Sentado nas bancadas do Dragão, Julen Lopetegui olhava enfastiado, como todos os tristes 25.000 espectadores, um Porto A - Benfica B, que parecia do tempo do futebol de tamancos. Mesmo não tendo o conhecimento adquirido que os portistas têm sobre o que foi a evolução desta equipa, após se ter procedido ao seu desmantelamento paulatino sem correspondente reforço à altura, o novo treinador basco do FC Porto só podia pensar o mesmo que os adeptos: o tão cantado (e desejado por outros) fim de ciclo do FC Porto é, talvez, uma notícia exagerada, um wihsfull thinkwg que eles não conseguem disfarçar; mas o fim desta equipa, esse é evidente. Com estes, Lopetegui ou qualquer outro não chegam a porto nenhum. Se dúvidas houvesse ainda, bastava vê-los, sábado passado a jogar contra a reserva do Benfica: nem mesmo a dívida que têm para com os adeptos, a motivação do orgulho ferido ou o brio de se despedirem de uma época lastimável deixando alguma réstia de esperança aos adeptos, antes de partirem para umas longas férias, os estimulou: com raras excepções, muito raras mesmo, a equipa mostrou uma falta de qualidade, de atitude e de profissionalismo que explicam bem as razões do desastre. Aquilo não é o FC Porto, é uma caricatura dele. Mais valia ao novo treinador portista - cuja experiência, aliás, se limita aos jogadores jovens — ter ido antes assistir ao Porto-Benfica em juniores, no Olival, em que os jovens portistas derrotaram a tão celebrada equipa do Benfica, impedindo que fosse campeã e oferecendo o título de bandeja ao SC Braga.
Como tantos outros portistas, também eu queria um treinador estrangeiro. Não porque o achasse necessariamente melhor (Marco Silva ou Domingos seriam sempre apostas tentadoras), mas apenas porque queria alguém que fosse imune ao círculo viciado das jogadas dos empresários e dos interesses ocultos, que fazem com que se compre este e não aquele jogador, que jogue este e não aquele. É um mundo subterrâneo, que temos tendência a não acreditar que exista, mas que existe mesmo. Queria alguém, que vindo de fora e desconhecedor desse mundo, tivesse o pretexto ou a autoridade para lhe fazer frente. Mas como tantos outros portistas também, desconheço em absoluto quem seja Lopetegui e, obviamente, só posso ter a maior apreensão pelo facto de se tratar de um treinador sem qualquer experiência de estar à frente de uma equipa - mais ainda de uma equipa que, há pouco ainda, estava entre as 20 mais da Europa. Será, pois, nova experiência de salto sem rede, por conta e risco do presidente.
A boa notícia da contratação de Lopetegui foi o anúncio de que ele chegava ao Dragão pela mão de Jorge Mendes. Isso significava duas coisas: que vinha com um selo de qualidade, como quase todos os que Mendes representa, e também de que teria sido enterrado o contencioso entre a SAD do FC Porto e o empresário a quem o FC Porto tanto deve e que se havia afastado porque, tal como Angelino Ferreira ou António Oliveira, não esteve pactuar com o que por lá viu.
Afinal, e como aqui escreveu João Bonzinho, tal não passava de um botão falso, posto a correr com intenções estranhas: Mendes está fora da escolha e continua fora do horizonte de trabalho com a SAD do FCP. E é pena, muita pena, porque ele é, de facto, a excepção entre todos os que se proclamam empresários: não é homem de vender gato por lebre, de só querer ficar com os negócios fáceis, de cobrar comissões por jogadores comprados a custo zero e outras façanhas que tais. Jorge Mendes teve um papel determinante na formação da equipa que conquistou a Liga dos Campeões em 2004 e na que assinou uma época de sonho em 2010. E a perda dos seus serviços foi ainda mais penalizadora porque ele, afastado do FC Porto, passou a colaborar estreitamente com o Benfica. Muito se tem escrito e louvado o papel de Luís Filipe Vieira e de Jorge Jesus na ressurreição do Benfica e nesta época magnífica que está a fazer. Mas, não desfazendo nos seus méritos, espanta-me que nada se diga sobre o terceiro personagem que teve um papel decisivo nesse processo, se não mesmo o papel principal: Jorge Mendes. Muito do que é hoje a equipa do Benfica, muito do que é o plano de salvação financeira do Benfica, assenta decisivamente na capacidade de visão, de construção e de aproveitamento de oportunidades negociais por parte de Jorge Mendes. Só que há uns que gostam dos holofotes do palco e outros que se mantêm discretos, nos bastidores.
