado por uma dessas arbitragens que, se tem sido ao contrario, teria dado origem, no mínimo, a um comunicado indignado com origem em Alvalade. A outra é que, na situação de aperto total em que está o Sporting, já tinha havido alguns indícios de que Bruno de Carvalho estará a congeminar uma aproximação estratégica ao Benfica, que verá como útil neste momento. E isso pressupõe, primeiro, um enfrentamento com o FC Porto, espécie de prova da verdade das suas intenções sérias de se aproximar do grande clube da águia. Se assim for, recomendo aos meus amigos sportinguistas (com quem não faço tenções de cortar relações algumas), que se acautelem. O abraço benfiquista dado no passado recente a clubes como o Estoril, o Belenenses, a Académica, o Vitória de Guimarães, o Braga ou o Olhanense, não lhes deixou, propriamente, grandes e gratas recordações.
a abola