Em Novembro passado, depois de ter andado por algumas cidades brasileiras, escrevi aqui que, infelizmente, tinha as maiores dúvidas de que o Brasil viesse a estar preparado em condições para receber o Mundial. Hoje, a pouco mais de um mês do início, as minhas previsões são as de muita gente, brasileiros incluídos. Eu sei que há sempre um jeito lusitano de dar a volta às coisas à 25ª hora, e também sei que há sempre um outro jeito lusitano de ir atrasando deliberadamente as obras para, no aperto final, exigir pagamentos extraordinários para entregar a empreitada a tempo. Mas não me refiro apenas aos estádios, refiro-me a tudo o resto: aeroportos, controle aéreo, serviço de fronteiras, estradas, infraestruturas, segurança, organização. De tudo isso, nada ou quase nada está pronto, e chegou-se a um ponto em que, como dizem os brasileiros, só resta rezar. Mas tinha mesmo de ser assim?
O Mundial pode até acontecer sem acidentes nem incidentes, ser um sucesso popular e ajudar a resgatar grande parte das desconfianças que recaem sobre o Brasil. Oxalá que sim, é o que eu mais desejo, como apaixonado de há muito por esse grande, diverso, contrastante e fascinante pais. Mas há uma coisa, que, infelizmente, já sei que não vai acontecer: aproveitar a grande oportunidade que o Mundial constituía para iniciar a tarefa de reconstruir um Brasil moderno e eficiente sobre uma paisagem desgastada por décadas de laxismo e degradação. E aproveitar a oportunidade para também iniciar a imensa tarefa de transformar a paisagem social brasileira, fazendo com que a empreitada do Mundial revertesse a favor da economia das pessoas e dos mais desfavorecidos. Afinal, temo que o Brasil fique cheio de estádios inúteis, cujo custo será um encargo para os contribuintes e um grande negócio para as construtoras, e nada mais de palpável fique. Se isso acontecer, será também uma lição para FIFA, que, por interesse próprio, transformou os Mundiais num arraial de despesas sumptuárias, numa absurda competição de 32 Selecções que dura mais de um mês, e cuja organização ou é comprada por novos-ricos, como a Rússia ou o Qatar, ou arruína os países emergentes que se abalançam à sua organização, deixando para trás um rasto de dívidas escandalosas e mais injustiça social.
Pela terceira ou quarta vez, o Belenenses vai propor a sua Cidade Belenenses, nos terrenos de luxo de que dispõe no Restelo, e como forma de acrescentar receitas do imobiliário às que o desporto não lhe dá. Gosto muito do Clube de Futebol os Belenenses, mas não tanto que possa aceitar, sem indignação, a destruição de uma zona nobre de Lisboa para acorrer às crónicas dificuldades de tesouraria do clube. Convém recordar, outra vez, que o Belenenses investiu zero euros no seu estádio e terrenos circundantes. Foi-lhe tudo oferecido pela Câmara — com a condição óbvia de serem áreas destinadas à prática desportiva e nada mais. Em troca de poder usufruir em exclusivo de um dos mais belos estádios do país, numa zona luxuosa e com uma vista única, o Belenenses tem a responsabilidade para com a cidade de preservar, respeitar e dar o melhor uso ao que recebeu de nós todos. Se, porém, as suas gerências não são capazes de tirarem partido do que receberam e encontrar formas criativas de rentabilizar o clube sem ser com a receita fácil e predadora da construção imobiliária, pois então que fechem o clube e devolvam à cidade o que não souberam aproveitar.
Como tantos outros portistas, também eu queria um treinador estrangeiro. Não porque o achasse necessariamente melhor (Marco Silva ou Domingos seriam sempre apostas tentadoras), mas apenas porque queria alguém que fosse imune ao círculo viciado das jogadas dos empresários e dos interesses ocultos, que fazem com que se compre este e não aquele jogador, que jogue este e não aquele. É um mundo subterrâneo, que temos tendência a não acreditar que exista, mas que existe mesmo. Queria alguém, que vindo de fora e desconhecedor desse mundo, tivesse o pretexto ou a autoridade para lhe fazer frente. Mas como tantos outros portistas também, desconheço em absoluto quem seja Lopetegui e, obviamente, só posso ter a maior apreensão pelo facto de se tratar de um treinador sem qualquer experiência de estar à frente de uma equipa - mais ainda de uma equipa que, há pouco ainda, estava entre as 20 mais da Europa. Será, pois, nova experiência de salto sem rede, por conta e risco do presidente.
A boa notícia da contratação de Lopetegui foi o anúncio de que ele chegava ao Dragão pela mão de Jorge Mendes. Isso significava duas coisas: que vinha com um selo de qualidade, como quase todos os que Mendes representa, e também de que teria sido enterrado o contencioso entre a SAD do FC Porto e o empresário a quem o FC Porto tanto deve e que se havia afastado porque, tal como Angelino Ferreira ou António Oliveira, não esteve pactuar com o que por lá viu.
Afinal, e como aqui escreveu João Bonzinho, tal não passava de um botão falso, posto a correr com intenções estranhas: Mendes está fora da escolha e continua fora do horizonte de trabalho com a SAD do FCP. E é pena, muita pena, porque ele é, de facto, a excepção entre todos os que se proclamam empresários: não é homem de vender gato por lebre, de só querer ficar com os negócios fáceis, de cobrar comissões por jogadores comprados a custo zero e outras façanhas que tais. Jorge Mendes teve um papel determinante na formação da equipa que conquistou a Liga dos Campeões em 2004 e na que assinou uma época de sonho em 2010. E a perda dos seus serviços foi ainda mais penalizadora porque ele, afastado do FC Porto, passou a colaborar estreitamente com o Benfica. Muito se tem escrito e louvado o papel de Luís Filipe Vieira e de Jorge Jesus na ressurreição do Benfica e nesta época magnífica que está a fazer. Mas, não desfazendo nos seus méritos, espanta-me que nada se diga sobre o terceiro personagem que teve um papel decisivo nesse processo, se não mesmo o papel principal: Jorge Mendes. Muito do que é hoje a equipa do Benfica, muito do que é o plano de salvação financeira do Benfica, assenta decisivamente na capacidade de visão, de construção e de aproveitamento de oportunidades negociais por parte de Jorge Mendes. Só que há uns que gostam dos holofotes do palco e outros que se mantêm discretos, nos bastidores.
Em Novembro passado, depois de ter andado por algumas cidades brasileiras, escrevi aqui que, infelizmente, tinha as maiores dúvidas de que o Brasil viesse a estar preparado em condições para receber o Mundial. Hoje, a pouco mais de um mês do início, as minhas previsões são as de muita gente, brasileiros incluídos. Eu sei que há sempre um jeito lusitano de dar a volta às coisas à 25ª hora, e também sei que há sempre um outro jeito lusitano de ir atrasando deliberadamente as obras para, no aperto final, exigir pagamentos extraordinários para entregar a empreitada a tempo. Mas não me refiro apenas aos estádios, refiro-me a tudo o resto: aeroportos, controle aéreo, serviço de fronteiras, estradas, infraestruturas, segurança, organização. De tudo isso, nada ou quase nada está pronto, e chegou-se a um ponto em que, como dizem os brasileiros, só resta rezar. Mas tinha mesmo de ser assim?
O Mundial pode até acontecer sem acidentes nem incidentes, ser um sucesso popular e ajudar a resgatar grande parte das desconfianças que recaem sobre o Brasil. Oxalá que sim, é o que eu mais desejo, como apaixonado de há muito por esse grande, diverso, contrastante e fascinante pais. Mas há uma coisa, que, infelizmente, já sei que não vai acontecer: aproveitar a grande oportunidade que o Mundial constituía para iniciar a tarefa de reconstruir um Brasil moderno e eficiente sobre uma paisagem desgastada por décadas de laxismo e degradação. E aproveitar a oportunidade para também iniciar a imensa tarefa de transformar a paisagem social brasileira, fazendo com que a empreitada do Mundial revertesse a favor da economia das pessoas e dos mais desfavorecidos. Afinal, temo que o Brasil fique cheio de estádios inúteis, cujo custo será um encargo para os contribuintes e um grande negócio para as construtoras, e nada mais de palpável fique. Se isso acontecer, será também uma lição para FIFA, que, por interesse próprio, transformou os Mundiais num arraial de despesas sumptuárias, numa absurda competição de 32 Selecções que dura mais de um mês, e cuja organização ou é comprada por novos-ricos, como a Rússia ou o Qatar, ou arruína os países emergentes que se abalançam à sua organização, deixando para trás um rasto de dívidas escandalosas e mais injustiça social.
Pela terceira ou quarta vez, o Belenenses vai propor a sua Cidade Belenenses, nos terrenos de luxo de que dispõe no Restelo, e como forma de acrescentar receitas do imobiliário às que o desporto não lhe dá. Gosto muito do Clube de Futebol os Belenenses, mas não tanto que possa aceitar, sem indignação, a destruição de uma zona nobre de Lisboa para acorrer às crónicas dificuldades de tesouraria do clube. Convém recordar, outra vez, que o Belenenses investiu zero euros no seu estádio e terrenos circundantes. Foi-lhe tudo oferecido pela Câmara — com a condição óbvia de serem áreas destinadas à prática desportiva e nada mais. Em troca de poder usufruir em exclusivo de um dos mais belos estádios do país, numa zona luxuosa e com uma vista única, o Belenenses tem a responsabilidade para com a cidade de preservar, respeitar e dar o melhor uso ao que recebeu de nós todos. Se, porém, as suas gerências não são capazes de tirarem partido do que receberam e encontrar formas criativas de rentabilizar o clube sem ser com a receita fácil e predadora da construção imobiliária, pois então que fechem o clube e devolvam à cidade o que não souberam aproveitar.